Publicado em 16/08/2016
Fonte: Notícias Automotivas
Enquanto o Brasil registra mais e mais demissões de empregados, inclusive com paralisação de fábricas, excedentes e também uma boa parte do quadro em suspensão de contrato de trabalho, o México vive uma realidade bem diferente.
Com o boom na produção de veículos, o país latino agora enfrenta uma escassez de mão de obra especializada. Como uma das vantagens do México é ter muita gente para trabalhar por um custo bem menor que nos EUA e Canadá, o país atraiu a maioria dos fabricantes interessados em abastecer o mercado americano.
Os investimentos mais recentes de montadoras com esse objetivo já somam US$ 15,8 bilhões, dinheiro que não está endereçado às 16 fábricas atualmente em pleno funcionamento no país. Além disso, o parque de autopeças e fornecedores acumula mais alguns bilhões de dólares em investimentos para dar suporte aos fabricantes que estão se instalando.
Com esse enorme apetite por produção, as montadoras instaladas no México passaram a disputar a mão de obra local, mas a busca por pessoas especializadas acabou gerando uma escassez no setor, aumentando os custos. Se não há gente suficiente no mercado de trabalho, a disputa passa a ser dentro das fábricas.
Houve um aumento no número de profissionais que recebem bônus para manter seus empregos. Com cada vez mais concorrência, muitos acabam mudando para concorrentes, a fim de melhores salários. Por isso, quem paga mais, mantém seus funcionários mais experientes.
Porém, a rotatividade é um problema: só em junho, a rotatividade em Ciudad Juarez, local onde há algumas plantas de produção, subiu para 10%. O crescimento nos salários em muitos casos apresenta dois dígitos. O movimento é o maior desde a chegada de montadoras após a criação do Nafta.
Para o setor automotivo, o aumento nos custos com mão de obra será inevitável, mas ainda não compromete os planos de investimento no México. A rotatividade, por exemplo, afeta também a produção, pois de acordo com relatos, quem decide mudar de empresa, o faz sem avisar. Repor alguém se tornou uma dor de cabeça.
Em termos financeiros, por exemplo, o salário mínimo no México equivale atualmente a US$ 4 por dia, mas só as autopeças – que antes pagavam menos US$ 1 por hora – estão pagando US$ 3 por hora nas plantas principais. A Kia diz que seu salário anual é de US$ 7.200 e o triplo disto para os engenheiros.
Ainda assim, o valor é baixo o suficiente para o mexicano, que ainda prefere o trabalho informal, que remunera mais e emprega mais da metade da força de trabalho do país. Do outro lado, com os baixos salários, as montadoras podem economizar US$ 1.300 por carro em média ou cerca de US$ 300 milhões por ano.
Mesmo com alertas de que a situação da mão de obra mexicana é apenas a ponta do iceberg, alguns fabricantes acreditam que ainda existem muitas pessoas dispostas a trabalhar nas plantas e que a escassez é administrável, embora não se saiba se o grande número de interessados – registrados durante as aberturas de vagas – possui alguma qualificação profissional.
Só a VW diz ter recebido 230 mil interessados em 4,2 mil vagas para a nova fábrica da Audi, em San Jose Chiapas. Em Ciudad Juarez, onde existem pelo menos 300 fábricas ligados ao setor automotivo, em torno de 15 mil vagas estão esperando interessados. Diante da possível falta de profissionais, algumas empresas já incluem centros de treinamento na construção da fábrica, como a Audi em 2014, quando gastou US$ 37 milhões com esse objetivo. A BMW está fazendo o mesmo.
O boom mexicano atrai cada vez mais o interesse das montadoras e críticas nos EUA, que passou a “dividir” com o vizinho, os investimentos dedicados ao atendimento de seu próprio mercado. De acordo com projeções, o México terá uma produção de 5,1 milhões em 2020, praticamente 50% em comparação com o recorde atual de 3,4 milhões.
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