Publicado em 21/03/2017
Fonte: Automotive Business
Há três aspectos claros para os negócios no setor automotivo em 2017. O primeiro é a estagnação do mercado brasileiro, que vai levar tempo para se recuperar. Outro é a decepção da indústria com os efeitos do Inovar-Auto, que termina este ano. O terceiro ponto relevante é a necessidade de que a segunda fase do programa tenha foco no fortalecimento da cadeia produtiva e da competitividade, não na atração de investimentos.
-Veja aqui o resultado completo da pesquisa
Essas são algumas das conclusões da pesquisa Cenários para a Indústria Automobilística 2017, realizada pela Roland Berger em parceria com Automotive Business pelo quarto ano consecutivo. Para entender a evolução do ambiente automotivo no País, o levantamento ouviu 468 executivos de alto escalão. Dos respondentes, 50% desempenham função de diretor ou presidente em uma companhia do setor. Parcela de 50% dos entrevistados declarou ainda ter mais de 20 anos de experiência no segmento.
Inovar-auto decepciona
“Um dos nossos focos nesta edição foi o Inovar-Auto. Ficou claro que, para a maior parte dos executivos, o programa não atendeu as expectativas”, observa Rodrigo Custódio, diretor da Roland Berger. No levantamento, apenas uma minoria de 5% declarou acreditar que todas as montadoras habilitadas alcançarão as metas de eficiência energética.
Dos entrevistados, 56% acreditam que menos da metade ou nenhuma fabricante de veículo vai cumprir o compromisso de eficiência imposto pelo Inovar-Auto. A aposta é que, no máximo, três montadoras serão capazes de superar a melhoria mínima prevista pelo programa, conquistando assim desconto adicional de 1 ou 2 pontos porcentuais no IPI, dependendo do grau de superação da meta. A pesquisa também revela as expectativas para a continuidade do Inovar-Auto que, segundo entidades do setor, não deve se resumir a um único programa, mas reunir uma série de medidas. “As empresas defendem que o foco das iniciativas deve deixar de ser a atração de investimentos e se transformar em ações para o fortalecimento da cadeia produtiva e o aumento da competitividade.” Mais de 90% apontam que os incentivos atuais para a competitividade na cadeia de fornecedores são insuficientes – 41% defendem que essas ações sequer são percebidas pela indústria.
Para 57% dos entrevistados, as ações de continuidade do Inovar-Auto devem priorizar o fortalecimento da base de fornecedores. O aumento da competitividade da indústria nacional e a melhoria do nível de emissões e de eficiência energética aparecem em seguida como os aspectos que os executivos destacam como essenciais para a próxima política industrial. “Questões como aumento do patamar tecnológico dos carros nacionais, investimento em pesquisa e desenvolvimento e recursos de segurança são sugeridos mais para o longo prazo”, aponta Custódio. A maior parte dos entrevistados espera que o novo programa tenha duração de cinco a sete anos, superior à do Inovar-Auto, que vigora desde 2013 apenas por cinco anos. Sobre a próxima meta de eficiência energética, a aposta de 65% dos entrevistados é de que o limite seja de 115 g CO2/km ou de 125 g CO2/km.
Mercado segue fraco
“Foi consenso a visão de que 2017 será de estagnação nas vendas de veículos leves, com 65% dos executivos apontando que os volumes poderão variar entre queda de 5% e crescimento de 5% na comparação com o ano passado”, observa Custódio. O levantamento também revelou que a confiança do consumidor, o desenvolvimento econômico e a disponibilidade de crédito são os principais fatores que influenciarão o resultado das vendas. Quando o assunto é o segmento de pesados, 45% esperam expansão leve, de 5% a 10% para 2017.
O caminho da recuperação será longo. O nível recorde de vendas alcançado em 2012, com mercado total superior a 3,8 milhões de veículos, só deve acontecer novamente entre 2019 e 2021 para 30% dos entrevistados. Parcela de 64% dos respondentes acha que este patamar só será atingido no longo prazo, a partir de 2022. Na visão dos participantes do levantamento, não há remédio único para curar a crise nas vendas. Deles, 65% apontam que entre as medidas com potencial para ajudar na retomada está a criação de um programa de renovação da frota. Parcela de 63% destaca a facilitação do acesso ao crédito como iniciativa mais eficaz. Já 55% enxergam a redução de impostos e encargos como o melhor incentivo.
A Inversão definitiva da curva de contração, com retomada do crescimento, no entanto, vai ficar para os próximos anos. Para 38%, esse movimento só vai acontecer em 2018. Já 46% esperam expansão apenas depois disso. A ociosidade deve continuar alta nas fábricas do segmento, entre 50% a 65%, apontaram os participantes. O nível ainda é menor do que o registrado em 2016, quando mais de 70% do potencial produtivo para caminhões e ônibus ficou sem uso.
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