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Há luz no fim do túnel para as montadoras?

Publicado em 11/09/2014

Só a volta do crescimento da economia poderá ajudar a indústria automotiva a esvaziar os pátios e não as fábricas.

Fonte: Luís Artur Nogueira, para IstoÉ Dinheiro

O ano de 2014 definitivamente não será de saudosa memória para a economia brasileira. Com crescimento estimado em apenas 0,5% pelo mercado financeiro, o Produto Interno Bruto (PIB) decepcionou a todos – governo, empresários e trabalhadores. Na indústria, o quadro é ainda mais dramático. O setor produtivo deve recuar 1,7% neste ano, com retração nos investimentos e na produção. Responsável por 25% do PIB industrial, o setor automotivo não conseguiu se descolar do Pibinho, apesar de todo o otimismo no início do ano, quando a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projetava volume recorde de venda e produção.

Desde então, a inflação atingiu o teto da meta (6,5%) e o crédito desapareceu por causa da cautela dos bancos diante da inadimplência elevada. Com a renda corroída pelos preços altos e a falta de ajuda do setor bancário, as vendas de carros e comerciais leves recuaram 7,3% no primeiro semestre. A Copa do Mundo também teve a sua parcela de “culpa”. Apesar dos inegáveis ganhos para a imagem e o turismo do País, o evento esportivo gerou excessivos feriados, que atrapalharam o comércio e as fábricas. Estava previsto para o segundo semestre, portanto, o início de uma forte e consistente recuperação.

Após os resultados de julho e agosto, a constatação é de que a retomada de fato começou, mas num ritmo mais lento que o desejado pelos empresários. Em relação à média mensal do primeiro semestre, as vendas no mercado interno cresceram 2,3% e as exportações aumentaram 16%, em média, nos meses de julho e agosto. Já a produção caiu 0,7%. “O resultado ficou abaixo das expectativas porque agosto foi um mês conturbado”, afirma Luiz Moan, presidente da Anfavea, referindo-se ao novo quadro eleitoral que surgiu após o acidente com o avião do governador Eduardo Campos.

A partir de agora, no entanto, o ambiente tende a ficar mais favorável para o setor. O efeito-calendário, com um maior número de dias úteis, deve ajudar, já que os quatro principais feriados nacionais caem aos sábados ou domingos. Além disso, o Banco Central liberou recursos dos depósitos compulsórios dos bancos, que foram incentivados a direcionar uma parte para o crédito de veículos. Já é possível encontrar financiamentos em até 60 meses, com 30% de entrada, e juros de 0,97% ao mês. Em outubro, o Salão Internacional do Automóvel, em São Paulo, apresentará os lançamentos das principais montadoras, atraindo a atenção dos consumidores.

E, por fim, haverá uma tendência de corrida às concessionárias no final do ano para aproveitar as últimas unidades sem a elevação do IPI, que ocorrerá no dia 1º de janeiro. Apesar de todos esses fatores favoráveis, o setor automotivo encerrará 2014 com queda nas vendas, nas exportações e na produção, sepultando um ciclo de sucessivos recordes nos últimos anos. Em meio a anúncios de investimentos, como os R$ 6,5 bilhões da GM até 2018, e à chegada de mais concorrentes ao País, como a chinesa Chery, que inaugurou sua fábrica em Jacareí (SP), as montadoras estão enxugando seu quadro de funcionários – são dez meses seguidos de demissões.

Contra o clima de pessimismo, a ordem é lançar mão de estratégias de marketing para esvaziar os estoques até o fim de dezembro, possibilitando que o ano que vem comece com um cenário mais promissor. Sob nova gestão, independentemente de quem vencer as eleições, o País reúne todas as condições de recolocar o PIB nos trilhos. Sim, há luz no fim do túnel. Basta que o governo entenda que o principal estímulo para as vendas de carros voltarem a decolar não é IPI reduzido nem crédito barato. É crescimento econômico!

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