Publicado em 26/03/2015
Fonte: Nova Cana
A nova mistura de etanol, em vigor no mês de março, causou polêmica pela decisão do governo de alterar o percentual para 27% antes que os testes de durabilidade fossem concluídos. A decisão veio acompanhada de uma inconsistência, pois recaiu apenas sobre a gasolina mais barata. Já a opção mais cara, a gasolina premium, não sofreu alteração.
Contribuiu para a controvérsia, declarações que sugeriam uma motivação mais política do que técnica empurrando a decisão . As discussões tiveram início após o presidente da Anfavea vir a público para recomendar, até que os testes sejam concluídos, o uso da gasolina premium aos consumidores que possuem carros exclusivamente a gasolina.
O assunto ganhou uma nova proporção quando o Ministério Público Federal de Minas Gerais (MPF-MG) entrou com um pedido para que o MME suspendesse a nova mistura até que os testes de durabilidade fossem concluídos.
Diante da situação o MME publicou, em 23 de março, um texto oficial com o explicativo título "Conheça o processo de análise que antecedeu o aumento da mistura de etanol".
No documento, o Ministério entra nos dois pontos centrais da polêmica, os testes de durabilidade e o aumento da mistura apenas na gasolina comum:
"Algumas montadoras estão conduzindo testes de durabilidade em veículos próprios e com a maior parte dos testes de durabilidade que estão sendo conduzidos pela indústria automotiva, já transcorridos, tampouco houve sinalização de quaisquer problemas." A frase confirmou que os testes não foram concluídos e indicou que já não era necessária esta conclusão, na avaliação feita pelo governo.
Explicação semelhante foi dada anteriormente pela presidente da Unica, Elizabeth Farina: "Foram feitos vários testes de emissões, consumo e durabilidade de peças pela Anfavea e, no último deles, os veículos tinham rodado mais de 70% da quilometragem prevista sem problema algum."
No entanto, como tratam-se de testes de durabilidade, é de se esperar que a fase final será crucial para determinar o comportamento dos componentes com a nova mistura. De qualquer forma, o governo entendeu que a nova mistura já era segura, mas com uma ressalva, apenas na gasolina comum. Para alterar a gasolina premium os testes ainda não foram conclusivos o suficiente.
Sobre esta inconsistência a responsabilidade foi compartilhada com a Anfavea. A entidade concordou com a mudança mas mostrou preocupação apenas com os carros importados de alta performance. Os testes de durabilidade estão acontecendo exatamente nesses veículos, conforme a lista de carros publicada pelo MME.
“Trata-se de um mercado restrito que já utiliza este combustível, uma vez que são únicos veículos cujos fabricantes recomendam expressamente em seus manuais a utilização desta gasolina”, conclui a explicação do MME.
A questão que ainda permanece em aberto é o que acontecerá se os testes de durabilidade, após a conclusão, constatarem problemas nos carros de alta performance. Os demais carros movidos exclusivamente a gasolina não estariam sujeitos aos mesmos desgastes dos carros de alta performance?
Está claro que o governo federal, acostumado a encontrar problemas nos pleitos das usinas, desta vez minimizou qualquer dificuldade para pressionar e adiantar a aprovação da nova mistura de etanol.
Apesar do governo e da Anfavea apostarem que os testes de durabilidade não apresentarão problemas, enquanto não forem concluídos o governo fica numa posição de vulnerabilidade. Além disso, a decisão de manter inalterado o percentual na gasolina premium expõe uma incoerência que faz as críticas da Anfavea terem uma repercussão maior do que o Planalto gostaria.
Critérios técnicos
No texto, o ministério ainda procurou detalhar todos os elementos que, na visão do governo, deram segurança para a decisão da nova mistura de etanol.
O MME argumentou que "a mudança somente foi concretizada após diversos testes - feitos a pedido do governo e também pelas entidades representantes dos fabricantes de carros, motos e autopeças, os quais apontaram a viabilidade técnica e ambiental da utilização de gasolina com 27,5% de etanol anidro."
A explicação apresentou um histórico das ações tomadas pelo governo antes da mudança. Desde da escolha do Cenpes para realizar os testes, até a criação de um grupo de trabalho envolvendo todos os setores que poderiam ser impactados.
Um plano de trabalho foi elaborado e aprovado pelo grupo. "Os testes e ensaios foram realizados no segundo semestre de 2014, e incluíram avaliação de quatro diferentes teores de mistura (22%, 25%, 27,5% e 30%, em volume), de etanol anidro combustível."
Na sequencia o ministério apresentou alguns detalhes sobre os testes, reunindo diversos fatos.
O MME expôs que "os estudos avaliaram as variações em emissões; autonomia e desempenho (partida e dirigibilidade a frio e retomada de velocidade) em veículos e motocicletas; desempenho em motor em banco de provas; e ensaios analíticos de lubricidade e goma das misturas".
Com aprovação da Anfavea e Abraciclo, a amostra de veículos e motos selecionada para os testes foi pensada para representar a real frota que está em circulação no país. O resultado deste trabalho veio na forma de três estudos. Se antecipando a qualquer pedido por transparência, o MME já divulgou estes trabalhos.
De modo complementar, o ministério revelou que a iniciativa ainda envolveu os fabricantes de peças. E a garantia dos componentes dos veículos foram confirmadas em uma resposta do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores: “Foi avaliado que o (...) desgaste prematuro que em teoria seria previsto, na prática se tornará desprezível e não perceptível ao usuário final, devido à pequena alteração do teor de etanol anidro em questão (...) Ou seja, o funcionamento do produto continuará garantido e o impacto em termos de vida útil pode ser considerado similar às condições atuais de mercado.”
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