Publicado em 21/02/2018
Fonte: Automotive Business
Quais são os maiores desafios e obstáculos para mulheres que querem fazer carreira no setor automotivo? E quais foram os avanços recentes? Esse foi o principal tema do painel que abriu o 1º Fórum Presença Feminina no Setor Automotivo, com participação de Neuraci Carvalho, diretora de negócios de motores da Cummins, e Solange Fusco, diretora de comunicação do Grupo Volvo, além da diretora geral da Peugeot, Citroën e DS, Ana Theresa Borsari, que gravou vídeo para o evento.
Avaliando os números da pesquisa promovida por Automotive Business, que mostrou tímidos avanços da presença feminina no setor, remuneração inferior à dos homens e poucas mulheres em cargos de liderança, as três executivas apontaram vários fatores que contribuem para esse desequilíbrio de gênero. E também deram a receita para alterar essa situação.
Para Ana Theresa, o fato de ser mulher deve ser usado como vantagem competitiva de uma mentalidade mais aberta a novos tempos, sobretudo no momento em que o setor passa por mudanças radicais em razão de novas demandas como eletrificação, automação, conectividade, compartilhamento e tantas outras impostas pela era digital.
Solange ressaltou que é importante que a mulher seja ouvida não só em cargos de liderança, mas em todos os níveis. “A mulher tem mais sensibilidade para engajar, enxergar o todo, encontrar soluções criativas, promover um ambiente de trabalho mais harmônico. Mas ela precisa ter a humildade de aprender com as qualidades dos homens, que se sobrepõem em quesitos como objetividade e foco em resultados”, avaliou.
Neuraci complementou com outro ponto importante em uma indústria como a automotiva, que é a ambição: “Isso passa pela formação, pelo gosto por desafios. A mulher costuma se cobrar muito, mas quando não consegue se impor profissionalmente nesse ambiente ainda muito masculino, as oportunidades não surgirão”.
Na visão de Solange, um dos desafios para atrair mais mulheres é a qualificação técnica. “Engenharia e outras áreas de Exatas ainda atraem menos mulheres do que homens e é aí onde está a maioria dos empregos do setor automotivo”, afirmou. “Além dessa questão, as mulheres que aceitarem esse desafio precisam superar um gargalo de autoestima que ainda existe em relação aos homens”, acrescentou.
Nas conclusões, as executivas destacaram o que consideram mais importante para que os avanços na participação de mulheres não sejam tão tímidos quanto nos últimos cinco anos, como mostrou a pesquisa de Automotive Business.
Neuraci Carvalho, da Cummins, acha que a mudança cultural deve partir da alta liderança das empresas. “Esse maior equilíbrio entre gêneros, entre vida profissional e vida pessoal, deve ser uma meta da empresa para todos os seus colaboradores. ”
Solange Fusco, da Volvo, concorda e acrescenta que o DNA das empresas deve ser de diversidade: “Não basta fazer campanhas, tomar medidas ou ver esforços isolados de alguns líderes. É preciso que haja uma reflexão permanente pela busca de equilíbrio e que isso permeie todas as ações dos profissionais daquela organização”.
Finalmente, Ana Theresa Borsari, da Peugeot Citroën DS, disse acreditar na inspiração por meio do exemplo. Ela contou que existe um grupo internacional na empresa de mulheres líderes, para troca de informações, dicas e boas práticas. “É perfeitamente possível que mulheres tenham carreiras brilhantes no setor automotivo e cheguem a cargos elevados.”
ESFORÇOS PARA PROMOVER A DIVERSIDADE
No ultimo painel do dia, Mariana Ferrão mediou o debate sobre esforços que empresas do setor automotivo estão fazendo para promover a diversidade de gênero
A apresentadora da TV Globo, Mariana Ferrão, comandou o painel de encerramento do 1º Fórum Presença Feminina no Setor Automotivo com uma série de provocações para as três executivas da indústria automobilística participantes – todas representando empresas que investem em programas para reduzir a desigualdade de gênero.
Desafios com nascimento de filhos, com divórcio, com a profissão do marido e com o momento certo de encarar maiores desafios permearam os depoimentos do quarteto feminino. E em meio a desabafos e histórias de vida foram surgindo temas caros às mulheres que escolheram trabalhar num segmento industrial tão dominado por homens.
Vanessa Colturato, responsável pelo programa Women@Renault, da fabricante francesa de veículos, admitiu que em um primeiro momento é necessário apelar para cotas de gênero, o que a Renault vem fazendo. “Não pode ser uma política permanente, mas algo temporário para minimizar uma situação de injustiça”, defendeu. Como resultado, a Renault praticamente dobrou o número de mulheres em cargos de supervisão e gerência nos últimos cinco anos.
Para Telma Cracco, diretora de RH da CNH Industrial para a América Latina, a solução em sua organização tem sido um programa de “mentoring” para mulheres, feito por gestores de várias áreas da empresa. “Muitas mulheres entram na empresa, mas acabam empacando naquela fase em que uma promoção normalmente acontece. O programa tem o objetivo de identificar talentos femininos e prepará-los para maiores desafios na carreira”, diz. O programa é recente, de 2016, e tenta ampliar a participação de mulheres na CNH Industrial, que cresceu apenas 2% de 2013 a 2017.
Já na DAF Caminhões Brasil, por ser uma empresa mais jovem, a situação é um pouco melhor, de acordo com sua diretora de RH, Jeanette Jacinto: “Não há diferenças significativas entre salários de homens e mulheres. Sou a única diretora na empresa, é verdade, mas há várias mulheres em cargos de gerência. E já percebo um equilíbrio de gênero em nosso programa de estágio.”
Para as palestrantes, é consenso que não bastam programas de inclusão e decisões dos gestores no sentido de aumentar a presença feminina no setor automotivo. As profissionais também precisam ir à luta e fazer a sua parte. “A mulher se prepara mais, chega com mais cursos, inclusive de idioma, mas acaba sendo tímida nos processos seletivos, enquanto os homens se vendem melhor, são mais ousados”, exemplificou Telma. “Isso explica até a questão de salários menores: o homem negocia mais, enquanto a mulher se sujeita a pretensões salariais inferiores no momento da contratação”, completou.
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