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Publicado em 23/03/2015
A fruticultura brasileira ocupa posição de destaque no cenário internacional em diversos cultivos, tanto na expressividade das exportações (quantidade e divisas para o país), bem como nas tecnologias até então desenvolvidas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Fruticultura (SBF), o Brasil é desde os anos 70 o maior exportador mundial de suco de laranja e também se destaca como o maior produtor mundial de mamão e segundo maior de banana (atrás apenas da Índia), ocupando ao final a 9ª posição no ranking de exportadores mundiais de frutas, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Por esse motivo, qualquer ameaça à produção nacional de frutas deve ser considerada como um alerta importante para os produtores. É que o pensa o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Marcelo Lopes da Silva, autor do artigo "Fruticultura sob ameaça", publicado na edição de março de 2015 da Revista da Fruta.
No texto, Lopes ressalta que a entrada de pragas inexistentes no Brasil é uma ameaça particularmente preocupante
para o setor de produção de frutas, uma vez que a defesa fitossanitária no setor apresenta dois gargalos
principais: a restrição ao uso de agrotóxicos por questões de segurança alimentar e a falta
de alternativas de controle biológico disponíveis no mercado. "Mais de uma centena de pragas quarentenárias,
reconhecidas de maneira oficial como ameaças à agricultura brasileira, já está nos países
sul-americanos. Esta situação é particularmente preocupante para o setor de produção de
frutas", afirma o pesquisador. Por fim, as práticas para contenção de pragas quarentenárias consomem
recursos financeiros e impactam nas economias locais. "Se estas práticas não forem eficientes no seu objetivo,
o investimento nelas passará a ser contabilizado como prejuízo", diz Lopes.
O pesquisador destaca
o aparecimento de duas pragas preocupantes em 2014: a mosca Drosófila-das-asas-manchadas (Drosophila suzukii) e o besouro
Bicudo-da-acerola (Anthonomus tomentosus) parente próximo do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis). A mosca foi
detectada pela primeira vez no Brasil em janeiro de 2014, em uma plantação de morangos na cidade de Vacaria
(RS). Já o besouro foi achado nas plantações de acerola do estado de Roraima, principalmente nos municípios
de Boa Vista, Mucajaí e Pacaraima, declarados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) como zonas interditadas para o trânsito de frutos frescos de acerola. Segundo Marcelo, a espécie de mosca
drosófila já era uma ameaça previsível, pois está se disseminando naturalmente pelo mundo
com uma rapidez incomum. Esta praga está sob monitoramento pelo MAPA e Embrapa. "É muito difícil impedir
a propagação dessa mosca, visto que ela se propaga naturalmente por voo a longas distâncias. A notícia
boa é que a sua distribuição é dependente do clima e o clima tropical predominante no Brasil pode
ser algo que impeça a disseminação dessa praga", diz o pesquisador. Já o Bicudo-da-acerola era,
de acordo com o pesquisador, "praticamente um desconhecido", o que causou surpresa aos órgãos de defesa sanitária
vegetal.
Outro passo importante no Brasil para assegurar a qualidade das frutas é a elaboração
do "Programa Nacional de Combate às Moscas-das-Frutas" que vai integrar as iniciativas já existentes para o
controle, a erradicação e a vigilância de diversas espécies de mosca das frutas e incentivar novas
estratégias. A ideia do programa, que deve ser oficialmente lançado até o final do mês de junho,
é elevar a qualidade da produção nacional e ampliar os mercados exportadores para as frutas nacionais.
O Diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do MAPA, Luís Rangel, afirma que os eixos básicos do
programa serão divididos em três grandes áreas: a pesquisa agropecuária feita pela Embrapa e pelas
universidades; a extensão rural para levar o conhecimento científico ao agricultor e o incremento da defesa
agropecuária, por meio das ações de vigilância e monitoramento e da certificação
fitossanitária, a fim de garantir que a Mosca da Fruta não seja uma barreira à exportação
brasileira de frutas.
Arranjo SANIFRUT reunirá pesquisas na área de sanidade vegetal de espécies frutíferas
Ao mesmo tempo em que os problemas com pragas na fruticultura são grandes, a oportunidade de pesquisas direcionadas
para as soluções são muitas. Na Embrapa, foi criado recentemente o Arranjo "Sanifrut – Soluções
Tecnológicas para os Grandes Desafios Fitossanitários da Fruticultura Tropical", cujo objetivo principal será
buscar soluções para os problemas de pragas da fruticultura. O Arranjo é liderado pelo pesquisador da
Embrapa Mandioca e Fruticultura Dr. Francisco Laranjeira e tem o pesquisador Marcelo Lopes como representante da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia. Segundo Lopes, "a criação do Sanifrut representará uma maior aproximação
da pesquisa da Embrapa com os temas urgentes da fruticultura tropical".
Outros 13 arranjos no Sistema Embrapa de Gestão (SEG) visam melhorar a produção de frutas nacionais.
São eles:
- ArranjoHLB - que busca encontrar soluções inovadoras para a superação
da doença Huanglongbing (HLB, exgreening) dos citros;
- BRS Vitis – voltado à busca de novas cultivares
para a vitivinicultura brasileira;
- DIVIFRUTSA – voltado à diversificação da fruticultura
irrigada no Semiárido;
- InovaFruti - cujo foco é a busca de inovações tecnológicas
para a produção sustentável de pequenas frutas;
- MANGASA - que visa o fortalecimento do agronegócio
da mangicultura (produção de mangas) no Semiárido;
- Moscafrut - cujo objetivo é encontrar
soluções para o manejo sustentável de Moscas-das-Frutas no Brasil;
- PRUNUS - que visa a criação
de tecnologias para o incremento da competitividade da cadeia produtiva de frutas de caroço no Sul e Sudeste do Brasil;
- QualiMamão - voltado à produção de mamão com qualidade e sem degradação
ambiental;
- REDEPOMI - voltado à criação de tecnologias para a sustentabilidade das cadeias produtivas
da maçã e da pera no Sul do Brasil;
- Sisnativa - voltado ao desenvolvimento de tecnologias para o cultivo
sustentável de espécies frutíferas nativas da Amazônia;
- Sustcaju - voltado à sustentabilidade
da cadeia produtiva do cajueiro;
- UVAtrop – voltado à busca de inovações e melhoria da competitividade
da vitivinicultura no Semiárido;
- ValoraFrut – para a prospecção em germoplasma de fruteiras
e desenvolvimento de novos produtos.
Invasão de pragas é problema mundial
O problema da invasão de pragas é, segundo Lopes, mundial. Um estudo publicado pela Universidade de Exter (Inglaterra) demonstra que um número cada vez maior de espécies invadem novas áreas no mundo. "É uma espécie de bioglobalização indesejável", diz o pesquisador, acrescentando que o fenômeno começa a se concentrar especialmente em países com grandes áreas agrícolas nos trópicos. Por esse motivo, Lopes defende uma priorização da defesa da nossa agricultura, o que deve incluir o conhecimento prévio dos principais inimigos da agricultura brasileira e ações de monitoramento constantes para evitar o aparecimento de pragas imprevistas e dar respostas rápidas às pragas invasoras. "A ciência não tem bola de cristal e risco avaliado não é previsão certeira. O desafio imposto pelas pragas invasoras é grande, mas temos que enfrentá-lo se quisermos continuar a produzir alimentos de forma segura no futuro".
Fonte: EMBRAPA
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