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Publicado em 07/11/2016
A luta contra a ferrugem do café e seus devastadores efeitos nas economias da América Central tem um novo
aliado: as mutações induzidas por raios gama para melhorar a resistência da planta a essa doença.
E tudo sem afetar sua qualidade.
Embora diversas tecnologias nucleares sejam aplicadas há muito tempo para
melhorar e proteger todo tipo de cultivos, seu uso no café mal está começando.
Os pioneiros são a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que acabam de reunir em Viena especialistas
centro-americanos e do Peru para ensinar-lhes como aplicar esta inovadora tecnologia para combater a ferrugem do café.
Trata-se de uma doença produzida por um fungo - com o nome científico de Hemileia vastatrix - que ataca
principalmente as folhas da planta do café.
A técnica, conhecida como "fitotecnia" por mutações,
consiste em propagar sementes de café com raios gama e induzir mutações em seu genoma para ampliar a
variedade genética da planta e torná-la mais resistente ao fungo.
Essas mutações acontecem
de forma espontânea na natureza e também podem ser provocadas artificialmente através do cruzamento de
diferentes variedades de café - por exemplo de robusta, resistente à ferrugem do café, com a arábica,
que não o é - embora esse processo possa durar até três décadas.
O que a tecnologia
nuclear faz é acelerar esse desenvolvimento, explicou à Efe Stephan Nielen, geneticista do programa AIEA/FAO
e responsável pelo seminário realizado em Viena.
"A esperança é encontrar plantas que
mantenham as características originais de qualidade, mas que tenham uma resistência adicional", disse.
Estes experimentos para induzir e acelerar a mutação começaram em 2013 nos laboratórios que
a AIEA tem em Seibersdorf, a cerca de 50 quilômetros ao sul de Viena.
"Espero que em cinco anos tenhamos
material no terreno que possamos dizer que é resistente", declarou Nielen durante uma pausa na última sessão
do curso de duas semanas.
Seus alunos são 14 especialistas de Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras,
Nicarágua, Peru, Panamá e Jamaica. Na maioria destes países, o café é hoje o principal
produto agrícola de exportação.
Por isso, uma redução da produção
por causa da ferrugem do café significa automaticamente uma notável queda da receita em moeda estrangeira.
Nielen lembra que esta doença representa um problema muito grave para a indústria local do café
e que, como no caso de outras similares, a mudança climática provoca um aumento de sua incidência.
Apesar de reconhecer que é correto falar de modificação genética, insiste em que esta
técnica não tem nada a ver com os polêmicos transgênicos e "organismos geneticamente modificados"
(OGM).
"Nos OGM se introduz um gene estranho no cultivo, algo que não pertence a esse organismo. Na fitotecnia
por mutações é usada a composição genética do cultivo e induzidas mutações
a uma frequência maior da que ocorreria na natureza", explicou.
"Melhoramos o que já existe", resumiu
o cientista alemão, antes de lembrar também que bombardear algo com raios gama não significa torná-lo
radioativo.
Nesse aspecto insiste também Noel Arrieta Espinoza, coordenador do Programa de Melhoramento
Genético do Instituto do Café da Costa Rica e um dos participantes do seminário.
"Aqui não
estamos conversando sobre a utilização da engenharia genética como tal. Estamos basicamente realizando
uma variação que, em termos gerais, é pequena", assegurou em declarações à Efe.
"A variação acontece sobre o ordenamento do genoma para encontrar uma combinação que aumente
a resistência", explicou Arrieta.
Ele opina que mais preocupação na opinião pública
deveria despertar o uso excessivo da fumigação química nos cultivos.
Em todo caso, Arrieta
destacou que as quantidades usadas no café são muito menores que nos cereais ou nos legumes.
Lembrou
os efeitos catastróficos das últimas epidemias de ferrugem do café, que causaram a perda de 100 mil empregos
na Guatemala, uma queda de 21% das exportações na Nicarágua em 2013 e que Costa Rica teve em 2014 a pior
colheita de café em 37 anos.
Segundo Arrieta, a tecnologia nuclear pode encurtar pela metade esses prazos
de 25 ou 30 anos necessários para um programa convencional de melhoramento genético para obter uma nova variedade
de café.
Trata-se de obter e oferecer aos produtores de café uma nova variedade com resistência,
com alta qualidade de xícara, com alto vigor e alta produção também", resumiu Arrieta o objetivo.
O curso da AIEA/FAO faz parte do esforço de criar uma rede global de luta contra a ferrugem do café,
com especial foco na América Latina.
Além de AIEA e FAO, o projeto é apoiado com dinheiro
do Fundo da Opep para o Desenvolvimento Internacional.
Fonte: UOL
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