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Publicado em 19/08/2014
A revolução que já está acontecendo no campo amplia a área de atuação da agricultura e a coloca no centro de um sistema que produz, além de alimentos, energias renováveis, biomassa, compostos medicinais e também preserva a água. “Estamos acostumados a ver agricultura de forma reducionista, mas o futuro aponta para a multifuncionalidade”. A avaliação é do presidente da Embrapa, Maurício Lopes, que participou do seminário Biotecnologia e Inovação, realizado na cidade de São Paulo, com apoio do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB). Edvaldo Velini, Presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), também presente no encontro, destacou que o País dobrou sua produção agrícola nos últimos sete anos exatamente porque desenvolveu e utilizou tecnologias a tempo. “O grande objetivo é avançar com segurança em um cenário em que a biotecnologia assume papel cada vez mais relevante”, afirma.
Dirigido à área acadêmica, política, jurídica e empresarial, o seminário reuniu mais de 350 profissionais para discutir novas aplicações da engenharia genética, seus desafios regulatórios e formas de incentivo à inovação. Contribuíram com as discussões o fundador do Programa de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade da Califórnia – Los Angeles (UCLA), Gregory Stock, e o pesquisador do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), Nicola Cenacchi. De acordo com Stock, a ciência aliada às novas tecnologias irá revolucionar muitos campos, a exemplo da medicina, no curto prazo. “A transformação e adaptação de materiais sintéticos em biológicos é só o começo do que podemos fazer”, disse ele.
Já Nicola Cenacchi, especialista em análise do meio ambiente e tecnologia de produção, defendeu que somente investindo em tecnologia será possível garantir a segurança alimentar em um cenário de crescimento populacional e de mudanças climáticas. Para o pesquisador do IFPRI, o aquecimento global e seus impactos na agricultura exigirão conhecimentos e práticas que ainda estão somente nos centros de pesquisa. Suas aplicações terão não só impacto agronômico, mas também social e econômico. “A tecnologia influenciará a produção, a preservação do meio ambiente, o preço dos alimentos e a capacidade de negociação entre países e continentes”, afirmou.
Da pesquisa ao mercado
Primeiro passo do desenvolvimento tecnológico, a pesquisa científica foi tema da palestra Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Segundo ele, a sintonia entre pesquisa acadêmica e desenvolvimento de produtos está cada vez mais forte em São Paulo. Atualmente, quase dois terços dos gastos em investigação e desenvolvimento de novas técnicas no Estado vêm de empresas que buscam nas universidades as inovações que irão para o mercado. A entidade tem papel fundamental nessa interlocução.
No entanto, entre os gargalos para o desenvolvimento da pesquisa, está a burocracia na obtenção de patentes. A morosidade para conseguir patentear uma tecnologia atinge principalmente o autor da descoberta e os centros de pesquisa que dependem dessa concessão para garantir a viabilidade do seu negócio. “Hoje um dos desafios da biotecnologia refere-se à quantidade de projetos que não se concretizam devido à demora na concessão de patentes”, afirma o membro da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI), Luiz Henrique do Amaral. Para ele, a solução passa pelo aparelhamento dos órgãos responsáveis.
Outro importante fator que influencia o investimento em tecnologia é a existência de mercados importadores. Neste caso, a assincronia na regulamentação internacional sobre a comercialização de organismos geneticamente modificados (OGM) pode se tornar um obstáculo, acarretando em prejuízos à cadeia produtiva. O alerta foi do chefe da Divisão de Agricultura e Produtos de Base do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Orlando Ribeiro. “Precisamos enfrentar esses desafios para não corrermos o risco de haver interrupções indesejadas nas exportações”, afirmou.
Benefícios e segurança
No encerramento do seminário Biotecnologia e Inovação, o médico cancerologista Dráuzio Varella falou sobre as dificuldades e necessidade de se explicar a ciência. Segundo o especialista, o diálogo entre academia e sociedade evita a disseminação de mitos sobre os transgênicos. “Do ponto de vista científico, a segurança dos transgênicos está comprovada”, afirma. “Provar que sardinha enlatada faz mal é fácil; basta saber se quem comeu ficou doente (estudo positivo). Agora, provar que não faz mal (estudo negativo) é outra história. Quantos precisarão comê-la? Milhares ou milhões? Deverão ser acompanhados por quantos anos? Isso não faz sentido”, provocou.
Fato é que as técnicas de modificação genética estão cada vez mais presentes na vida das pessoas. Adriana Brondani, diretora-executiva do CIB, lembra que a engenharia genética traz benefícios diretos para a sociedade, pois gera produtos que auxiliam no combate a doenças, aumentam a produtividade agrícola, melhoram as propriedades nutricionais dos alimentos e contribuem para a redução de impactos ambientais. “O seminário Biotecnologia e Inovação foi mais uma forma de disseminar conhecimentos e promover o diálogo sobre os avanços da ciência”, concluiu.
Mais informações sobre essas discussões, incluindo textos, imagens e vídeos, estão disponíveis no link Biotecnologia e Inovação.
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