Publicado em 30/05/2018
Fonte: Automotive Business
Ainda que o Rota 2030, conjunto de regras para a indústria automotiva, permaneça engavetado em negociação, há órgãos do governo empenhados em desenhar políticas capazes de apoiar o avanço tecnológico do setor automotivo com a adoção de conceitos de indústria 4.0. Este é o caso do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
"Não podemos ser protecionistas, mas também é inocente acreditar que o mercado vai se balizar sozinho sem nenhum tipo de política industrial", declarou Marcos Vinícius de Souza, secretário de inovação do MDIC.
Souza participou do Workshop Indústria 4.0 realizado por Automotive Business em São Paulo na segunda-feira, 21. Ele contou que a equipe do Ministério trabalhou em amplo diagnóstico de indústria 4.0 no Brasil, comparando o avanço local com o de outros mercados. Uma das conclusões preocupantes foi que 52% das indústrias brasileiras não usam nenhuma tecnologia digital. "Aqui a nossa preocupação não é com as montadoras e sistemistas, mas com as pequenas e médias empresas de níveis mais distantes da cadeia de fornecimento, do Tier 3 para baixo", avalia.
Segundo Souza, há desafios das mais diversas proporções para que as novas tecnologias avancem neste terreno, como a falta de recursos, de conhecimento das organizações para escalar soluções digitais, falta de profissionais qualificados, dificuldade para perceber e medir o valor das tecnologias, além da orientação de curto prazo das lideranças, que se concentram em resolver a dificuldades mais imediatas e têm dificuldade de olhar para o médio e longo prazo. "São justamente estas dificuldades que o governo precisa focar em minimizar."
Nova geração de políticas públicas
Com a clareza dos desafios, Souza conta que o governo fez ampla pesquisa para buscar referências de estímulo à indústria 4.0 em outros países. "Compartilhar riscos de adotar tecnologias com o governo torna a aprovação dos projetos mais fácil", diz. Segundo ele, as novas políticas públicas precisam ser multitarefas e abranger várias frentes ao mesmo tempo, com coordenação maior com o mercado. O plano é cobrir aspectos como talento e educação, incentivos financeiros, segurança jurídica, conectividade e cibersegurança, pesquisa e desenvolvimento.
"Inovação não é só desenvolver tecnologia, mas principalmente adotar tecnologia em larga escala, adaptando a empresa, as métricas. Estamos trabalhando em políticas públicas que priorizem isso porque hoje só temos estímulo ao desenvolvimento. Este é um problema de vários países", analisa o secretário.
As soluções incluem oferecer taxas menores para algumas linhas de financiamento do BNDES para a adoção de tecnologias de indústria 4.0. Outra medida é incluir nas leis que incentivam a inovação ações como a formação de fundos de capital de risco para investir em startups e a criação de aceleradoras para estes novos negócios.
Bruno Jorge, coordenador da indústria 4.0 da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), contou no evento que o órgão criou uma autoavaliação para que as empresas entendam em qual nível de digitalização estão. Outra medida que deve ser aprovada em breve são os testbeds de tecnologia: a construção colaborativa entre diversas empresas de plataformas de experimentação de soluções de indústria 4.0. A ideia é que ali as empresas possam verificar de forma mais palpável o potencial das soluções e decidir com mais embasamento por investir para implementar em larga escala.
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