Novas cultivares auxiliam no controle de pragas e plantas daninhas na sojicultura
Publicado em 25/07/2016
Lançadas neste ano pela Embrapa e disponíveis aos produtores do Brasil Central para a safra 2016/2017,
as cultivares de soja transgênica com as tecnologias Intacta (BRS 9180IPRO) e Cultivance (BRS 8482CV) reúnem
o que há de mais avançado para o controle, respectivamente, das principais pragas da cultura e de plantas daninhas
resistentes ao herbicida glifosato. Variedades proporcionam economia e elevado potencial produtivo, que pode ultrapassar 60
sacas/ha, superior à produtividade média nacional, em torno de 50 sacas/ha.
Os materiais foram desenvolvidos em parceria com a Fundação Cerrados e a Fundação Bahia,
entidades formadas por empresas sementeiras que atuam nas regiões produtoras de soja do Cerrado. Enquanto a cultivar
BRS 9180IPRO é adaptada à região do Matopiba, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí
e Bahia, com aplicação também em Roraima e algumas regiões do Pará, a BRS 8482CV é
indicada para Mato Grosso, Goiás, Noroeste de Minas Gerais e Distrito Federal.
Pesquisador da Embrapa Cerrados (DF), André Pereira explica que o trabalho de desenvolvimento de uma cultivar
de soja leva pelo menos oito anos, desde o cruzamento inicial até o lançamento oficial do material e a disponibilização
das sementes para os produtores. "A capilaridade da parceria com as fundações constitui uma via de mão
dupla, possibilitando que os problemas do produtor sejam solucionados pela pesquisa. Os materiais que lançamos são
parte desse processo", afirma.
Adaptabilidade ao Matopiba
A cultivar Intacta BRS 9180IPRO se destaca pela rusticidade e pelo elevado potencial produtivo (acima de 70 sacas/ha),
com os benefícios das proteínas Bt e RR para o controle das principais lagartas que atacam a cultura da soja
e a resistência ao glifosato, favorecendo o manejo de plantas daninhas, além de sistema radicular que explora
o perfil do solo para buscar nutrientes e água em profundidade em períodos de veranico.
O material foi lançado no fim de maio, durante a Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães (BA),
feira de tecnologias da região do Matopiba. Uma das maiores fronteiras agrícolas do País, a região
plantou 3,58 milhões de hectares de soja e deve colher 7,56 milhões de toneladas na safra 2015/2016, segundo
estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de maio deste ano.
Nas últimas três safras, a sojicultora da região sofreu com longos e frequentes períodos de
estiagem, que reduzem a produtividade e causam graves prejuízos aos produtores. Nesta safra, eles esperavam colher
56 sacas/ha, mas acreditam numa média de apenas 35 sacas/ha. Diante do cenário adverso, a BRS 9180IPRO tem potencial
de expansão. "É um excelente material para a inserção da soja nos sistemas de produção
dessa região, com estabilidade e sistema radicular que busca perfil de solo", garante Pereira.
Além de agregar a tolerância ao herbicida glifosato, o que representa vantagem no manejo de plantas daninhas,
a cultivar BRS 9180IPRO expressa a proteína Bt, oferecendo proteção contra as principais lagartas da
cultura da soja: lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens e Rachiplusia
nu), lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens) e broca-das-axilas ou broca-dos-ponteiros (Crocidosema
aporema), além de supressão às lagartas do tipo Elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e Helicoverpa
(H. zea e H. armigera).
A cultivar é do grupo de maturidade relativa 9.1, tem hábito de crescimento determinado, com ciclo de 119
a 139 dias, além de ampla capacidade de crescimento nas diversas épocas de semeadura (preferencialmente de 1º
de outubro a 10 de dezembro). É moderadamente resistente ao acamamento.
Rusticidade comprovada
A tolerância aos períodos de estiagem foi a característica que mais chamou a atenção
da produtora Cristiane Morinaga, que testou a cultivar na fazenda em Correntina (BA). O material havia sido plantado de forma
experimental na safra 2014/2015, e já tinha se destacado por ter suportado o período de seca. Morinaga então
multiplicou as sementes no inverno e plantou 250 hectares da variedade na safra 2015/2016, que teve dois períodos de
30 dias de seca – o primeiro em fevereiro, e o segundo a partir de 26 de março, quando caiu a última chuva.
