Publicado em 02/05/2017
Fonte: Automotive Business
O pior momento do setor automotivo passou e o mercado começa a se recuperar já em 2017. Esta foi a previsão feita pelos consultores Guido Vildozo (IHS Markit), Vitor Klizas (Jato Dynamics) e Carlos Reis (Carcon Automotive) no primeiro painel do VIII Fórum da Indústria Automobilística, realizado por Automotive Business em São Paulo, no dia 17 de abril.
Esse crescimento, entretanto, ocorrerá de forma lenta e gradual. “Nossas previsões não são tão otimistas quanto as de outras consultorias, mas sim conservadoras”, disse Vildozo. “O volume de vendas e produção crescerá a partir de 2020 se houver um governo que tenha apoio do Congresso.”
Segundo estudos da IHS Markit, o crescimento de vendas será de 0,4% este ano, de 3% no ano que vem, de 4,6% em 2019 e de 7,2% em 2020. Já a produção terá um ritmo diferente, com crescimento de 10,5% em 2017, de 4,5% em 2018, de 2,1% em 2019 e de 3,9% em 2020. Vildozo, o primeiro a falar no painel “A previsão dos Consultores”, disse que a IHS Markit mudou sua expectativa de 2,52 milhões de veículos leves para 1,99 milhão para este ano. “A capacidade atual do mercado é de 2,5 milhões”, observou, mas o PIB deverá crescer minimamente, de 0,1% a 0,3%, de forma que não ajudará muito num cenário de queda da taxa de juros (abaixo de 12%) e da inflação (abaixo de 5%).
Vitor Klizas, presidente da Jato Dynamics, preferiu focar sua apresentação nos resultados financeiros da indústria. E os números trazem boas notícias. Segundo o executivo, o faturamento da indústria automobilística brasileira passou de R$ 184 bilhões em 2014 para R$ 156 bilhões em 2015 e depois caiu para R$ 139 bilhões em 2016. Mas o primeiro trimestre de 2017 trouxe um faturamento de R$ 33 bilhões, o que representa um crescimento de 5,7% perante os R$ 31 bilhões faturados nos primeiros três meses do ano passado. Em 2014 e 2015 o faturamento no primeiro trimestre foi de R$ 41 bilhões e R$ 38 bilhões, respectivamente.
“Falamos tanto de SUVs, mas o nosso mercado continua sendo basicamente de hatchbacks”, disse Klizas. Apesar da queda brutal de vendas na categoria de hatches médios, os hatches compactos e de entrada continuam liderando o ranking. Assim, enquanto os hatchbacks representaram um faturamento de R$ 42 bilhões em 2016, os SUVs contribuíram com R$ 33 bilhões. Ele também observou que somente cinco marcas (Jeep, Honda, Toyota, Hyundai e Ford) são responsáveis por 56% do segmento de utilitários esportivos e crossovers.
O terceiro palestrante foi Carlos Reis, presidente da Carcon Automotive. Ele focou no segmento de veículos pesados e disse que sua empresa separou o mercado em três momentos diferentes. “O momento 1 é o da artificialidade, porque o financiamento era farto, com taxas muito baixas. Havia pouca preocupação com os estoques”, afirmou. Esse período foi de 2011 a 2014, com vendas entre 137 mil e 172,8 mil unidades. “O momento 2 é o dos impactos da artificialidade”, destacou.
“Não havia controle da economia, veio o fim do Finame PSI. Houve uma bolha de 190 mil veículos e muitos deles continuam parados.” Esse período ocorreu em 2015 e 2016, com as vendas caindo para 71,6 mil e depois para 50,5 mil. “O momento 3 é o da reação, com economia mais previsível e retomada lenta do crescimento, porém real”, disse Reis. Esse período vai de 2017 a 2022.
“A indústria automobilística passa a caminhar com as próprias pernas, sem a ajuda de ninguém”, acrescentou o consultor. A Carcon Automotive prevê um total de 52 mil veículos pesados vendidos este ano, mas ele pode ser apenas de 48 mil unidades “se a economia continuar muito lenta na retomada”. As safras de grãos (222,9 milhões de toneladas) e de cana-de-açúcar (694,5 milhões de toneladas) vão ajudar a indústria de veículos pesados, mas a péssima condição das estradas brasileiras continua sendo um fator de altos custos de transporte e baixo volume de vendas.
Anfavea: Indústria sobe os primeiros degraus da retomada
O desempenho da indústria e do ambiente de negócios do mercado automotivo ainda se mostra difícil e complexo, mas “embora não tenha parado de cair, a situação está próxima da estabilidade, o primeiro passo para a retomada do setor”, observou Antonio Megale . “A queda nas vendas, no entanto, vem diminuindo a cada mês, o que nos faz acreditar que o pior já está passando.”
Para Megale, apesar de negativo, o resultado apurado no primeiro trimestre de ano indica um nível de emplacamentos em conformidade com a estimativa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, de crescimento de 4% nas vendas de veículos em 2017, para 2,1 milhões de unidades. Nos três primeiros meses do ano o mercado absorveu pouco mais de 472 mil unidades, volume 1,9% menor que os 481,3 mil veículos negociados no mesmo período do ano passado.
A crença do dirigente da Anfavea na evolução dos negócios também está baseada no atual momento do País, seja por índices macroeconômicos, seja pela pauta da agenda política. Estão no horizonte as quedas da inflação e dos juros, a safra recorde, os primeiros anúncios de investimentos em concessões para a iniciativa privada, a aprovação da terceirização, “que traz segurança jurídica e redução nos custos da mão de obra”, e a reforma previdenciária. “O conjunto de fatos e fatores nos dá uma visão mais otimista. O País está começando a subir a escada do crescimento.”
Em sua apresentação, Megale ainda apontou os desafios que a indústria tem pela frente. O presidente da Anfavea destacou a preocupação com o fim do Inovar-Auto: “É nosso grande ponto de interrogação de hoje.” O programa de incentivo à inovação tecnológica e adensamento da cadeia produtiva criado em 2012 acaba no fim deste ano e o setor ainda não sabe o que virá pela frente. “Estamos trabalhando com o governo para organizarmos novas diretrizes setoriais. Importante, porém, é termos uma visão de longo prazo, até 2030 pelo menos, para que a indústria possa planejar investimento.”
Segundo Megale, o Inovar-Auto trouxe benefícios para a indústria automotiva, mas ainda tem muito a avançar. “O veículo nacional ganhou tecnologia, a indústria investiu em pesquisa e desenvolvimento e novos processos de produção, mas corremos o risco de o setor estacionar.
Para Megale é hora de pensar grande, como objetivo maior de obter mais competitividade. “É fundamental o esforço para adequar os custos para que a indústria nacional de veículos tenha capacidade para concorrer com suas matrizes em qualquer que seja o mercado no mundo. Afinal, queremos somente um mercado interno de 3 milhões de unidades ou os 90 milhões do globo?”, questiona.
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