Publicado em 12/05/2015
Fonte: Automotive Business
O mercado mais fraco não tirou o fôlego da Bosch para investir no Brasil. A companhia aplicará R$ 100 milhões no País ao longo de 2015. O valor permitirá que a companhia modernize suas linhas de produção locais. O anúncio foi feito pelo presidente da organização para a América Latina, Besaliel Botelho, em coletiva de imprensa na quarta-feira, 6. O montante dá sequência aos investimentos de R$ 2,2 bilhões feitos pela empresa na região nos últimos 10 anos. “É um aporte alto para uma empresa de autopeças”, enfatiza o executivo.
Botelho acredita que, apesar das dificuldades enfrentadas na região em 2014, a América Latina permanece promissora para a companhia. “Temos aqui 450 milhões de habitantes com idade média baixa. No Brasil há grande potencial de crescimento. O País ainda tem cinco habitantes para cada veículo. Não há problema de mercado, a dificuldade é pontual, com falta de confiança, escassez de crédito e o risco do desemprego crescendo”, enfatiza. O dirigente defende a necessidade de trabalhar para garantir que todos os investimentos locais feitos recentemente sejam sustentáveis no longo prazo mesmo diante da mudança na conjuntura econômica e política.
Para Botelho, o mercado interno passa por importante momento de adaptação, com medidas de ajuste fiscal. Na visão dele, o remédio é amargo, mas é a saída para garantir crescimento no futuro. A companhia espera encerrar 2015 com redução de 5% na produção local. Se concretizada, a queda será menor do que a projetada pela empresa para a fabricação de veículos, que deve cair 15%.
“Teremos o aumento dos volumes de linhas de produtos que começaram a ser feitas aqui recentemente”, explica, citando o exemplo do ABS e do sistema Start-Stop, que reduz o consumo de combustível. Por enquanto o dispositivo é oferecido apenas no Fiat Uno, mas a tendência é que seja adotado em outros modelos, já que uma nova portaria do Inovar-Auto incentiva o uso desse tipo de tecnologia (leia aqui). O resultado também será apoiado no crescimento do mercado de reposição. Botelho estima que os negócios da companhia no aftermarket cresçam 5% este ano na contramão da baixa das vendas de componentes às montadoras.
Na avaliação geral, no entanto, o presidente da Bosch acredita que 2015 será um ano de perdas nos resultados, com aumento de impostos, escalada dos preços dos combustíveis e outras situações que afetam a demanda. Diante desta conjuntura, a companhia admite que vem fazendo ajustes no seu quadro de funcionários desde o ano passado. A empresa conta com 9,3 mil colaboradores no Brasil. “O custo da mão de obra tem ficado proibitivo, temos trabalhado para melhorar a produtividade com linhas mais automatizadas”, reconhece.
INOVAR-AUTO
Na análise da Bosch, o Inovar-Auto ataca duas frentes importantes. A primeira é o aumento do conteúdo local. Em seguida está a eficiência energética dos veículos. “A nacionalização não nos afeta muito. Já temos índice elevado no Brasil e não sentimos aumento consistente das encomendas das montadoras por causa do programa”, explica Botelho.
Apesar disso, o executivo conduz o projeto de começar a produzir no Brasil o sistema FlexStart, que dispensa o tanquinho de gasolina em carros com motores flex. O conjunto, que antes era importado da Tailândia, passará a ser montado localmente. Para ele, a evolução do conteúdo eletrônico dos carros é empecilho para o aumento da nacionalização. Sem detalhar o porcentual médio de componentes nacionais dos dispositivos feitos pela empresa, Botelho aponta que nos últimos anos houve redução de 8 pontos porcentuais no índice por causa da necessidade de importar sistemas eletrônicos, que não têm produção no Brasil.
Para contornar situações como esta e garantir o suprimento de suas plantas brasileiras a companhia trabalha para incentivar sua cadeia de fornecedores. Em fevereiro a Bosch deu início a um projeto feito em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) para apoiar e desenvolver seus parceiros. Foram selecionadas 25 empresas que serão acompanhadas por dois anos com o objetivo de aumentar a produtividade e a eficiência .
O apoio às pequenas e médias indústrias é, na opinião de Botelho, aspecto que precisa ser desenvolvido por meio de política industrial. “Há programas pontuais do governo, mas no fim das contas estas companhias ainda precisam arcar com os impostos elevados e com o alto custo de mão de obra do País”, explica. “Temos indústria antiga e forte no Brasil, mas que não se renovou nos últimos anos por falta de política industrial”, defende.
Apesar de o Inovar-Auto não atacar este aspecto, Botelho reconhece o valor de incentivar a chegada de novas tecnologias por meio das metas de eficiência energética. Segundo ele, os avanços conquistados com o programa acontecem em paralelo com o aumento da exigência do consumidor brasileiro. “As pessoas aqui começam a se familiarizar com tecnologias de redução do consumo e de segurança.”
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