Publicado em 06/02/2017
Fonte: Fenabrave
Embora ainda restritos a ambientes de teste ou utilizados de forma segmentada, como na agricultura, os veículos autônomos já podem ser considerados uma realidade. "Estamos observando no mundo atual grandes mudanças propiciadas pelas tecnologias digitais. A chamada internet de tudo permite a comunicação entre máquinas, inclusive entre veículos.
Já é possível ocupar as vias com carros capazes de se autoconduzir por meio de sensores", afirmou Leopoldo Rideki Yoshioka, professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP e coordenador de pesquisas na área de Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS) e Sistemas Embarcados Automotivos, durante apresentação no 25° Congresso SAE Brasil. O Congresso, realizado em outubro de 2016, em São Paulo (SP), teve como tema "A Engenharia Criando a Mobilidade do Futuro”
Segundo Yoshioka, as vantagens da mobilidade inteligente são várias. "Um dos grandes problemas atuais das cidades é o trânsito. A adoção de sistemas inteligentes permitiria duplicar a capacidade das vias, por exemplo. Apenas para ilustrar, a distância segura do carro da frente é medida em tempo, e estimada em dois segundos. O uso dos sensores dos veículos autônomos permitiria reduzir este tempo para meio segundo. O espaço lateral também pode ser reduzido, o que possibilitaria a criação de mais faixas, melhorando a fluidez do trânsito", explicou.
Para o pesquisador, o novo modelo de mobilidade também poderá contribuir para maior segurança no trânsito, além de reduzir a poluição. "Juntamente com os veículos autônomos, haverá o crescimento de serviços como o carsharing. O transporte tende a se transformar em um serviço, e não mais um bem", opinou.
Desafio da infraestrutura
Apesar de todos os estudos da área de mobilidade apontarem os veículos autônomos como tendência de mercado, o Brasil ainda caminha a passos lentos nesta direção. "Temos problemas com a baixa qualidade das estradas, e sua falta de sinalização. Além disso, no Brasil ainda existem muitas áreas com falhas na comunicação, seja de internet ou de sinal de GPS", alertou Patrick Shinzato, que faz doutorado em robótica na USP de São Carlos. "Será que o Brasil comporta veículos autônomos com esta falta de infraestrutura?", questionou.
Shinzato apresentou durante o evento o Projeto Carina (Carro Robótico Inteligente para Navegação Autônoma), do laboratório de robótica da USP de São Carlos. Tratam-se de duas plataformas de veículos autônomos, um caminhão -o primeiro autônomo da América Latina - e um veículo de passeio. No caso do caminhão, o protótipo utilizado nos testes experimentais é um G360, que pesa 9 toneladas. Foram realizadas modificações mecânicas e eletrônicas para que ele pudesse ser totalmente controlado por computador, e foi utilizado um GPS de alta precisão para localização e planejamento de trajetória.
De acordo com o pesquisador, a detecção de obstáculos é realizada por meio de dados obtidos por um radar e uma câmera. O software e controle, desenvolvido no laboratório da universidade, é executado em um único computador embarcado no veículo. Já o Projeto Carina 2 utiliza um Fiat Palio Adventure Dualogic, que conta com controle computacional de esterçamento, aceleração e freio, possibilitando o controle completo por computador. O objetivo é o desenvolvimento de um veículo autônomo inteligente capaz de navegar em ambientes urbanos sem a necessidade de um condutor humano.
"O desenvolvimento destes projetos nos permitiu determinar os pontos fortes e fracos de cada tecnologia. Não se trata apenas de importar tecnologia, porque a tecnologia tem de se adequar à infraestrutura do país", ponderou Shinzato. Segundo ele, as pesquisas projetam as demandas do futuro. "Hoje, ainda necessitamos de pessoas para atualizar os mapas. No futuro, como esta atualização será feita? As câmeras e sensores precisam simular a visão humana, calcular velocidade e o espaço. É necessário determinar o número de faixas, curvas, inclinação, sentido da via e obstáculos. Há um grande trabalho ainda pela frente", disse.
Conectividade
Um dos pilares das novas tecnologias de mobilidade é a conectividade. O sinal que guia os veículos e lê os sensores vem de sistemas de GPS e internet, e isso é um grande problema. Isso acontece não somente no Brasil, mas em toda a América Latina, segundo Carolina Carmona, especialista de marketing da CNH Latin America, que desenvolve veículos autônomos para uso agrícola, como colheitadeiras. "Nossa qualidade de sinal é muito debilitada. A padronização é essencial para que todos os veículos se comuniquem. O país ainda está longe disso, sequer temos legislação específica", afirmou.
Tiago Galli, CEO da Porto Conecta, confirmou a dificuldade de padronização de sinal no país. "Há áreas inclusive em que os sistemas de cabeamento são vandalizados, causando regiões com um verdadeiro apagão de sinal", disse. "O futuro da indústria automotiva já chegou, mas a infraestrutura do país não acompanhou tal evolução", completou.
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