Publicado em 23/06/2014
Fonte: Leone Farias, para Diário do Grande ABC
A retração nas vendas de veículos e o desaquecimento geral da economia brasileira, neste ano, estão impactando cada vez mais no comércio e no emprego do setor de autopeças. No primeiro quadrimestre, o faturamento real (descontada a inflação) das indústrias do setor já caiu 7% na comparação com igual período de 2013. É o que aponta pesquisa do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) divulgada em 19 de junho.
O resultado se deve à retração (de 10,9%) nas vendas para as montadoras e à queda de 9,7% nos negócios com outras empresas do ramo – por exemplo, fabricantes de sistemas automotivos. Já no fornecimento para área de reposição (lojas e oficinas), os números ficaram estáveis (0,3%) em relação aos quatro meses iniciais do ano passado.
Com a baixa nas encomendas, as fabricantes de autopeças vêm intensificando os cortes de funcionários. Em abril, houve redução de 3,2% nos postos de trabalho em comparação com mesmo mês de 2013. A situação é considerada crítica por empresários do ramo. Fausto Cestari Filho, que é vice-presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e tem indústria nessa área em Mauá, relata que o cenário, em termos de mercado, é semelhante ao da crise de 2008, mas é muito pior do ponto de vista da saúde financeiras das empresas. “Em 2008, vínhamos de dois anos de demanda em alta, em que as companhias estavam capitalizadas. Agora, depois de três crises seguidas, elas estão com capital de giro muito menor”, avalia. Ele acrescenta que os números até abril mostram apenas parte do cenário de dificuldade, que cresceu em maio e em junho. “As montadoras já tiveram retração de 20% a 50% nas encomendas e não temos nenhuma perspectiva, nos próximos três meses, de reversão dessa tendência”, diz. Números do Ciesp reforçam essa avaliação: em maio, houve 2.850 cortes de vagas nas empresas associadas à entidade na região, e as demissões se concentraram em atividades ligadas à área automotiva.
BALANÇA - O saldo comercial negativo de autopeças (ou seja, o quanto as importações superam as exportações) cresceu mais e chegou a US$ 3,46 bilhões no acumulado de janeiro a abril, com quedas nas vendas ao exterior (16,1%) e também nas compras de peças de outros países (3,5%), de acordo com levantamento do Sindipeças, com base nos números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Ainda segundo o dirigente do Ciesp, o dólar a R$ 2,20 não ajuda os exportadores nem cria barreira cambial para tornar a indústria um pouco mais competitiva frente aos itens importados e também no campo externo. Para ele, o câmbio minimamente razoável seria em R$ 2,40 a R$ 2,45. “Dessa forma como está, fica muito difícil competir”, diz.
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