Publicado em 27/01/2014
Quem garante isso é a própria montadora: a frase entre aspas abre o comunicado de imprensa do carrinho -- que, sem dúvida, é o mais importante lançamento da Volks no país desde 1980, quando surgiu o Gol.
Pensado para ser uma espécie de "verdadeiro Fusca do século 21" (o Beetle/Novo Fusca é só para endinheirados), o up! foi apresentado no Salão de Frankfurt de 2007 e lançado como carro de produção em 2010. Desde então, acumula vendas discretas ao redor do globo: cerca de 250 mil unidades emplacadas em 50 países (dados da própria Volks).
No Brasil, segundo as pretensões da montadora, a história será diferente. UOL Carros apurou que nosso país deve ser o maior mercado do up! no mundo. Um número discretamente especulado para as vendas do carrinho é de 100 mil unidades por ano, fabricadas em Taubaté (SP) e divididas inicialmente em quatro versões (cuja nomenclatura explica o "u" minúsculo e a exclamação; aguarde mais um pouquinho para entender).
O up! é um modelo coadjuvante no plano global da Volkswagen de ser o maior grupo automotivo do mundo em 2018 (na China, principal mercado do planeta, a demanda é por modelos médios e grandes). No Brasil, porém, ele pode ser fundamental para a Volks recuperar a liderança de vendas de automóveis e utilitários leves, perdida para a Fiat em 2001. O momento é propício: a marca italiana vive entressafra de produtos, à espera da nova fábrica em Pernambuco.
Desde que foi destronada pela rival, a Volks colecionou alguns sucessos: o lançamento do Fox; o pioneirismo do motor TotalFlex (2003); a importação, exclusiva entre as "quatro grandes", de uma gama premium completa. Teve tropeços também, como o pavoroso "caso dos dedos cortados" do Fox. O prêmio de consolação: 27 anos seguidos de Gol como campeão brasileiro de emplacamentos.
A importância do up! é tanta que -- considerando a perspectiva de as vendas de carros novos estagnarem este ano -- a Volks parece conformada em sacrificar alguns milhares de emplacamentos de seus próprios modelos em favor do carrinho. No último encontro com executivos da marca, UOL Carros apurou que a torcida interna é para que o Gol não seja muito abalado e possa, inclusive, manter a liderança. Nosso palpite: o Fox é uma "vítima" mais provável do fogo amigo disparado pelo up! (em 2013, o Gol emplacou 255.057 unidades, e o Fox, 129.927).
Das fileiras da concorrência, a Volks reluta em escalar rivais específicos para o up!, mas Fiat Uno e os novos Ford Ka e Nissan March são nomes que vêm à mente.
O up! conquistou algumas vitórias importantes antes mesmo de chegar às lojas. Obteve nota máxima (cinco estrelas) do Latin NCAP na segurança para adultos (teve quatro estrelas para crianças); cravou o menor custo de reparação pós-acidente no CAR Group 2014 do Cesvi, o que pode baixar prêmio do seguro (não foi "sem querer": a tampa do porta-malas, de vidro no up! europeu, aqui será convencional, de aço, para baixar o preço de reposição); e foi o melhor colocado nas provas de consumo do Inmetro entre os carros com ar-condicionado e direção assistida. O up! sai de fábrica com garantia total de três anos.
O carrinho será lançado inicialmente em quatro versões (uma delas subdivide-se em três), apenas com carroceria quatro portas (já há testes com a de duas) e câmbio manual de cinco marchas (o automatizado I-Motion virá depois). O motor é sempre o moderno e elogiado 1.0 de três cilindros, 12 válvulas, flexível, utilizado na gama BlueMotion desde 2013, capaz de entregar até 82 cavalos quando abastecido com etanol (75 cv com gasolina).
A lista oficial de preços do up! é mantida em segredo; vamos ter de esperar até 4 e 5 de fevereiro, quando haverá o lançamento nacional para a imprensa especializada. Mais abaixo, fizemos estimativas de valor para cada versão -- que são apenas isso: estimativas.
Curiosidade: o up! é provavelmente o primeiro caso em que o nome da versão vem antes do nome do modelo, formando locuções em inglês. Daí o "u" minúsculo; a exclamação busca atribuir mais expressividade a tais locuções. Confira a seguir as configurações do up!, que, como outros modelos da Volks, tem itens opcionais que deveriam ser de série:
Take up!
Se há um "Fusca do século 21", ele é o take up! O carrinho sai "pelado" da fábrica no que se refere a itens de conforto.
Principais equipamentos: há os obrigatórios freios ABS/EBD e airbags frontais; limpador e desembaçador
traseiro; dupla fixação de cadeirinhas infantis com Isofix e trava superior; cintos de segurança dianteiros
com pré-tensionador; regulagem de altura do banco do motorista. As rodas são de aço, com calotas, na
medida 13. Opcionais: aquecimento; ar-condicionado; direção elétrica; sistema de som; rodas aro 14; vidros
elétricos dianteiros; trava elétrica; prateleira divisória no porta-malas.
Preço estimado:
entre R$ 26.500 e R$ 29 mil
Move up!
