Publicado em 19/09/2013
A presidente Dilma Rousseff recebeu na terça-feira, 17, mais um anúncio oficial de fabricação de veículos no Brasil. Desta vez, no entanto, a novidade é um tanto déjà vu, pois a Audi apenas confirmou o que já era esperado há quase um ano: que vai voltar a fabricar carros no País, desta vez a versão sedã do A3 e do utilitário esportivo compacto Q3, que serão montados na mesma fábrica de São José dos Pinhais (PR) compartilhada com a Volkswagen, onde a marca já fez o A3 de 1999 a 2006. O presidente mundial da Audi, Rupert Stadler, veio ao Brasil especialmente para anunciar à Dilma e ao governador paranaense, Beto Richa, o investimento de cerca de € 150 milhões (R$ 450 milhões), que envolverá apenas ampliações internas da planta, sem construção de novos prédios. A capacidade máxima inicial é de 26 mil unidades/ano.
“Tudo será feito sob o mesmo teto que já existe. A Volkswagen é uma empresa irmã do mesmo grupo, é usual compartilharmos facilidades em todo o mundo”, explica Stadler. De acordo com ele, a planta no Paraná será expandida internamente. A cabine de pintura receberá investimento em ampliação e serão criadas linhas de soldagem e montagem final paralelas às já existentes – onde hoje são produzidos a linha Fox e o Golf da quarta geração. Ainda não está confirmado oficialmente, mas Stadler admite que no esquema de compartilhamento com a “marca irmã” é possível fazer também modelos Volkswagen que usam a mesma plataforma MQB. No caso, é esperada a fabricação da sétima geração do Golf, em investimento adicional que deverá ser anunciado em breve.
O início da produção do A3 Sedan está previsto para o segundo semestre de 2015, enquanto o Q3 começa a sair da fábrica paranaense cerca de um ano depois, em 2016. “Planejamos uma taxa de conteúdo local de 30% a 35%. “Para um projeto internacional que envolve diversas unidades produtivas essa é uma participação excepcionalmente alta”, afirma Bernd Martens, vice-presidente mundial de compras da Audi, que também veio para o anúncio – ele já passou 10 anos trabalhando na Volkswagen no Brasil.
Ainda não está certo se as partes estampadas serão feitas aqui ou importadas, mas o índice de nacionalização revelado será facilmente alcançado pelo motor 1.4 flex turbinado, que será produzido no País, provavelmente na planta de motores da Volkswagen em São Carlos (SP). “Colheremos os benefícios de cooperação com o Grupo Volkswagen que já está aqui há 60 anos”, diz Martens. Serão oferecidas outras opções de motorização, mas importadas.
A Audi poderá produzir com taxas mais altas de componentes importados porque se habilitou ao Inovar-Auto como fabricante de baixo volume, em regime especial que prevê a produção máxima de 35 mil unidades/ano e investimento mínimo de R$ 17 mil por carro. É a mesma fórmula usada pela BMW para se instalar em Santa Catarina e, provavelmente, será a mesma da Mercedes-Benz, também próxima de anunciar a volta da fabricação nacional de seus veículos. (Interessante notar que todas as três alemãs escolheram o mesmo portfólio de produtos a serem feitos no Brasil, um sedã e um SUV compactos.)
A política industrial criada pelo Inovar-Auto, que elimina a sobretaxação sobre veículos importados para quem decidir fabricar no Brasil, foi decisiva para a Audi voltar a produzir carros no País. Com a promessa de fazer até 26 mil A3 Sedan e Q3 por ano, a marca ganhou o direito de importar 6,5 mil unidades por ano similares às que serão produzidas aqui sem o pagamento de 30 pontos adicionais de IPI – no caso, poderá incluir nessa cota sem imposto adicional o A3 hatch (pelo conceito de similaridade com o sedã) e o próprio Q3, os mais vendidos da marca no Brasil. Para o resto da linha, poderá usar sua cota de importador, cujo teto é de 4,8 mil veículos/ano. Com isso, ficou viável atingir a ambição da Audi de vender 30 mil unidades/ano mercado brasileiro, um crescimento expressivo em relação à previsão de 7 mil este ano.
O Brasil, como quarto maior mercado de veículos do mundo, entrou para o plano estratégico de crescimento global da Audi, que até o fim desta década prevê 14 fábricas em 12 países, com produção de 2 milhões de unidades – este ano já será alcançada a marca de 1,5 milhão. Essa será a segunda maior contribuição para o plano do Grupo Volkswagen de tornar-se o maior fabricante de veículos do mundo até 2018.
“O Brasil é um mercado muito interessante para nós e tenho enfatizado isso nos últimos meses”, disse Stadler. “Estamos confiantes no desenvolvimento do País”, acrescentou. Ele reconhece, no entanto, que a volatilidade cambial dos últimos meses não favorece os negócios, especialmente para quem usará boa quantidade de itens importados na produção de carros aqui. “Será preciso compensar essas variações com hedge ou exportações. Mas acreditamos que mais adiante o câmbio vai se estabilizar.”
“Decidimos no passado parar de fabricar no Paraná porque não havia condições econômicas favoráveis. Essas condições mudaram e observamos um sensível aumento da procura por carros premium no Brasil, um mercado que deverá crescer 170% até 2020. Por isso vemos agora uma grande oportunidade de voltar”, destacou Martens. Ambos os executivos reconhecem, porém, o empurrão do Inovar-Auto nessa decisão: “Com a nova política não seria possível concorrer no mercado sem produção local”, avalia o vice-presidente de compras.
Com a produção local, a estratégia comercial também foi revisada para cima. “Hoje temos aproximadamente 30 concessionárias no País e este número dobrará até 2020”, revelou Jörg Hofmann, recém-chegado presidente da Audi Brasil. “Nós planejamos duas vezes mais pontos de venda com o dobro de entregas em cada um. Ou seja, nossa meta é também aumentar significativamente a lucratividade dos concessionários, que bem remunerados cuidarão melhor de seu investimento e de nossos clientes, com ganhos para a própria marca”, explicou. Ele enfatizou que toda a linha Audi continuará a ser oferecida no mercado Brasileiro, com ou sem produção nacional.
O Brasil é o último país onde a Audi decidiu produzir para sustentar sua estratégia de crescimento global. A montadora está expandindo a sua presença industrial em várias partes do mundo: inaugurou uma nova fábrica na Hungria em junho passado; a partir de 2016 vai produzir no México o SUV Q5 (que poderá sem exportado de lá para o Brasil com isenção de imposto de importação); na Rússia são usadas instalações da Volkswagen para fazer modelos Audi da linha Q; na Índia a marca já produz há seis anos (atualmente faz lá os sedãs A4 e A6 e os SUVs Q7, Q5 e Q3) e este ano pela primeira vez deve superar a marca de 10 mil unidades vendidas naquele mercado; e na China já são produzidas versões alongadas do A4 e A6 e os Q3 e Q5, com aumento do ritmo no fim de 2013 quando começa a operação de uma segunda fábrica. Com tudo isso, em 2014 pela primeira vez serão produzidos mais Audi fora de seu país sede, a Alemanha.
O retorno da Audi para o Paraná vem a confirmar a tendência de entrada de novos players, apontado no estudos Cenários da Indústria automotiva 2020 para a Região metropolitana de Curitiba, consolidando este setor no Estado. A Volkswagen é uma das empresas que compõem o Comitê Gestor do Setor Automotivo.
Fonte: Pedro kutney, AB
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