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Inovações para o setor sucroenergético

Publicado em 14/07/2015

Guy de Capdeville é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa, com mestrado profissionalizante em proteção de plantas e mestrado stricto sensu em Fitopatologia pela mesma Universidade. Concluiu o PhD em Plant Pathology pela Cornell University dos EUA e o pós-doutorado pela Universidade de Wargeningen (Holanda) em Citogenética. Atualmente, vem trabalhando com caracterização molecular, citogenética e microscópica de culturas de interesse para agroenergia como o dendê, a macaúba, o pinhão-manso, o babaçu, entre outras. Foi pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia por 10 anos e, desde setembro de 2011, é pesquisador e Chefe Adjunto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Embrapa Agroenergia

  CANAL: Qual o foco da Embrapa na cultura da cana-de-açúcar?

A Embrapa vem estudando inúmeras culturas de forma a ampliar o escopo e a diversidade de matérias-primas que possam ser úteis ao setor sucroenergético. Entre elas se encontram a cana-de-açúcar, o sorgo (biomassa e sacarino), capins, arundo donax e cana gigante (para etanol de segunda geração), bem como amiláceas como o milho e a batata-doce alcooleira para a primeira geração.

No tocante à cana-de-açúcar, os trabalhos da Embrapa têm focado em ações mais voltadas ao desenvolvimento de sistemas de produção para adaptação de cultivares desenvolvidos por outras instituições, como a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa) e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a regiões como as áreas de expansão do cerrado, além das fronteiras tradicionais da região Sudeste e Nordeste. O foco, por exemplo, da Embrapa Cerrados, localizada em Planaltina (DF), tem sido dado a aspectos como a resposta de diferentes cultivares comerciais à irrigação, tendo sido possível obter produtividades de cerca de 250 ton/ha/ano, valores bem superiores aos atingidos por variedades comerciais sob regime tradicional de cultivo.

Também estão sendo desenvolvidas pesquisas pela Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Alagoas, com objetivo de definir estratégias de adubação mais eficazes e econômicas, bem como aquelas pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Agrobiologia focando o uso de agentes inoculantes capazes de fixar nitrogênio atmosférico, levando a aumentos de produtividade sem a necessidade de utilização de grandes volumes de nitrogênio na adubação.

Outra frente que tem ganhado força e promete trazer grandes impactos para o setor é o desenvolvimento pela equipe de pesquisa da Embrapa Agroenergia de plantas de cana geneticamente modificadas para expressarem resistência a estresses hídricos e a teores de alumínio elevado em solos.

CANAL: Quais as pesquisas na área de melhoramento genético?

Apesar da importância do melhoramento genético para o desenvolvimento de novos materiais contendo características diversas que interessam ao setor produtivo, o trabalho da Embrapa com melhoramento genético de cana-de-açúcar tem sido mais de apoiar programas de outras instituições como IAC e Ridesa no desenvolvimento de sistemas de produção que permitam o cultivo das diferentes variedades comerciais em regiões não tradicionais, principalmente áreas de expansão. Entretanto, em se tratando das outras culturas mencionadas anteriormente, como a cultura do sorgo, a Embrapa possui um forte programa de melhoramento genético liderado pela Embrapa Milho e Sorgo, o qual tem lançado vários materiais de diferentes espécies de sorgo com finalidades claras de utilização tanto na produção de etanol de primeira geração (sorgo sacarino) bem como de segunda geração  (sorgo biomassa). O mesmo se aplica a outras culturas que estão sendo estudadas por diferentes unidades da Embrapa. A título de exemplo, pode-se citar os trabalhos de seleção de materiais de cana-de-açúcar resistentes ao frio para uso na região sul do País, que vem sendo desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado, em parceria com a Ridesa.

CANAL: O melhoramento genético é a melhor saída para aumento da produtividade das lavouras de cana?

Sem dúvida o melhoramento genético é uma das principais estratégias para aumento de produtividade de qualquer cultura. Entretanto, o melhoramento genético por si só não permitirá grandes ganhos de produtividade se sistemas de produção adaptados às diferentes regiões onde se pode produzir cana não forem desenvolvidos para as diferentes variedades produzidas pelos principais programas de melhoramento. O fato é que, sem a integração de materiais genéticos de alta produtividade com procedimentos de cultivo eficientes e adaptados a diferentes regiões, será muito mais difícil atingir produtividades que justifiquem os investimentos na lavoura.

CANAL: Quais os desafios na obtenção de plantas mais resistentes às pragas e que tenham maior produtividade?

A obtenção de plantas mais resistentes a pragas é totalmente dependente de duas técnicas principais: o melhoramento genético e a transformação genética. Para que ambas as estratégias possam produzir plantas que tenham elevado potencial produtivo e que sejam resistentes a pragas e doenças, é necessário que se obtenham materiais que apresentem a característica de resistência a ser transferida para outro material que apresente potencial produtivo, no caso do melhoramento genético.

No caso da transformação genética, é preciso que se tenha identificados e selecionados genes de resistência a uma dada praga ou doença para que os mesmos sejam introduzidos por técnicas de engenharia genética em materiais com elevada produtividade, de forma que estes passem a apresentar, além da elevada produtividade, resistência às pragas que se objetiva controlar, como é o caso de estudos realizados por outras unidades da Embrapa para cana e outras culturas.

