Banco genético de mangaba da Embrapa recebe credenciamento oficial
Publicado em 26/01/2016
Com esse credenciamento oficial, emitido pelo
Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), órgão do MMA, o BAG
da Mangaba adquire status de referência nacional para receber amostras de mangabeiras e garantir a conservação
ex
situ (fora do lugar de origem) do patrimônio genético da fruteira, considerada uma espécie de
grande importância econômica e social para o litoral do Nordeste e Cerrado do Brasil.
O pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros
Josué Francisco da Silva Júnior, curador do banco genético da mangaba instalado em
Sergipe, explica que o reconhecimento oficial permite maior visibilidade dentro e fora do país, além de ampliar
as possibilidades de captação de recursos para manutenção e melhorias.
“Em 2016, a ideia é ampliar ainda mais o Banco com novas amostras, sobretudo dos estados de Pernambuco e
Sergipe”, adiantou o pesquisador.
Conservação
Com 253 acessos (amostras de plantas em número suficiente para representar a variação genética
de uma população) provenientes de oito estado brasileiros, o BAG da Mangaba foi implementado em 2006, e possui
grande variabilidade genética e conserva amostras de algumas populações com enorme vulnerabilidade, por
estarem situadas em áreas de intensa especulação imobiliária.
“Esse material guardado permite a sua conservação e uso em futuros trabalhos de melhoramento genético.
Tendo em vista que a mangabeira vem apresentando intensa erosão genética, a conservação no banco
permite que genes de importância não sejam perdidos”, afirma Josué.
O banco está situado numa área de restinga do campo da Embrapa. Além da área do BAG, é
de responsabilidade da curadoria a conservação
in situ(no local de origem e ocorrência da
planta) de uma área natural de mangabeira com cerca de 4,5 hectares, localizada dentro da
Reserva do Caju, a primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de âmbito federal
da Embrapa.
No Brasil, há outras coleções de mangaba, sendo algumas em Unidades da Embrapa –
Embrapa Cerrados (Planaltina, DF),
Embrapa
Amapá (Macapá, AP) e
Embrapa Meio-Norte (Teresina,
PI) – e outras em universidades e organizações estaduais de pesquisa agroepecuária, mas apenas
o banco da Embrapa Tabuleiros Costeiros adquiriu status de fiel depositário.
O processo de credenciamento é relativamente rápido, de acordo com Josué, e é feito por meio
de preenchimento de formulário, acompanhado de relatórios de descrição do banco e suas instalações
e atividades. “O documento deve ser assinado pelo curador e pelo presidente da Embrapa e encaminhado ao CGEN, que indica
dois analistas que emitem um parecer. Quando aprovado, é publicado no Diário Oficial da União pelo Ministério
do Meio Ambiente”, descreve.
Esse credenciamento concedido pelo CGEN à Embrapa Tabuleiros Costeiros se soma a outro, aprovado também
em 2015, para o Banco Ativo de Germoplasma de Jenipapo, localizado no campo de Nossa Senhora das Dores, no Médio Sertão
Sergipano, cuja curadora é a pesquisadora
Ana Veruska da Silva.
Pesquisas
O trabalho da curadoria também contempla projetos de pesquisa e desenvolvimento de conservação da
mangabeira envolvendo populações tradicionais de mulheres catadoras de mangaba em diversas regiões do
país.
Para conhecer com profundidade toda a problemática em torno da mangaba em Sergipe e no Brasil, a Embrapa Tabuleiros
Costeiros lidera, desde 2003, pesquisas com abordagens metodológicas que combinam as ciências sociais e naturais.
Em 2003 ocorreu no Brasil a primeira pesquisa sobre o extrativismo da mangaba e as catadoras no Povoado Pontal, em Indiaroba,
litoral sergipano. Os pesquisadores
Dalva Mota, da
Embrapa Amazônia
Oriental (Belém, PA), e Josué da Silva Júnior fizeram parte do projeto pioneiro.
Desde então, estudos têm sido promovidos para entender e diagnosticar profundamente a situação
das catadoras em Sergipe e outros estados, como o Pará, além de gerar conhecimentos sobre a fruta e suas potencialidades,
e a conservação dos seus recursos genéticos. O desenvolvimento de tecnologias sociais capazes de garantir
boas condições de vida e trabalho às catadoras, com apoio à mobilização do grupo,
é também foco das pesquisas da Embrapa. Os resultados de pesquisa têm ajudado os órgãos
públicos na elaboração de políticas sobre que têm beneficiado a espécie e as pessoas
que dela sobrevivem há gerações.
Os pesquisadores investiram fortemente no mapeamento de áreas e na tipologia da conservação. Paralelamente,
intensificaram o diálogo com os grupos diretamente atingidos. O resultado são pesquisas concluídas e
em andamento, publicações importantes, como o ‘
Mapa do Extrativismo da Mangaba em Sergipe‘, lançado em 2010 e com nova edição
prevista para o primeiro semestre deste ano (que servirá de base georreferenciada para a criação de uma
Reserva Extrativista – Resex – no estado), a ‘
Árvore do Conhecimento da Mangaba‘ (organização das informações
e documentos sobre a espécie para navegação e acesso em forma de teia hierarquizada, com visual semelhante
ao da copa de uma árvore), o livro ‘
A Mangabeira. As Catadoras. O Extrativismo.‘ e até a primeira dissertação do
Norte do Brasil sobre as mulheres extrativistas de mangaba.
A ex-presidente do
Movimento das Catadoras de Mangaba
(MCM), uma das entidades associativas dessa população tradicional em Sergipe, Patrícia de Jesus,
reconhece a importância do trabalho dos pesquisadores para o fortalecimento da sua luta. “A atuação
de todos tem sido fundamental para fortalecer o nosso movimento, subsidiar políticas e promover a conservação
da mangabeira”, afirmou.
A fruta
A mangaba (
Hancornia speciosa) é uma fruta nativa de sabor marcante, cuja árvore é símbolo
de Sergipe. É
cantada* em verso
e prosa e apreciada por muitos no Norte e Nordeste, e encanta pelas delícias que se pode obter com sua polpa –
geleia, licor, sorvete e suco, que nos deixa com um memorável visgo nos lábios após bebermos.
A mangabeira tem ocorrência nos estados do Cerrado, Caatinga e litoral nordestino, podendo alcançar até
10 metros de altura, com tronco áspero, ramos lisos, avermelhados, com látex branco abundante. Suas folhas são
opostas e simples. Suas belas flores alvas e saborosos frutos conferem valor ornamental à espécie, ideal para
a arborização urbana e rural.
O fato de apresentar propriedades nutritivas mais elevadas e sabor mais marcante apenas quando cai do pé (chama-se
popularmente como “mangaba de caída”), madura, confere-lhe um grande simbolismo e um status de iguaria
pelos seus apreciadores.
Mas o outro lado dessa história não é tão belo e poético assim. Para a mangaba chegar
aos consumidores, precisa ser colhida, e a realidade de quem colhe não é tão passível de celebração.
As comunidades tradicionais extrativistas, na sua maioria formadas por mulheres de baixa renda e pouca escolaridade –
autodenominadas catadoras, enfrentam grandes barreiras ao modo de vida que garante o seu sustento.
Uma situação crescente de destruição dos recursos naturais, intensificação
das indústrias imobiliária e do turismo, avanço de monoculturas, como a cana, privatização
das áreas e impedimento do acesso às plantas em locais anteriormente de entrada livre são os maiores
obstáculos.
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