Publicado em 26/09/2013
Depois de passar décadas dedicada à investigação de acidentes de trânsito para descobrir como torná-los menos letais, a Volvo Caminhões volta-se agora aos sistemas de segurança ativa, que podem evitar que os acidentes ocorram. Paralelamente, a organização quer romper a barreira cultural que faz com que as pessoas não utilizem os dispositivos já disponíveis, como um já prosaico cinto de segurança.
Como parte dessa estratégia, Carl-Johan Almqvist, diretor global de segurança da Volvo, visitou o Brasil para tratar do assunto em alguns eventos, um deles dedicado à imprensa, que aconteceu em São Paulo, na quarta-feira, 25. “As pessoas dizem que é impossível, mas o único número aceitável de ferimentos e mortes no trânsito é zero”, determina o executivo. Ele destacou que o País mantém número elevado de acidentes fatais, de 19 mortos a cada 100 mil habitantes. O índice é bem maior do que o registrado na Alemanha, de quatro em 100 mil pessoas, e superior ao da Suécia, onde o indicador é de apenas três.
As estradas nacionais registram mais acidentes até do que as da Índia, outra economia emergente que tem menos tradição na indústria automotiva. Almqvist aponta que lá são 11 mortes no trânsito em cada 100 mil habitantes. A fabricante de veículos calcula que, no Brasil, cerca de 4 mil motoristas de caminhão morram em colisões anualmente. Esses incidentes geram prejuízos estimados em R$ 10 bilhões por ano, perda maior do que a causada pelo roubo de carga.
Para reduzir esse número, a empresa aprimora e divulga os benefícios de tecnologias de assistência à direção. “Já sabemos muito sobre como reduzir os danos causados por uma colisão. Agora queremos descobrir o que acontece nos momentos que antecedem um acidente e saber como evitá-lo”, resume o diretor.
Para entender as situações críticas que levam a um acidente, a companhia realizou estudo com frota de 30 caminhões equipados com GPS e câmeras que mostram o movimento do motorista e o entorno do caminhão. As 164 mil horas de gravação deram origem a um relatório (disponível aqui), que comprova que o ponto crítico é a distração do condutor e que 75% das colisões envolvem a parte frontal do caminhão. “Esses profissionais são, em geral, motoristas muito bons, com grande habilidade. Eles sabem como evitar um acidente, a não ser que não estejam prestando a atenção”, resume o especialista.
Como solução para isso, a Volvo tem sistemas como o piloto automático adaptativo (ACC, da sigla em inglês), que monitora por radar o veículo à frente e mantém distância segura controlando automaticamente o acelerador e freios. Outra tecnologia é o alerta de colisão e freio de emergência (CW-EB) que, ao detectar a iminência de um impacto, chama a atenção do motorista e, caso ele não reduza a velocidade ou pare o veículo, freia o caminhão automaticamente.
Almqvist aposta na difusão dessas tecnologias e consequente barateamento dos sistemas. “Na Europa, por exemplo, o alerta de colisão será obrigatório a partir de 2015. Certamente legislações semelhantes serão formuladas em outros países”, acredita. Para manter o pioneirismo da Volvo em segurança, o diretor admite a possibilidade de tornar algumas novas tecnologias item de série nos caminhões da marca nos próximos anos. O primeiro candidato, na opinião dele é o ACC.
O diretor da Volvo reforça que, paralelamente ao avanço das tecnologias, deverá acontecer mudança cultural e de comportamento, para que as pessoas passem a aproveitar melhor os sistemas de segurança já disponíveis. Para ele, o cinto de segurança é um desses dispositivos subutilizados. “Só 57% dos países têm leis que tornam o uso do cinto obrigatório.” Ele lembra ainda que, mesmo com a força da legislação, nem todos os motoristas usam. A adesão é ainda mais baixa no caso dos passageiros.
Aspectos como este estimularam a companhia a criar o projeto Transformar, programa de desenvolvimento de condutores de caminhões. Nereide Tolentino, consultora da Volvo para o programa, aponta que o objetivo é oferecer mais do que um treinamento. “Os motoristas sabem como dirigir com mais segurança ou de forma mais econômica. A questão é a motivação dele para fazer isso”, revela. Segundo ela, é essencial trabalhar para elevar a valorização e a qualidade de vida desse profissional para que ele queira, efetivamente, aumentar o rendimento do veículo.
O programa começou em 2008 e já formou cerca de mil motoristas em 92 turmas. O projeto une esforços e investimentos da Volvo, do frotista e do condutor para acontecer. Cada grupo tem uma semana de curso com o objetivo de elevar o comprometimento do motorista com a melhoria da qualidade do transporte, trabalhando não só o lado técnico, mas o emocional também. A companhia garante que os resultados são surpreendentes e cada turma formada funciona como um propagador da mudança cultural no segmento.
Uma das experiências positivas com o programa aconteceu na Silvestrin Frutas, frotista cliente da marca de Farroupilha (RS), que produz, vende e distribui frutas. A empresa, que tem 64 caminhões pesados e emprega 68 motoristas, decidiu incentivar funcionários a participar do Transformar para reduzir a média de quatro acidentes por ano. Do quadro atual, cerca de 60% deles já passaram pelo programa.
O proprietário e fundador João Silvestrin garante ter percebido melhoria importante. O número de acidentes caiu e, entre 2009 e 2013, foram apenas oito, sem mortes. “Temos melhora nítida no consumo de combustível dos caminhões guiados pelos condutores que passaram pelo Transformar.”
Fonte: Giovanna Riato, AB
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