Publicado em 08/07/2014
Fonte: Bárbara Ladeia, para Tribuna da Bahia
Dentro da iminente crise na indústria automobilística, há um mercado em particular que tem sido um importante consolo para os fabricantes de veículos.
Enquanto a venda de carros de passeio já caiu 10,22%, a alta nas vendas de comerciais leves é de 2,56% no primeiro semestre deste ano.
Foram 395.820 picapes emplacadas até junho deste ano, no melhor semestre da história, segundo a Fenabrave – o equivalente a 52% do total da categoria, que inclui furgões e utilitários esportivos (SUVs).
Cresceram as vendas de picapes pequenas (5%), utilitários esportivos (9%) e furgões pequenos (19%).
Esse desempenho na contramão da média tem uma explicação simples. No primeiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) gerado pela agropecuária cresceu 3,6% em comparação com o último trimestre do ano passado, segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As picapes e os SUVs são tradicionalmente comprados e utilizados por produtores rurais, que ainda desfrutam de um certo dinamismo econômico – e de diferenciações tributárias que barateiam o produto. Neste contexto, acabam sendo vendidos também a frotas, o que multiplica o potencial de vendas.
Também empurra as vendas a movimentação do comércio e da prestação de serviços. Pet shops, floriculturas, serviços de entrega, comércio eletrônico e até os trailers de comida de rua lançam mão dos furgões pequenos para viabilizar seus negócios.
Tanto o setor de comércio quanto o de prestação de serviços são altamente favorecidos pela movimentação de consumo gerada pela Copa do Mundo.
“Esse é um dos indicadores com os quais conseguimos medir o desempenho das outras indústrias”, diz René Martinez, sócio da consultoria EY para a indústria automotiva. “São elas que alavancam esse tipo de movimentação na indústria automotiva.”
Essa é uma das poucas boas notícias que vêm do setor. Flávio Meneghetti, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores aponta que esse crescimento não vem de hoje e reside no agronegócio.
“A maior parte das vendas de picapes vai para produtores rurais que circulam no interior do País”, diz.
Os comerciais leves formam o único grupo que desfruta do otimismo de Meghetti e da indústria automotiva.
Enquanto os concessionários esperam queda de 10,5% na venda de carros de passeio, a estimativa da Fenabrave é de uma alta de 1,5% entre picapes, furgões e SUVs.
Esse crescimento já inclui a última revisão, quando as estimativas para todo o mercado foram revisadas para baixo, exceto as relacionadas aos comerciais leves.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) já revisou para baixo as expectativas de produção.
Na avaliação de Luiz Moan, que preside a instituição, devem ser montados 3,339 milhões de veículos até o final do ano – 10% a menos que em 2013.
No entanto, quando o assunto é o mercado os comerciais leves, a perspectiva é mais positiva.
Embora a venda de comerciais leves tenha crescido 2,8% no primeiro semestre, segundo a Anfavea, a produção desse tipo de veículo caiu 33,5% entre maio e junho deste ano.
Desconto e financiamento para pessoa jurídica favorecem as vendas
Para colaborar, as vendas à pessoa jurídica contam com um desconto, devido à cobrança diferenciada de Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). A variação barateia o veículo em até 16% para empresas de todos os portes.
No acumulado do ano, a chamada venda direta, direcionada a pessoas jurídicas, representou 40% das vendas no segmento – no ano passado, essa participação era de 36%.
A liberação de crédito, segundo Moan, é similar, mas as perspectivas ainda são positivas. "Essa tendência de aumento nas vendas dos veículos de distribuição de carga urbanas é clara e mesmo com a redução de produção, a expectativa é de ganho nas vendas", diz.
Esses são alguns dos indicadores que mantém Alexandre Dias, gerente nacional de vendas diretas para Brasil e América do Sul da GM com um raro otimismo dentro do mercado automobilístico.
O processo de regularização de empresas e empreendedores vindos do mercado informal. “Essa migração é forte”, informa Dias. “O mercado praticamente dobrou de tamanho nos últimos cinco anos.”
Por isso, as grandes frotas não são o principal gerador de vendas para as montadoras. Dias explica que, no caso da GM, a média é de 1,5 carro para cada operação negociada. “É um mercado muito pulverizado.”
Utilitários esportivos deverão deixar de ser comerciais leves em 2015
A nomenclatura da categoria comerciais leves inclui utilitários e picapes. Uma possível reorganização dessa classificação já está sendo discutida pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que deverá colocar os utilitários esportivos na categoria de carros de passeio.
Não fosse o peso negativo que a venda das SUVs exerce, o crescimento da categoria seria ainda maior.
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