Publicado em 16/04/2014
Fonte: Reuters
A montadora japonesa de veículos Nissan inaugurou sua primeira fábrica própria no Brasil, em 15 de abril, concluindo investimentos de R$ 2,6 bilhões, em um momento em que o mercado brasileiro enfrenta queda nas vendas e tombo nas exportações.
O complexo industrial em Resende (RJ) reúne uma planta de automóveis e outra de motores, com o objetivo declarado de atingir índice de nacionalização de 80% até 2016. A unidade, como a própria companhia aponta, é a primeira do Brasil 100% voltada à produção dos carros da marca japonesa. Até então a presença nacional da montadora combinava modelos feitos dentro da fábrica de sua sócia Renault em São José dos Pinhais (PR) e veículos importados do México.
Na época do anúncio da construção da fábrica, as vendas de veículos no Brasil cresciam acima de 10% ao ano, ante expectativa do setor de expansão de 1% em 2014.
"Esse complexo industrial comprova o compromisso da Nissan com o Brasil", afirmou o presidente da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn. "Reconhecemos a importância do mercado automotivo brasileiro. Existem aqui 175 carros para cada mil habitantes; pouco em relação aos Estados Unidos e a Europa, onde a relação é 3 vezes maior", disse Ghosn.
A capacidade da fábrica, instalada na cidade de Rezende, no Rio de Janeiro, é de 200 mil veículos e motores por ano. A Nissan tem meta de alcançar 5% de participação no mercado brasileiro. Em 2013, a companhia encerrou com fatia de 2,18% no segmento de carros e comerciais leves, na nona posição entre as maiores montadoras do país.
A inaguração da unidade aconteceu horas antes de representantes do setor automotivo se reunirem com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tratar de conjuntura do mercado brasileiro de veículos e sobre a queda de exportações do país para a Argentina.
No primeiro trimestre, as vendas de veículos novos no Brasil caíram 2,1%, a produção despencou 8,4% e as exportações em valores tombaram 15%. Os estoques, enquanto isso, cresceram 11%.
Fonte: Automotive Business
INTEGRAÇÃO PRODUTIVA
Ghosn deixou claro que a intenção da Aliança no Brasil é estabelecer integração produtiva entre as fábricas das duas marcas. Ele admite a possibilidade de a Renault utilizar os novos motores 1.6 produzidos em Resende, mas informa que “não há nada definido por enquanto”.
O executivo segue o mesmo discurso ao falar do relacionamento da empresa com a Daimler, que mantém parceria internacional com a Aliança Renault-Nissan. “Podemos ter colaboração local no futuro, mas nada está acertado.” A fabricante alemã trabalha na construção de fábrica de automóveis Mercedes-Benz em Iracemápolis, no interior de São Paulo, o que levanta a possibilidade de que as duas companhias acertem algum tipo de integração local.
MERCADO E PRODUÇÃO
Apesar do momento delicado para as montadoras no Brasil, que enfrentam queda nas vendas, estoques altos e consequentemente queda na produção, A Nissan começa a operação com bastante otimismo. Ghosn admite que a companhia não espera alta expressiva do mercado no curto prazo e ainda assim prevê expansão para a marca. “Não projetamos queda das vendas domésticas totais, mas também não há expectativa de crescimento forte nem em 2014 nem em 2015”, avalia. O executivo tem a meta de ampliar a participação da marca japonesa no mercado dos atuais 2% para 5% até 2016.
Ghosn sequer considera tal crescimento um grande desafio. “Ainda somos muito pequenos no Brasil. Não aproveitamos o nosso potencial e por isso crescer até alcançar 5% do mercado não será tão complicado. O desafio está em avançar além disso”, assume. Apesar do tropeço nas vendas totais, a empresa mantém seus planos: depois de vender cerca de 70 mil carros em 2013, a ideia é chegar aos 115 mil emplacamentos este ano. Mais da metade desse volume deve ser produzida localmente. “A preocupação com o menor ritmo de crescimento do mercado no curto prazo não é nossa, mas sim das montadoras que têm grande participação no País”, analisa.
A estratégia da empresa para alcançar as metas é diversificar a atuação. Ghosn admite que a organização não conseguirá responder por 5% das vendas nacionais se não tiver presente em vários segmentos. “Vamos nos basear em quatro ou cinco produtos até 2016”, aponta, mencionando o March, o Versa que será fabricado em Resende a partir do segundo semestre, o importado Sentra e a picape Frontier. Com isso, o executivo deixa incerto o futuro do Livina produzido no Paraná.
Paralelamente a companhia trabalha na ampliação da rede de concessionárias, que hoje cobre 80% do território nacional com 165 casas. A ideia é chegar às 200 revendas com intensificação da atuação fora do eixo Rio-São Paulo, que tem apresentado índices de expansão das vendas menores do que os registrados em outras regiões do País.
VISÃO DE LONGO PRAZO
Apesar de ainda não divulgar os planos para além dos próximos dois anos, Ghosn garante que a Nissan tem ambição forte no País. “Não queremos ser coadjuvantes do mercado”, determina. Passado o período de expansão fraca das vendas domésticas, o executivo estima que os emplacamentos totais voltem a ter evolução mais expressiva.
Segundo ele, o Brasil tem hoje cerca de 175 carros para cada mil habitantes. Na Europa são 400 veículos por mil. “Não vejo motivo para o Brasil ficar por muito mais tempo com proporção menor do que Portugal, por exemplo”, pondera. Ghosn aponta que a inauguração do complexo industrial de Resende tem foco nesse forte potencial para o médio e longo prazos.
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