Publicado em 14/09/2016
Fonte: Automotive Business
Se uma palavra pode definir a edição 2016 da Automechanika em Frankfurt, Alemanha, com certeza é digitalização. Os impactos dos veículos que hoje são computadores sobre rodas conectados em rede dominaram as discussões na maior feira de autopeças do mundo – este ano com novo número recorde de 4.820 expositores entre fabricantes de componentes e fornecedores de equipamentos para oficinas de 76 países, que ocupam integralmente os 305 mil metros quadrados dos 11 pavilhões de exposições da Frankfurt Messe durante os dias 13 a 17 de setembro.
Na era digital, um carro atualmente tem mais eletrônica embarcada e capacidade de processamento de dados do que os primeiros ônibus espaciais da Nasa no fim dos anos 1980. Isso provoca mudanças profundas na indústria automotiva, trazendo para o mercado novos concorrentes ligados à tecnologia da informação, enquanto sepulta empresas que não se adaptam aos novos tempos.
Conectividade, serviços de mobilidade (como compartilhamento de veículos), direção autônoma e propulsões alternativas para reduzir emissões e consumo de derivados de petróleo. São todos fatores misturados em um caldo digital que move toda a indústria automotiva nas próximas duas décadas. “Em mais 20 anos teremos 30 bilhões de coisas conectadas no mundo, entre elas os carros, e muitos deles serão autônomos, vão trafegar sem a interferência do motorista. A indústria corre para se preparar para essa realidade e este evento mostra isso”, avaliou Detlef Braun, presidente da Messe Frankfurt, na abertura da Automechanika 2016, que ocorre a cada dois anos desde 1971 – e em 45 anos cresceu de 400 expositores para os 4,8 mil de agora, uma expansão de 3,4% sobre 2014.
Braun destacou também a importância econômica crescente do setor, que considerando somente os 27 países da União Europeia, girou receitas de € 1,35 trilhão em 2015, sendo € 806,3 bilhões em vendas de veículos, € 218,8 bilhões em consumo de peças de reposição e acessórios e € 135,5 bilhões faturados com serviços de reparos e manutenção, de acordo com dados do instituto alemão IFH de pesquisa de varejo.
Trilhões de bytes em dados
O que também é crescente é o gigantesco volume de dados gerados e transmitidos pelos veículos. São trilhões de bytes que servem a muitos propósitos, tanto para servir de base à evolução tecnológica como pelo lado comercial, para potencializar vendas de produtos e serviços. “Todos os participantes do setor discutem como se beneficiar dessas informações, mas o fato é que elas pertencem ao indivíduo, o dono do carro”, diz Keith Stipp, presidente da divisão de aftermarket da Delphi. “Mas claro que esses dados podem contribuir muito com o desenvolvimento da engenharia, ajudar até a reduzir emissões com base em informações geradas, além de abrir muitas oportunidades comerciais”, acrescenta.
Stipp avalia que ainda levará tempo até que um veículo possa antecipar problemas e transmitir esses dados aos fornecedores de peças e oficinas de reparo, “mas por certo esta é a tendência futura”. Ele lembra que, com base em informações recolhidas do mercado, já é possível predizer a vida útil de alguns componentes, como por exemplo uma bateria, que dura algo como 44 meses e informa aos fabricantes em quanto tempo eles devem produzir uma nova bateria para cada carro produzido.
“A nova realidade traz veículos conectados em rede. A transmissão de dados por meio de sistemas de telemetria vai transformar as oficinas e a logística de distribuição de peças de reposição”, diz Uwe Thomas, presidente da divisão de aftermarket da Bosch. Ele explica que um carro conectado poderá agendar, via internet, uma visita de manutenção ou reparo e já fazer o pedido de componentes necessários para troca, deixando fabricante e oficina melhor preparados para o atendimento mais rápido e eficiente. “A digitalização também muda o jeito de operar. Assim como as pessoas caçam pokemons com seus smartphones, um mecânico com um tablet em mãos pode fazer uso de aplicativos de realidade aumentada para fazer um raio X virtual de um automóvel”, afirma o executivo. “A combinação de mundo real e virtual já existe.”
Já não se trata mais de futuro distante, mas de tecnologias disponíveis agora. Para mostrar isso a Bosch montou em seu estande na Automechanika uma oficina modelo conectada, que interliga equipamentos de diagnóstico e ajustes já em uso, como analisador de motor e alinhador de pneus. Todos os dados coletados ficam armazenados em nuvem virtual, para deixar o histórico de ocorrências, reparos e manutenção acessíveis de qualquer computador, assim o mecânico sabe tudo que foi feito em diferentes estações de trabalho ou em uma próxima visita do cliente, mesmo que seja em oficinas diferentes.
“Muitos novos competidores surgem nesse novo mercado, mas queremos uma competição ética. O dono do veículo deve ser o proprietário das informações que um carro pode gerar, e decidir o que quer e o que não quer que seja feito”, pondera Thomas, alertando também para a necessidade de aumentar a segurança em torno desses dados, pois automóveis digitais já entraram na mira dos hackers.
Outra companhia gigante do setor, a também alemã ZF segue a mesma linha de pensamento: “Precisamos garantir um mercado aberto, com uma plataforma de dados aberta, mas que preserve a segurança dos dados do proprietário. A decisão de uso de suas informações deve sempre ser dele”, defende Helmut Ernst, executivo-chefe da divisão de aftermarket da empresa, já completamente integrada com a TRW (comprada há dois anos).
O objetivo da ZF é treinar sua rede de oficinas credenciadas para lidar com sistemas e serviços cada vez mais inteligentes e conectados, para atender a uma frota global que deverá somar 350 milhões de veículos até 2030.
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