Publicado em 28/04/2015
Fonte: Automotive Business
A discussão quanto ao Inovar-Auto vai de encontro com a Varável 6 - "Governo: Política industrial para o setor”, do estudo que rege o trabalho do Setor Automotivo – Observatórios. Atualmente, a temática está presente no Grupo de Trabalho “Cadeia de fornecedores do Setor Automotivo - RMC”, que busca o adensamento e aproximação de elos da Cadeia na RMC. Enquanto o Grupo de Trabalho “Graduação em Engenharia Automotiva”, pretende articular junto à UFPR, a implantação da primeira Graduação no país, utilizando incentivos da política do Inovar-Auto para Pesquisa & Desenvolvimento, na tentativa de desenvolver parcerias entre indústrias e Universidades.
A problemática
Enquanto administra a severa redução do ritmo de vendas, o setor automotivo terá de focar em um segundo desafio: o Inovar-Auto. Apesar de o regime automotivo estar em vigor desde 2013, nem todas as montadoras estão com a estratégia definida para atender às exigências do programa, segundo Valter Pieracciani, sócio-diretor da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas. “A eficiência energética será o grande pesadelo da indústria nos próximos 12 a 16 meses”, aponta o consultor. Ele se refere ao prazo que as montadoras têm para fazer os ajustes necessários antes de apresentar os resultados ao governo, o que deve acontecer até novembro de 2016.
Segundo ele, enquanto algumas empresas se prepararam, desenvolvendo tecnologias e modelos capazes de atender a meta de melhorar em, no mínimo, 12% a eficiência energética de seus veículos vendidos no País, outras permaneceram estáticas, esperando que a legislação fracassasse. “As multas para quem não cumprir os objetivos serão pesadíssimas e vai ficar difícil escapar. As companhias que não levaram o programa a sério terão de fazer agora o que deveriam ter feito antes”, alerta Pieracciani. Cálculo feito por Automotive Business mostra que pode passar de R$ 8 mil por carro vendido o encargo para a fabricante que descumprir as exigências de consumo e emissões do Inovar-Auto (leia aqui).
O consultor estima que, para uma montadora que se instalou recentemente no Brasil e deve vender localmente 200 mil veículos nos quatro anos de vigência do programa do governo, as multas podem chegar à casa dos R$ 2 bilhões caso a empresa não dê atenção ao compromisso com a eficiência energética. “Muitas empresas provavelmente vão chorar nos ombros do governo lá na frente”, lamenta Pieracciani.
Portaria nº 74
Ele acredita que até mesmo as fabricantes mais atrasadas ainda têm a chance de conquistar melhorias antes de apresentar os resultados ao governo. O consultor recomenda que empresas nesta situação recorram às possibilidades apresentadas na Portaria nª 74 de 26 de março. A regulamentação traz incentivo ao uso de tecnologias que ajudem a reduzir o consumo, como o start-stop, o indicador de troca de marcha, mecanismo de monitoramento da pressão dos pneus e o sistema de controle da grade frontal, que desvia o fluxo de ar e melhora o arrasto aerodinâmico do carro. Quem usar algumas dessas soluções poderá ganhar bônus, na forma de frações de megajoule por quilômetro que poderão ser descontadas do teste padrão de consumo energético.
Além destes dispositivos, tanto montadoras quanto fabricantes de autopeças podem apresentar novas soluções ao governo, que submeterá a novidades a testes e poderá oferecer incentivo ao uso da tecnologia nos veículos. Além de possivelmente contribuir para resultados melhores nas medições de eficiência energética em laboratório, os carros equipados com estes sistemas terão desconto adicional nos resultados dos testes de eficiência energética. Para isso, no entanto, o governo exige que a tecnologia seja oferecida como item de série no carro. Modelos equipados com motores flexíveis também largam com pequena vantagem na eficiência energética, com bônus nos resultados dos testes.
Outro recurso que terá o poder de aumentar a eficiência energética da frota das montadoras são os carros com propulsão alternativa. A venda de modelos híbridos, híbridos plug-in, elétricos, elétricos com autonomia estendida ou movidos a célula de combustível terá peso maior no cálculo da melhoria de consumo e de emissões, que é feito com base na média ponderada da frota vendida pela empresa.
Dessa forma, ainda que o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos modelos com estas tecnologias seja elevado - com exceção dos híbridos, que tiveram a alíquota zerada – a possibilidade de usá-los para melhorar os resultados de eficiência energética pode fazer com que as marcas aumentem os esforços para vender algumas unidades destes carros no Brasil, até mesmo com prejuízo, que poderá ser compensado com descontos extras de IPI previstos na legislação do Inovar-Auto para quem superar as metas de eficiência energética.
Os resultados alcançados por cada empresa deverão ser apresentados ao governo até 1º de novembro de 2016. Em seguida, até 31 de dezembro de 2017, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) fará a comprovação dos dados apresentados. A partir de então será feita verificação de manutenção todos os anos até 2020.
Para Pieracciani, a extensão do cronograma do Inova-Auto até 2020 é um bom sinal. “Isso pode ser um indício da intenção de estender o programa”, acredita. Na análise do consultor, a Portaria nº 74 mostra que o governo está empenhado em ver as montadoras agregarem tecnologia aos carros vendidos no Brasil. Segundo ele, o fato de o regime automotivo ainda ter algumas regulamentações pendentes não vai atrapalhar os resultados da política industrial. “Esperar que tudo esteja certo para tomar as decisões necessárias é apenas uma desculpa para não fazer as coisas. Precisamos aprender a trabalhar na tempestade ao invés de esperar a chuva passar”, conclui.
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