Publicado em 30/08/2017
Fonte: Automotive Business
O mercado de veículos comerciais está como um caminhão que sobe a rampa e para no meio dela: a pausa, que já dura cinco anos, parece começar a perder a vez, fazendo o veículo sair do ponto morto para seguir em frente. Traduzindo, as líderes do segmento apostam em tendência de crescimento para os caminhões já a partir do mês de agosto, com ligeira melhora para este ano e para 2018. No entanto, a incógnita ainda é sobre a velocidade dessa retomada. A análise é de dois de seus representantes, Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz, e Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America, que fizeram seu diagnóstico para o segmento durante o Workshop Planejamento Automotivo 2018, realizado por Automotive Business em 22 de agosto no Sheraton WTC, em São Paulo.
“Agosto é o mês da virada. Não será um aumento expressivo, mas mantidas as condições atuais, o viés é de crescimento”, avalia Alouche.
O executivo mostra em números a razão de seu otimismo: entre janeiro e julho deste ano, embora as vendas de caminhões tenham caído 15% com relação ao ano passado, o volume médio de emplacamentos vem aumentando mês a mês, começando em 154 unidades/dia útil em janeiro e chegando a 295 neste mês, o melhor nível do ano até agora.
Alouche lembra que o setor de veículos comerciais pesados, especialmente o de caminhões, vem enfrentando diferentes cenários de mercado, da estagnação à queda, que ele dividiu em quatro momentos: a estagnação, de 1981 a 1998, quando os volumes anuais oscilaram entre 50 mil e 70 mil unidades; o de crescimento, entre 1999 e 2007, ainda que gradativo; o boom do mercado, entre 2008 e 2011, quando o segmento atingiu recorde de 172 mil unidades em 2011, e finalmente a queda, de 2012 até 2017. Os dados mostram ainda que nos últimos cinco anos o mercado total de caminhões caiu 70% e o de ônibus, 61%. E no acumulado dos sete meses deste ano as vendas já recuaram 15% e 17%, respectivamente.
“Acredito que em 2017 teremos uma pequena reação e o mesmo ocorrerá em 2018; após as eleições e em 2019 é que teremos um novo patamar de mercado. Estejam preparados para este novo momento.”
Leoncini admite que seu otimismo começou o ano em alta. Mas dadas as condições do mercado, ainda em queda, sua previsão é mais realista: “No início, imaginávamos um mercado 6% a 10% maior em 2017, mas agora essa previsão é de 4% a 6%”, revela. Contudo, ele elenca alguns fatores que vão alavancar o sustento da retomada das vendas neste ano, como leve crescimento do PIB previsto em 0,2% neste ano e 2% em 2018, a queda da taxa de juros, a estabilidade do câmbio e a inflação dentro da meta, mas especialmente o agronegócio, que impulsiona os segmentos pesado e extrapesado.
“Matematicamente, o segmento de pesados será maior, provando mais uma vez que é o primeiro que se recupera”, indica Leoncini.
Seus números demonstram que este segmento, que foi entre os outros o que mais declinou ao longo dos últimos cinco anos, está aumentando significativamente sua participação no volume total de emplacamentos: para se ter ideia, entre 2001 e 2005, a fatia de pesados era de 25%, evoluindo para 32% em 2016.
“Em 2024 os pesados representarão cerca de 40% no mercado total por causa da logística, do aumento da área plantada, do jeito que ainda se transporta neste País e pela falta de outros modais”, afirma Leoncini. “Evidente que essa tendência permanece em 2018, porque a locomotiva do pesado é agronegócio, que também arrasta o semipesado; e mais que permanecer, acredito que cresce”, completa.
Um olho no agora e outro do futuro
O representante da Mercedes-Benz revela que, por causa dessa tendência de alta, a empresa, que se mantém líder do mercado de caminhões, está fazendo todos os seus movimentos voltados para o cliente, mesmo foco da MAN Latin America, que segura a vice-liderança. Em sua apresentação, Alouche alerta que nos próximos dez anos haverá uma transformação muito grande nos caminhões e o cliente está evoluindo com os produtos.
Para ele, o mercado voltará, mas de uma forma diferente, com novas necessidades e as empresas devem estar preparadas para encarar essa nova fase. “O cliente já apresenta uma necessidade incremental, na redução do custo total da operação: é o que levará o cliente a escolher o produto”, indica Alouche.
“A conectividade, a digitalização é uma realidade no nosso segmento e será a parte central desses serviços. E cada vez mais os fornecedores terão o papel de se especializar, ajudando a montadora a reduzir esses custos adicionais. Devemos então trabalhar em conjunto para reduzir o custo na ponta. Sem isso o cliente não terá como pagar e absorver o caminhão.”
Para Leoncini, o País tem potencial para voltar a crescer com medidas nas áreas de infraestrutura e em programas de renovação de frota, que não dependem diretamente da indústria. O executivo diz que, de olho nisso, a Mercedes-Benz tem feito sua parte com a modernização de produtos e serviços: “Parei de olhar 2011 e confiamos bastante neste crescimento e no peso que o segmento pesado terá diante do mercado total. Para se ter ideia, já temos mais de 5 mil caminhões conectados, dos quais 2 mil contam com diagnose”, conta.
Contudo, ainda há grandes desafios para enfrentar, aponta Alouche, como a briga por preços e outros indicadores que apontam diferentes tendências para o mercado, como o aumento do aluguel e do leasing operacional. “Ainda há uma cultura do ter a posse do bem, mas quando entenderem que existe valor nisso, assim como o leasing operacional, haverá um incremento significativo e uma tendência irreversível.”
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