Publicado em 16/04/2014
Fonte: Bárbara Ladeia para iG São Paulo
Antigo carro de entrada no mercado de automóveis, os veículos 1.0 já não têm o mesmo charme para os brasileiros. No meio de uma queda generalizada nas vendas, os carros de menor motorização têm sido a principal âncora da indústria automotiva.
Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas de carros e comerciais leves com motor até 1.0 despencaram 18,82% em março em comparação ao mês do ano passado. Enquanto isso, as vendas da categoria seguinte, com motor de 1.0 a 2.0, caíram apenas 13,34%. Os carros com motor acima de 2.0 venderam apenas 7,9% menos.
A participação de mercado de modelos como o Palio, da Fiat, o Celta, da Chevrolet ou o Gol, da Volkswagen, continua grande. Em março, 40,2% dos veículos vendidos se encaixavam neste perfil, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Essa queda na participação dos carros 1.0 no total de automóveis nas ruas, no entanto, não é tão recente. Em 2001, os "carros 1000" representavam 71,1% do total de carros licenciados. Após altas e baixas, a queda de participação se intensificou a partir de 2010, quando os 1.0 representavam 50,8% do mercado. Em 2013, eles representavam apenas 39,9%. E a tendência é de encolhimento deste segmento, segundo Luiz Moan, presidente da entidade.
“Em termos de participação relativa, esse mercado tenderá a apresentar uma redução”, aponta. À exceção das frotas comerciais, Moan não vê grandes oportunidades para esse tipo de automóvel. “Ter veículos de motorização mais forte é desejo permanente do nosso consumidor”.
A questão é que a demanda reprimida por carros já não existe com da mesma forma. Com o aumento da renda disponível, a chamada classe emergente foi em busca do primeiro veículo da família – tinha de ser simples e barato para caber no bolso. A voracidade do consumidor impulsionou um crescimento da indústria automotiva nacional e elevou a frota de veículos em 114% nos últimos dez anos.
"Os carros mil já foram 60% do volume de veículos vendidos. Hoje, se tirarmos os comerciais de frota, não chegam nem a 30%", diz Flávio Meneghetti, presidente da Fenabrave. "O poder aquisitivo melhorou, então agora ele quer um carro mais equipado. Ninguém mais compra carro pelado."
O fato é que passado o primeiro ciclo de aumento de renda, os consumidores já "não se identificam mais com o carro de pobre”, como diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular. “Temos estudado muito esse mercado e percebemos que ele acompanhou todos os outros nesse processo de sofisticação do consumo. O produto barato de baixa qualidade não emplaca mais”, explica. Quem antes queria apenas ter um carro, agora quer um carro bom. Bom e barato.
“Não tenho nenhuma dúvida de que o consumidor está mais sofisticado”, diz Luiz Moan, da Anfavea. “Nossos concessionários têm visto o indivíduo chegar com um carro 1.0 para trocar por um 1.4 ou 1.6.”
Enquanto houve incentivos pesados do governo na indústria automotiva, o chamado “carro mil” ainda valia a pena. Agora, com a obrigatoriedade de airbag e freios abs, além da adoção de direção hidráulica ou elétrica, o 1.0 e da volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o 1.0 ficou caro demais para o que oferece. "Esses itens custam praticamente a mesma coisa em um 1.0 ou em um 2.4, mas proporcionalmente, o custo deles é muito maior quando comparado com um mais barato" explica o presidente da Anfavea.
Novos subcompactos miram jovens
Em janeiro do ano passado, os carros 1.0 representavam 42% das vendas e chegaram a compor 36,7% do mercado em fevereiro deste ano. A chegada do up!, da Volkswagen, às concessionárias trouxe um novo fôlego à categoria. Trata-se do primeiro subcompacto fabricado no País.
Com a criação dessa categoria, o “carro mil” passou a uma nova função social: a de introduzir jovens no mercado de automóveis. Daí tanta preocupação com eficiência energética, conectividade, customização e outras “modernidades”, nas palavras de Meirelles, do Data Popular. “O preço e o produto encaixam melhor para o jovem filho dessa classe emergente que para o pai da família”, diz. Outro público na mira seriam as jovens mulheres, que já têm presença clara em um mercado antes dominado por homens.
Quando uns choram, há outros vendendo lenços. Enquanto os impostos, a restrição de crédito e a desaceleração da economia abatem a indústria automotiva, o sofrimento financeiro das montadoras se converte em oportunidade para os revendedores de usados.
No mercado de seminovos, os carros 1.0 continuam vendendo. Em março, os cinco primeiros carros mais vendidos tinham o motor com esse tipo de configuração. Por sinal, ao contrário das montadoras que amargam perdas nas vendas, no mercado de seminovos o caminho é ascendente. No trimestre, o crescimento das vendas é de 9,4%.
Para Ilídio dos Santos, presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), os carros zero, em especial os 1.0, estão caro demais. “O comprador hoje se informa melhor pela internet e compara o preço do zero com o do seminovo e acaba desistindo de comprar um novo”, explica. “Ele pega um carro com garantia da loja e, às vezes, com a garantia de fábrica ainda.”
Com o aumento do IPI, este ano deverá ser positivo para os revendedores. “Em 2014 vamos recuperar uma boa parte do que perdemos nos anos anteriores, com os incentivos à compra de carro zero quilômetro.”
Envie para um amigo