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Segurança tem preço

Publicado em 05/12/2013

Mais uma rodada de resultados foi divulgada na semana passada pela organização não governamental (ONG) uruguaia Latin NCAP.
clique para ampliar>clique para ampliarLatin Ncap Crash Test (Foto: Divulgação)

A boa notícia é que, pela primeira vez, três carros fabricados e/ou vendidos no Brasil – dois da Ford, EcoSport (brasileiro) e Focus (argentino); um da Volkswagen, Jetta (mexicano) – receberam a classificação máxima de cinco estrelas em testes de colisão contra barreira com uso de manequins. Alcançaram quatro estrelas Hyundai HB20, produzido aqui, e Chevrolet Malibu, no México.

Dessa vez os fabricantes patrocinaram todos os ensaios, incluindo fornecimento de veículos e serviços da ONG. Mas é bom repisar: propósitos são nobres, métodos nem tanto. O sistema de estrelas, bastante controverso, nem sempre reflete o conceito correto de segurança. Carros construtivamente iguais recebem pontuação diferente dependendo do critério de cada país. EUA e União Europeia mantêm sérias divergências técnicas sobre o assunto.

Para avaliar as distorções basta citar o próprio EcoSport, analisado ano passado como 4-estrelas. Seguindo as regras, a Ford adicionou só um aviso sonoro sobre uso do cinto de segurança para o passageiro do banco dianteiro (motorista já tinha), não fez nenhuma mudança estrutural por ser um carro recente, pagou o teste e ganhou a estrela extra. O melhor custo-benefício em termos de marketing, sem dúvida. O mesmo modelo produzido na Tailândia e exportado para a Europa levou 4 estrelas no NCAP europeu (matriz do Latin NCAP). Alguns critérios lá são diferentes, porém se apegam a firulas discutíveis na classificação.

Outro exemplo é o Malibu, automóvel médio-grande vendido também nos EUA, onde se obriga há anos os avisos sobre cintos de segurança. O carro tem 10 airbags. Recebeu quatro estrelas em segurança para adultos e apenas uma para bancos infantis. Justificativa: “Os lembretes de cinto de segurança estão instalados; contudo, não cumprem requisitos do Latin NCAP”. A entidade também se perdeu nas explicações sobre o padrão Isofix para fixação desses bancos, ainda sem homologação no Brasil. Em teoria, impede o uso aqui, mesmo o veículo tendo o sistema.

Quanto à Hyundai, ganhar mais uma estrela em menos de seis meses foi fácil. Bastou mudar alguns tipos de material interno, nada de mudanças estruturais (nem daria tempo), pagar o teste e receber a justa avaliação retroativa a todos os HB20. Esclarecida a disponibilidade dos bancos infantis com Isofix, a classificação aumentou de uma para três estrelas.

No senso comum, a escala poderia ser péssimo, ruim, regular, bom e ótimo para as cinco estrelas. O Latin NCAP acrescentou, recentemente, a nota zero-estrela para carros que nem deveriam estar à venda. Dentro de alguns dias nenhum modelo poderá ser fabricado no Brasil sem airbags e freios ABS. Assim, mesmo a grande maioria de carros de menor preço alcançaria três ou quatro estrelas.

A tendência, porém, é a ONG subir a barra. Já era tempo de o governo estabelecer novo cronograma de exigências e parar de ser rebocado pelos acontecimentos. Afinal, segurança tem preço, sim: airbag para pedestre (ente 100% vulnerável) está instalado em um único modelo no mundo, o Volvo V40.

Fonte: Fernando Calmon, AB.

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