O pacote melhora um pouco ao acrescentar alguns itens de série interessantes, mas há lacunas que persistem.
Principais
equipamentos: além do que vem no take up!, há computador de bordo com dez funções; prateleira
divisória no porta-malas; preparação para som; relógio digital e marcador de temperatura externa;
abertura elétrica do porta-malas. As rodas são de aço, aro 14, com calota e pneus "verdes" (baixa resistência
à rodagem). Opcionais: aquecimento; ar; direção elétrica; sensor de estacionamento traseiro;
faróis e lanterna de neblina; bancos em couro sintético; kit para o navegador multimídia Maps & more. Preço
estimado: entre R$ 28 mil e R$ 31 mil
HIGH UP!
Acrescenta itens desejados, mas -- inacreditavelmente -- ainda não oferece ar/aquecimento de série. Principais equipamentos: direção elétrica; sensor de estacionamento traseiro; vidros elétricos dianteiros; faróis escurecidos; faróis e lanterna de neblina; painel frontal colorido; chave tipo canivete; rodas de liga aro 15. Opcionais: Aquecimento; ar-condicionado; bancos em couro sintético; sistema de som; alto-falantes; Maps & more. Preço estimado: entre R$ 32 mil e R$ 35 mil
RED, WHITE E BLACK UP!
Configuração completa do carrinho, é uma versão oferecida como se fosse três (mas o que muda, apenas, é a cor). Faz a soma de todas as outras versões (as rodas são de liga e aro 15, mas com inserto central na cor do carro e padrão diferente das usadas na high up!), acrescenta sistema de som com Bluetooth e entradas AUX e USB e ainda inclui bossas como soleira das portas dianteiras em alumínio.
Já andamos -- faz tempo -- com um up! europeu (era um move up!), mas somente na última quinta-feira (23) UOL Carros teve acesso a unidades brasileiras do up! para uma apreciação, infelizmente ainda sem direito a test-drive. Este, só em fevereiro.
O contato pessoal com o carrinho é interessante. Ele é realmente pequeno, com apenas 3,60 metros de comprimento. Mas não é baixo: tem 1,5 metro de altura. Nem apertado, ao menos no papel: o entre-eixos é de 2,42 metros, pouco menor que o de um Peugeot 207 ou um Chevrolet Celta. "Milagre" conseguido com os diminutos balanços dianteiro e traseiro; as rodas ficam nas extremidades da carroceria.
O desenho do up! é simples e elegante, e surgiu de proposta do designer brasileiro Marco Antonio Pavone (autor de Jetta e Polo europeu, entre outros) adotada imediatamente por Walter De Silva, chefão de design do grupo alemão. É um carro que "até uma criança vai entender", como disse Pavone em entrevista exclusiva a UOL Carros, em 2013. É, também, o mais distante do monótono sistema family faceda Volks, que uniformiza seus carros globais.
Em relação ao europeu, o up! brasileiro ganhou 6,5 centímetros na coluna C (a última), alteração necessária para aumentar o porta-malas (são bons 285 litros) e credenciá-lo a atender a famílias (em outros mercados, o up! é carro de solteiro ou casal sem filhos). A altura cresceu 2 cm. Com isso, o up! lembra uma minivan em escala menor, e passa sensação de robustez incomum num modelo tão compacto.
Por dentro, o "milagre" citado acima foi posto à prova por vários jornalistas, com alturas entre 1,70 e 1,85 metro, que se revezaram nos bancos do up! para verificar o espaço interno. Conclusão: há conforto longitudinal e vertical para quatro adultos, ainda que altos; mas o banco traseiro é suficientemente largo apenas para duas pessoas.
Vale notar também que os bancos dianteiros são peças únicas (o apoio de cabeça é integrado), o que diminui a visibilidade para quem vai atrás e gera desagradável sensação de confinamento. Abrir a janela pode ajudar -- mas vai ser com maçaneta, sempre: ao menos nessa primeira fase, os vidros traseiros do up! são acionados manualmente em todas as versões (na Europa eles são basculantes).
O acabamento e a montagem das peças e partes internas é correto desde o take up!, mas a cabine vai ficando mais completa e bonita à medida que a versão sobe. Na black/white/red, ela faz até pensar que estamos num carro de segmento superior, com bom gosto e boas sacadas.
Segundo a Volkswagen, 3.620 profissionais de vendas já receberam treinamento sobre o up! para atender aos clientes nas concessionárias da marca. Os funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), coração da Volks no Brasil, dividiram-se em grupos de cerca de 400 pessoas para apresentações especiais, no ABC, do carrinho fabricado no interior paulista. Os executivos da marca misturam entusiasmo e ansiedade ao falar do up!
São indícios de que o momento é mesmo crucial para a Volkswagen do Brasil. Em 2013, ela ficou 2,7 pontos percentuais atrás da Fiat na participação de mercado (foram 96.243 autos e utilitários a menos), e mero 0,47 ponto à frente da General Motors (vantagem de 16.981).
É possível fazer vários trocadilhos com o nome do novo modelo, mas um deles é especialmente pertinente: up! é o único caminho para a Volkswagen.
Fonte: Claudio Luís de Souza, UOL
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