CANAL: Os investimentos na área de pesquisa no setor têm sido suficientes?

Nos últimos anos, tem havido consideráveis investimentos em pesquisas na área pelos Governos Federal e Estaduais. O volume de recursos investidos por meio de agências como a Finep Inovação e Pesquisa, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e outras agências estaduais, bem como pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio dos fundos como o Fundo Tecnológico (Funtec), entre outros, tem sido considerável. Entretanto é fundamental que o setor produtivo também esteja disposto a investir em ciência e tecnologia para garantir os avanços científicos tão desejados pelo setor privado. As Parcerias Público Privadas já são uma realidade, mas o que precisamos é ampliá-las e reduzir a carga burocrática para o estabelecimento destas parcerias, principalmente do lado público.

CANAL: Quais os principais gargalos do setor sucroenergético no que se refere a pesquisa?

O setor sucroenergético possui gargalos em três vertentes principais: agrícola, industrial e transversal. Em função destes gargalos, a Embrapa instituiu um portfólio de pesquisa, desenvolvimento e inovação que tem por objetivo integrar e direcionar suas ações de pesquisa voltadas a esse segmento.

Somente a título de exemplo, na vertente agrícola, podemos citar os seguintes desafios: i) considerando a baixa taxa de renovação dos canaviais e a dificuldade em se aumentar produtividade, tem havido uma tendência de ampliação do cultivo para novas áreas não apropriadas ao cultivo, inclusive com solos pobres. ii) há necessidade de se desenvolver sistemas de produção de cana-de-açúcar com plantio direto, com menor distúrbio do solo, melhor ambiente edáfico para desenvolvimento das plantas, menores riscos ambientais, além de menor custo de produção; iii) necessidade de desenvolver sistemas de produção mais verticalizados e sustentáveis, como o sistema de produção de cana irrigada e identificar onde recursos hídricos estão disponíveis para seu uso sustentável; iv) necessidade de levantamento, caracterização e adoção de novas fontes de biomassas para disponibilizar alternativas para o período de entressafra; v) necessidade de desenvolver ou adaptar máquinas e aprimorar a logística de suporte a colheita para aumentar o desempenho operacional e, consequentemente, aumento da longevidade das áreas de cultivo. Outro desafio é que as indústrias produtoras de implementos agrícolas desenvolvam equipamentos que se adequem melhor aos espaçamentos e arranjo de plantas demandados pelas novas variedades de cana.

Na vertente industrial podemos citar: i) custos logísticos elevados para acesso e armazenamento de biomassas seja para cogeração ou para etanol de segunda geração e para distribuição dos produtos de refino; ii) as usinas atuais ficam ociosas durante um longo período de entressafra, elevando os custos de produção. É necessário que desenvolvamos pesquisas para garantir que as usinas possam atuar na lógica de biorrefinarias, permitindo a utilização de múltiplas matérias-primas na entrada e a produção de múltiplos produtos na saída (químicos, combustíveis, novos materiais, etc.). Isto aumentaria consideravelmente o sucesso e a viabilidade econômica das usinas; iii) Há muitos desafios tecnológicos ainda por serem vencidos, incluindo plantio e colheita mecanizada que sejam eficientes e economicamente viáveis, usinas muito antigas e com equipamentos obsoletos; iv) desenvolvimento e/ou adaptação de novos processos de conversão para as novas culturas-foco do setor sucroenergético.

No tocante à vertente transversal, os desafios são: i) uso de padrões internacionais para descrição de desempenho econômico e ambiental do setor sem considerar a nossa realidade, o que demandará estudos de diferentes naturezas, como, por exemplo, de análise de ciclo de vida dos processos e tecnologias utilizadas pelo setor; ii) necessidade de conhecer mais profundamente o impacto de emissões e estratégias de mitigação para a inserção do setor no mercado internacional; iii) inexistência de trabalhos na área de impactos sociais da produção sucroenergética; O conhecimento mais profundo dos desafios existentes em cada uma dessas vertentes e o desenvolvimento de pesquisas que possam trazer soluções para as questões levantadas torna-se fundamental para garantir sustentabilidade e viabilidade econômico, social e ambiental para o setor.

  A produção de bioetanol é viável economicamente?

Sim, a produção de bioetanol é uma realidade hoje e, somente a título de exemplo, podemos citar as usinas de etanol de segunda geração, que utilizam resíduos lignocelulósicos (bagaço, palha, etc.) para a produção de etanol, como é o caso da usina da Granbio no município alagoano de São Miguel dos Campos. A produção de etanol de primeira geração em si já é uma produção de bioetanol, pois o mesmo é produzido a partir de materiais biológicos como a cana, o sorgo, etc., mas pesquisas estão sendo desenvolvidas para ampliar o escopo de resíduos lignocelulósicos que poderão ser utilizados na produção de bioetanol. Nestes casos, a viabilidade econômica será atingida pelo desenvolvimento de novos processos de fracionamento destas biomassas, bem como dos aspectos logísticos relativos ao armazenamento, processamento e distribuição dos produtos destas usinas.

 Fonte: Canal-Jornal da Bioenergia

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