Publicado em 17/09/2014
Fonte: Alan Ohnsman e Brian Womack para Bloomberg/EXAME
O Google, com sua visão de um futuro em que os carros andam sozinhos, está se opondo à indústria automotiva, que compartilha seu desejo por ruas mais seguras e menos congestionadas, mas não apoiará a parte “sem motorista”. O confronto coloca a gigante da internet, pública há apenas uma década, contra empresas que passaram um século construindo máquinas que colocam pessoas atrás do volante dos automóveis.
Enquanto o Google trabalha para aperfeiçoar um sistema em laboratórios de pesquisa e em testes de pista para minimizar o envolvimento dos motoristas, as fabricantes de veículos investem bilhões de dólares por ano em publicidade para fazer o oposto. Pense na BMW e na sua reivindicação de que faz a máquina definitiva para dirigir ou na Volkswagen e seu discurso de vendas Drivers Wanted (“Precisa-se de Motoristas”, em tradução livre). As diferenças são mais do que filosóficas.
O Google está apoiando os principais talentos e pesquisas, impulsionado por um valor no mercado de ações de quase US$ 400 bilhões, que ultrapassa o da Toyota Motor, da Volkswagen e da General Motors combinados. A empresa também está mantendo um controle rígido sobre seus dados de mapas e potenciais planos de marketing para os carros. Ao mesmo tempo, está ajudando a criar o que muitos na indústria automotiva consideram que são expectativas irrealistas a respeito de quão rapidamente os carros poderão se tornar, de forma segura, totalmente autônomos.
“Aí há claramente algum tipo de tensão”, disse Richard Wallace, diretor de análise de sistemas de transporte do Centro de Pesquisa Automotiva, em Ann Arbor, Michigan. As vistosas exibições de tecnologia do Google “levam a um aumento das expectativas que é provavelmente irrealista em alguns aspectos”, disse ele.
O distanciamento do Google ficou claro no Congresso Mundial de Sistemas Inteligentes de Transporte na semana passada em Detroit. O gigante das buscas online teve uma presença mínima no evento anual em que as fabricantes de veículos discutem os padrões para a tecnologia que manteria o motorista no centro de tudo isso.
Entre os avanços que as fabricantes de veículos anunciaram na conferência em Detroit estava o sistema “Super Cruise” da GM para os Cadillacs 2017, que permitirão que os motoristas tirem as mãos do volante e os pés dos pedais por alguns períodos quando estiverem dirigindo em uma rodovia. Assim como a tecnologia que está sendo desenvolvida pela Toyota, pela Honda Motor e por outras empresas, o sistema da GM passa o controle de lá para cá entre motorista e veículo.
A abordagem que o Google, que tem sede em Mountain View, Califórnia, está adotando é, literalmente, muito mais sem as mãos. Em maio, a empresa divulgou planos para fabricar pelo menos 100 carros de teste totalmente autônomos, de dois assentos, com forma de ovo, velocidade máxima de 40 quilômetros por hora e sem volante. Depois, o Google disse que incluirá um volante, além de pedais de freio e acelerador, como exige o estado da Califórnia.
‘Margem baixa’
Produzir seus próprios veículos “seria bobagem”, disse Egil Juliussen, diretor de pesquisa para sistemas avançados de condução da IHS Automotive. “A indústria automotiva é um negócio de margem baixa. As melhores empresas obtêm uma margem de lucro de 10 por cento”, disse ele. “Por que eles iriam querer entrar no negócio, mesmo se a receita puder ser tremendamente alta?”.
O Google preferiu não comentar as críticas do setor ou se seu programa de direção autônoma irá evoluir. Sergey Brin, um dos fundadores da empresa, disse em maio na conferência Re/code, em Palos Verdes, Califórnia, que a empresa “no futuro trabalhará com parceiros, entre eles empresas automotivas”, sem dar detalhes.
Os esforços das fabricantes de veículos para encontrar talentos no segmento de software também estão sendo afetados pela velocidade do Google para contratar, disse Ken Koibuchi, gerente-geral de desenvolvimento de veículos inteligentes da Toyota. “A visão computacional ou a inteligência artificial são necessárias e esse tipo de tecnologia não é familiar para nós atualmente, por isso temos que contratar novas pessoas”, disse ele. “Contratar novas pessoas em cada área é mais difícil”.
Envie para um amigo