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Publicado em 30/04/2013
As pesquisas estão bastante adiantadas, disponibilizando novas variedades, mais
resistentes às doenças e à seca. O sistema produtivo, no entanto, ainda reage com lentidão às
novidades, de acordo com Marcos Antonio Machado,
coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Genômica para o Melhoramento de Citros (INCT-Citros), apoiado pela Fapesp e
pelo CNPq.
"Nossos produtores atendem prioritariamente à indústria de sucos e a indústria
está mais interessada em quantidade de fruta do que em qualidade", disse o pesquisador Marcos Antonio Machado do Centro de Citricultura Sylvio Moreira do Instituto Agronômico (IAC), ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta)
da Secretaria
de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA).
Em entrevista à Agência Fapesp,
Machado destacou os principais avanços registrados pela pesquisa na área nos últimos anos.
"O Consórcio Internacional do Genoma de Citros, do qual participamos, já
obteve o genoma completo da clementina (Citros clementina), utilizado como genoma de referência para comparação
com os genomas de outras espécies de citros, entre elas, a laranja-pera, a mais importante variedade de laranja brasileira,
a tangerina ponkan e o limão-cravo, também utilizado como porta-enxerto. O INCT-Citros detém atualmente uma das mais importantes bases de dados sobre
o genoma de citros", disse.
No estudo dos patógenos das doenças
que afetam os citros, os avanços não têm sido menores. Depois dos sequenciamentos históricos dos
genomas das bactérias Xylella fastidiosa (responsável pela clorose variegada dos citros) e Xanthomonas
citri subsp. citri(responsável pelo cancro cítrico), concluídos no início dos anos 2000 com
apoio da Fapesp, outros patógenos de citros estão
sendo sequenciados, como os fungos causadores da pinta preta, da mancha marrom de alternaria e da queda prematura dos frutos,
além do oomiceto causador da gomose.
"Nesses casos, graças aos
avanços ocorridos na genômica, estamos não somente montando esses genomas, mas também avaliando
a função de genes envolvidos na interação com as plantas hospedeiras", disse Machado, um dos pesquisadores
do programa Genoma-Fapesp Xylella fastidiosa.
Segundo o pesquisador, essas e outras aquisições criaram uma massa crítica
de conhecimentos capaz de favorecer tanto a cisgenia (transformação com genes de espécies próximas)
como o melhoramento tradicional.
"A
produção de citros transgênicos já é científica e tecnologicamente viável,
mas depende de regulamentação. Ao mesmo tempo, os mapas genéticos que levantamos permitem identificar
genes marcadores com os quais podemos calibrar a seleção genética tradicional, de forma que os genótipos
selecionados correspondam precisamente aos fenótipos de interesse", disse.
Nivelamento por baixo
Machado explica que novas potenciais variedades de copas e porta-enxertos com alta tolerância à seca e a doenças
como clorose variegada dos citros, gomose, cancro cítrico e pinta preta já estão disponíveis.
Mas, por uma característica do setor, o processo de incorporação tecnológica pelos produtores
se dá muito lentamente. "Daqui a algum tempo, todos correrão atrás dessas variedades melhoradas, assim
como hoje recorrem maciçamente a espécies selecionadas décadas atrás."
Maior produtor de laranja e exportador de suco, responsável por atender 53% do consumo mundial, o Brasil
ainda não possui, na opinião dos especialistas, uma citricultura satisfatória. O rendimento das plantações
é considerado muito baixo, com produtividade média de apenas duas caixas de 40,8 kg por árvore ao ano.
Os grandes gargalos são, pela ordem, a alta incidência de pragas e doenças,
a produção em áreas não irrigadas e a estreita base genética utilizada. "Estima-se que
mais de 60% dos custos de produção sejam direcionados para o controle de pragas e doenças", disse Machado.
Entre as principais doenças, destacam-se a clorose variegada dos citros, a leprose,
a pinta preta, a mancha marrom de alternaria, a morte súbita, o cancro cítrico, a gomose, a tristeza e, mais
recentemente, o huanglongbing, ou greening.
"A
maior parte dos modelos de manejo desses patógenos e de alguns vetores, incluindo o controle químico por meio
de defensivos, falhou, devido aos altos impactos econômicos e ambientais", afirmou o pesquisador, enfatizando
que isso faz aumentar ainda mais a importância de estudos sobre melhoramento genético tradicional e cisgenia,
como estratégias poderosas e duradouras para o controle de doenças.
Por isso, o INCT- Citros se organizou em três
plataformas diferentes, mas complementares: a plataforma voltada à geração de informações
genômicas (genomas completos, transcriptomas e proteomas); a plataforma voltada à aplicação de
parte dessas informações genômicas no melhor entendimento da relação entre os citros e seus
patógenos; e a plataforma voltada à aplicação dessas informações genômicas
no melhoramento tradicional.
Diferentemente da citricultura europeia, que se
dedica à produção de frutos de alta qualidade para o consumo in natura, em um mercado exigente, a citricultura
brasileira ocupa-se majoritariamente do fornecimento de matérias-primas para a indústria de sucos.
Essa destinação dos produtos, que, por si só, nivela a qualidade por
baixo, associa-se à pulverização da produção -- só no Estado de São Paulo,
líder do setor, existem de 8 mil a 9 mil produtores. E esses dois fatores explicam a lentidão do processo de
incorporação tecnológica.
"Não basta ter bons materiais.
É preciso trabalhar também por sua difusão e adoção, o que pode ser favorecido por políticas
governamentais de informação e convencimento", disse Machado.
Fonte: Agência Fapesp
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