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Cientistas utilizam engenharia genética para obter variedade de cana tolerante à seca

Publicado em 01/12/2014

O longo e severo período de estiagem pelo qual passou a região Centro-Sul do Brasil também afetou, e muito, a área rural. Houve quebra de safra em várias culturas, entre elas a cana-de-açúcar, matéria-prima para o principal biocombustível produzido e consumido no Brasil – o etanol. Não era para menos – a necessidade de água nas lavouras é tanta que a agricultura é responsável por cerca de 70% do consumo desse recurso natural.

Para minimizar o impacto da menor disponibilidade hídrica na produção de cana-de-açúcar, a Embrapa Agroenergia está utilizando estratégias de engenharia genética para obter uma variedade geneticamente modificada tolerante à seca. A pesquisa já passou por testes em laboratório e casa de vegetação. Para os experimentos em campo, a Embrapa Agroenergia conta com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Em janeiro deste ano, os dez materiais mais promissores foram plantados em Piracicaba/SP, em área do CTC, para multiplicação. Agora, estão sendo solicitadas autorizações da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para realizar testes em dois campos experimentais: um na região Centro-Oeste e outro na região Sul.

A pesquisa começou em 2008 e tem como parceiro o Centro Internacional de Pesquisas para Ciências Agrárias do Japão (Japan Internacional Research Center for Agricultural Sciences - JIRCAS), instituição que detém a patente do gene utilizado na transformação genética de cana. O pesquisador que coordena o trabalho, Hugo Bruno Correa Molinari, explica que a tolerância à seca é, se não a primeira, a segunda característica de maior importância para cana. “O setor sucroenergético precisa de variedades mais tolerantes à seca, até porque as novas áreas de expansão da cultura têm problemas de estiagem prolongada ou chuvas irregulares”, comenta.

Complexidade

O problema é que tolerância à seca é uma característica complexa de ser trabalhada em plantas, uma vez que envolve grande número de genes e mecanismos fisiológicos. Tanto é que, atualmente, no mundo todo, só estão disponíveis para os agricultores duas variedades transgênicas de culturas agrícolas tolerantes à seca: uma de milho, desenvolvida pela Monsanto, e outra de cana, disponível na Indonésia, por meio de uma parceria entre a PT Perkebunan Nusantara XI, a Universidade de Jember e a Ajinomoto. A revista Nature Biotechnology listou recentemente outros oito projetos de pesquisa em fase avançada de desenvolvimento com esse objetivo, entre eles o da Embrapa em parceria com o Jircas, que inclui a transformação genética de outras culturas além da cana.

Justamente por causa da complexidade da tolerância à seca, os pesquisadores da Embrapa utilizam um gene que codifica proteínas reguladoras de diversos outros genes. “Como é muito complexo, eu tenho que ativar vários mecanismos que façam a plantar utilizar mais eficientemente o recurso água”, detalha Molinari. Por isso, a equipe utiliza a estratégia de engenharia genética de trabalhar com um “gene que controla outros genes”.

As avaliações em casa de vegetação indicam que os materiais transformados não só ganharam tolerância à seca, mas também apresentaram aumento no teor de sacarose e da taxa de brotação, além de resistência a herbicida. No entanto, ainda são necessários os testes em condições reais de campo, previstos para começar em 2016, para que os pesquisadores possam comprovar os resultados.

Fonte: Página Sustentável

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