"O material não se entregou. Enquanto lavouras vizinhas estavam apresentando plantas mortas, a BRS 9180IPRO se
manteve verde durante todo o seu ciclo", diz. Neste ano, a produtividade média da fazenda foi de 47 sacas/ha, enquanto
a BRS 9180IPRO fechou acima de 50 sacas/ha, com talhões alcançando média de 58 sacas/ha. "Se não
houvesse esse período tão longo de estiagem, nossa expectativa para o material seria acima de 70 sacas/ha",
completa.
A produtora também destaca a sanidade das plantas. "Isso gerou economia tanto de inseticida, por causa da tecnologia
Bt, quanto de fungicida. Quem via o material comentava que ele não apresentava sintomas da seca", diz. Ela acredita
que a BRS 9180IPRO chegou ao mercado no momento certo. "O material foi testado num ano em que tinha tudo para provar e mostrou
que tem um encaixe bem adequado à nossa região. É rústico, estável e agrega produtividade
ao produtor, que na verdade é o que ele mais quer", afirma.
Um ensaio de competição de variedades de soja conduzido pela empresa Ide Consultoria na safra 2015/2016
com 30 materiais Intacta disponíveis no mercado comprovou o potencial da cultivar BRS 9180IPRO. A pesquisa foi realizada
em uma propriedade rural de São Desidério (BA). Todas as cultivares foram plantadas no mesmo dia e foram submetidas
ao mesmo manejo.
A nova variedade obteve a maior produtividade média, alcançando 55,9 sacas por hectare e 51,68 sacas por
hectare do material segundo colocado. O peso médio de mil sementes (PMS), atributo físico de qualidade, também
foi superior aos das demais cultivares: 131,2 gramas, contra 122,6 gramas do segundo colocado.
Comparado às seis cultivares de grupos de maturação próximos mais plantadas na região,
a BRS 9180IPRO foi a que apresentou maior rusticidade, tendo encerrado o ciclo aos 133 dias (quatro a menos que o ciclo normal)
– durante todo o ciclo, os materiais receberam 752 mm de chuvas mal distribuídas, sendo que em fevereiro, período
de enchimento de grãos, foram apenas 46 mm. As demais variedades encurtaram o ciclo entre sete e 18 dias em relação
aos ciclos normais devido ao deficit hídrico. "Dá para ver a diferença, a rusticidade do material. Ele
realmente aguenta a seca", observa Márcio Ribeiro, coordenador da pesquisa.
Área de refúgio
O pesquisador André Pereira ressalta a importância do plantio da área de refúgio para a BRS
9180IPRO e os demais materiais Intacta. "Precisamos preservar a tecnologia IPRO. Temos perdido muito rapidamente a expressão
das proteínas Bt, como ocorreu no milho", aponta. A cultivar BRS 9280RR é o material indicado pela Embrapa e
parceiros para o refúgio da BRS 9180IPRO.
O material apresenta ciclo parecido (117 a 139 dias), hábito de crescimento semiereto e outras características
semelhantes à da BRS 9180IPRO, além de baixo fator de reprodução ao nematoide Pratylenchus
brachiurus(causador de lesões nas raízes das plantas) e da recomendação para as mesmas áreas
de produção.
Tecnologia 100% brasileira
A cultura da soja é uma das que mais sofrem com a interferência das plantas daninhas, que podem causar perdas
de até 80% na produção. O controle dessas plantas é feito quase que exclusivamente pelo uso de
herbicidas, mas o uso excessivo e frequente de um mesmo produto resulta no aparecimento de plantas daninhas resistentes.
As variedades de soja do Sistema de Produção Cultivance, uma parceria entre Embrapa e Basf, chegam ao mercado
como opção para auxiliar os agricultores no manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, principal herbicida
utilizado atualmente por sojicultores. Com a tecnologia, totalmente desenvolvida no Brasil, o produtor pode rotacionar herbicidas
com diferentes mecanismos de ação para o manejo de plantas daninhas de difícil controle.
