Publicado em 25/03/2014
Fonte: Pedro Kutney para Automotive Business
A Dunlop ainda aguarda decisão do governo brasileiro sobre taxação de pneus importados do Japão para bater definitivamente o martelo sobre novo investimento de R$ 1 bilhão em Fazenda Rio Grande, no Paraná, onde já aplicou R$ 750 milhões e inaugurou, em outubro passado, fábrica de pneus para automóveis e utilitários leves. Agora a empresa pretende construir outra planta no mesmo local, exclusiva para veículos de carga. Contudo, a unidade só iniciaria a produção em 2017 e até lá a Dunlop pretende importar do Japão esses produtos para abastecer o mercado brasileiro. O problema é que os pneus japoneses foram incluídos em um processo de antidumping no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que caso seja deferido poderá resultar na sobretaxação e inviabilizar o negócio.
“A decisão de fazer a fábrica já está tomada, porque a Dunlop precisa aumentar sua capacidade de produção de pneus para caminhões e ônibus (hoje fabricados pela empresa só no Japão e China). A preferência é fazer no Brasil, mas se a sobretaxação às nossas importações for aprovada esse investimento poderá ser feito em outro país, como África do Sul ou Turquia, que também são candidatos a receber o investimento”, diz Renato Baroli, gerente sênior de vendas e marketing da Sumitomo Rubber do Brasil, empresa proprietária da marca Dunlop.
Segundo Baroli, a sobretaxação tornaria proibitiva a importação de pneus de carga do Japão e tiraria a Dunlop do negócio no Brasil. Em 2013 a empresa importou 345 mil unidades do produto, que só começará a produzir no Paraná dentro de três anos. “Isso iria tirar 60% do faturamento atual dos nossos distribuidores, o que destrói toda a rede, que não poderia ficar esperando todo esse tempo até termos um pneu de carga nacional”, explica. A Dunlop trabalha com 12 distribuidoras e 40 lojas licenciadas no País, com meta de abrir mais 45 este ano.
Contudo, o executivo avalia que o governo é sensível ao problema e que a sobretaxação não será aplicada. No início deste ano representantes da Sumitomo no Brasil e do governo do Paraná visitaram o então ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, para informar a intenção de investir na nova fábrica e evitar as medidas restritivas às importações da empresa. “Quisemos mostrar que temos planos sérios, que o Grupo Sumitomo é responsável por 10% do PIB do Japão, que a empresa veio para investir e produzir aqui”, conta.
PRODUÇÃO NACIONAL
Baroli diz que a intenção é produzir no Paraná todos os seis modelos de pneus Dunlop para caminhões e ônibus atualmente importados do Japão. Ele informa ainda que a produção nacional trará uma tecnologia ainda inédita ao País, com a fabricação dos pneus radiais sem emendas, que garante maior uniformidade aos produtos. O normal são cerca de oito emendas por pneu, o que pode causar mais falhas na manufatura.
O investimento na produção de pneus de carga é maior do que o feito na de leves porque envolve equipamentos maiores, mais caros e complexos, quase 100% deles importados, explica o gerente. A previsão é inaugurar a linha no começo de 2017 com capacidade para fazer 4,5 mil unidades por dia, cerca de 1,6 milhão por ano. A área de mistura de compostos químicos será comum, mas o setor de manufatura final será montado em um prédio inteiramente novo, dentro do terreno de 500 mil m2 em Fazenda Rio Grande, onde apenas 84 mil m2 são ocupados hoje.
A meta é abocanhar em torno de 10% desse mercado no Brasil, que consome anualmente 57 milhões de pneus de todos os tipos, 46 milhões só para reposição. De acordo com Baroli, a decisão de produzir pneus de carga no Brasil foi antecipada pela Sumitomo “porque para competir aqui isso é absolutamente necessário, para evitar sobretaxações a produtos importados e taxas de câmbio desfavoráveis”. Ele acrescenta que o segmento tem potencial elevado, já que atualmente 34% da demanda são atendidos por importações.
FORNECIMENTO ÀS MONTADORAS
Na fábrica de pneus leves, já em operação desde outubro, a produção ganha ritmo ascendente. Atualmente todos os produtos vão para o mercado de reposição, mas a expectativa é receber em breve os primeiros pedidos para fornecimento direto às fabricantes de veículos. “Estamos em fase de homologação com diversas montadoras”, revela Baroli.
Ele admite que a rentabilidade do fornecimento direto é bem menor ou até nula, mas o negócio é necessário para prosperar na reposição, onde a média é de dois pneus por carro trocados a cada ano. “Grande parte dos consumidores quer trocar pela mesma marca que vem de fábrica”, explica. “Por isso é um argumento de venda importante.”
Baroli também confirma que deverá produzir no Brasil para fornecer às montadoras os chamados pneus verdes, com maior quantidade de sílica na composição para baixar a resistência ao rolamento e, por consequência, reduzir o consumo. Segundo ele, quatro fabricantes de automóveis negociam o produto com a Dunlop. “É uma tendência irreversível, todos os fabricantes querem oferecer carros com pneus verdes. Podemos produzir sem problemas, o que muda basicamente é a quantidade de sílica que colocamos na fórmula, mas isso também deixa o produto mais caro”, explica.
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