Publicado em 21/07/2014
Fonte: Roberta Scrivano e Lino Rodrigues, para O Globo
Mesmo com as vendas de veículos tendo caído 7,3% entre janeiro e junho, o preço dos zero quilômetros subiu no mesmo período, apesar da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). De acordo com um levantamento feito pela consultoria Oikonomia, o preço médio dos automóveis aumentou 6% no primeiro semestre deste ano, ou R$ 2,7 mil, para R$ 47,8 mil. Um ano antes, o valor médio estava em R$ 45,1 mil. O movimento de alta tem ajudado as montadoras a compensar parte da forte retração da demanda.
De acordo com o estudo, o faturamento das montadoras caiu, mas não na mesma proporção que as vendas. O recuo foi de 3%, no mesmo período, segundo a Oikonomia.
— Quando as vendas estão em queda, a montadora aumenta o preço. Isso ocorre para que ela cumpra o seu plano de negócios (business plan) financeiro apresentado à matriz — explicou Raphael Galante, consultor da Oikonomia.
O maior descasamento entre as curvas de vendas e faturamento, de acordo com a consultoria, é da Ford. A receita foi de R$ 7 bilhões em seis meses, uma elevação de 5,4%, sentido oposto à redução de 7,5% nas vendas da montadora. Procurada, a Ford disse não reconhecer os números usados na pesquisa e, por isso, não quis comentar. A Oikonomia esclareceu, por sua vez, que os números estão nos balanços divulgados pela Fenabrave.
A Anfavea, associação que representa as montadoras instaladas no Brasil, reconhece que houve aumento de preços no primeiro semestre, mas atribui esse reajuste à volta de parte do IPI, em dezembro (de zero para 3% nos carros de até 1000 cilindradas); à obrigatoriedade, desde janeiro, do airbag e freio ABS nos veículos que saem da fábrica e, ainda, à maior venda de carros acima de 1000 cilindradas, cujos valores são mais altos, elevando a média de preços. Sobre o aumento do faturamento, no entanto, a Anfavea não comentou.
Para a agência Autoinforme, que acompanha a inflação nas concessionárias, o preço dos automóveis subiu 4% apenas no primeiro trimestre como resultado do aumento do IPI e pelo repasse dos custos dos equipamentos de segurança, como o airbag.
Galante, da Oikonomia, também aponta a recomposição de parte do IPI e a entrada do airbag como fatores de elevação de parte do preço ao consumidor. Mas frisa que há uma forte resistência das montadoras em reduzir suas margens de lucro.
— Ocorre que o mercado não está mais aceitando as elevações de preço e para de comprar. Prova disso é a grande quantidade de concessionárias fechando as portas — afirmou.
Em 2013, a Oikonomia já havia registrado o mesmo movimento de alta no faturamento mesmo com queda nos emplacamentos de novos veículos. Nas contas da consultoria, a receita das montadoras no Brasil cresceu R$ 3,3 bilhões em 2013, para R$ 161,3 bilhões, mesmo com o recuo de 1,6% nas vendas durante o ano.
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