O Sistema de Produção Cultivance combina o uso de variedades de soja geneticamente modificada de alto potencial
produtivo com o uso de um herbicida de amplo espectro de ação (do grupo das imidazolinonas) para o manejo de
plantas daninhas de folhas largas e estreitas.
Primeira variedade Cultivance para o Cerrado, a BRS 8482CV foi lançada em abril, durante a feira Parecis SuperAgro,
em Campo Novo do Parecis (MT). A cultivar apresenta alto potencial produtivo (4.000 kg/ha ou mais de 66 sacas/ha) e eficiência
no controle de ervas daninhas resistentes ao glifosato, como o capim-amargoso (Digitaria insularis) e a buva (Conyza
bonariensis), principais invasoras da cultura da soja.
Além de se destacar como opção para manejo de plantas daninhas, a cultivar tem rendimento de grãos
superior aos padrões utilizados, demonstrando a mesma rusticidade e estabilidade de comportamento, características
importantes para atender à demanda dos sojicultores.
Do grupo de maturidade relativa 8.4, de ciclo médio e de crescimento semiereto, a BRS 8482CV é recomendada
para plantio antecipado. A semeadura deve ser feita preferencialmente entre 15 de outubro e 10 de novembro. Apresenta ainda
moderada resistência aos nematoides causadores de galhas Meloidogyne incognita e Meloidogyne
javanica, o que permite o uso no sistema de sucessão de culturas em regiões cujos solos apresentam histórico
de problemas com os nematoides causadores de galhas nas raízes das plantas, aumentando a sustentabilidade do sistema
agrícola.
Rotação de herbicidas
A planta invasora prejudica a cultura da soja porque compete com ela pela luz solar, pela água e pelos nutrientes.
Com isso, os grãos de soja podem sofrer redução na qualidade, no teor de óleo e na uniformidade
de maturação. Algumas plantas daninhas podem hospedar pragas, doenças e nematoides, além de dificultar
ou mesmo inviabilizar a colheita e ainda provocar maior desgaste nas colheitadeiras.
O herbicida que integra o Sistema Cultivance está registrado com o nome comercial de Soyvance® Pré.
A aplicação é feita após o plantio até o primeiro estágio de desenvolvimento da
cultura (estágio V1), na operação denominada "Plante e Aplique". Com a facilidade de manejo oferecida
pelo sistema, o controle das plantas daninhas é iniciado de forma preventiva, reduzindo a competição
inicial.
"É possível o estabelecimento da cultura antes que ocorra uma fase de matocompetição importante,
que pode prejudicar o potencial produtivo da cultura. Essa é uma das estratégias da tecnologia Cultivance",
explica o pesquisador André Pereira.
O equilíbrio entre rotação de culturas, a alternância de tecnologias e o uso de defensivos
agrícolas com mecanismos de ação diferenciados diminui a pressão de seleção de plantas
daninhas, reduzindo assim os riscos de resistência. Para promover a rotação de tecnologias de manejo de
plantas daninhas, os sojicultores devem evitar a adoção de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação
por mais de dois anos consecutivos.
Sementes
O diretor-técnico da Fundação Cerrados, Ilson Alves, explica que neste primeiro ano a quantidade
de sementes da BRS 8482CV disponíveis aos produtores ainda será pequena, cerca de seis mil a sete mil sacas.
"No início, o mercado é pequeno, mas essa quantidade dá para atender. À medida que houver divulgação
e demanda dos produtores, vamos aumentando a produção para as próximas safras", afirma.
A Sementes Cajueiro está multiplicando no Maranhão a cultivar com o objetivo de abastecer os parceiros
da Basf nas regiões produtoras de soja. Segundo o representante da empresa sementeira, Daniel Grolli, na safra 2015/2016
foram plantados 208 hectares da cultivar para atender um contrato exclusivo com a Basf e produzir sementes de categoria superior
para novos campos de semente. Na safra 2016/2017, a empresa continuará a multiplicar a cultivar, com venda exclusiva
para a Basf.
Para adquirir as cultivares BRS 9180IPRO, BRS 9280RR e BRS 8482CV, consulte a relação de empresas sementeiras
associadas às fundações:
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