Publicado em 11/09/2013
Nos últimos anos, o setor automobilístico brasileiro acelerou de forma espantosa. O crescimento econômico, a construção de plantas industriais e os programas de isenção fiscal fizeram do País o quarto maior mercado global de carros. Parte desse desempenho se deve aos modelos compactos, responsáveis por mais de 60% das vendas. Na outra ponta, os bólidos luxuosos, aqueles com valores que superam facilmente a marca dos R$ 200 mil, sempre apresentaram números insignificantes por aqui. Esse cenário, porém, começa a mudar. Agora, não são apenas os populares que fazem sucesso.
Os supersofisticados encontraram no Brasil uma demanda que só é verificada em países ricos, acostumados com automóveis de alta performance, como é o caso de Alemanha, Estados Unidos e Japão. O fenômeno é comprovado pelos indicadores recentes do setor. Entre janeiro e julho, as vendas da Porsche cresceram 140,4% no Brasil. Não se trata de um resultado isolado. Na Rolls-Royce, a alta no mesmo período foi de 100%; na BMW, de 68,2%. Alguns modelos, como o Jaguar XF, que custa em torno de R$ 300 mil, aumentaram suas vendas em mais de 500%.
Uma das explicações para o avanço é a base fraca de 2012, quando os importados sofreram o impacto do aumento do IPI. Mas isso não explica tudo. Uma análise mais abrangente identifica os reais motivos do crescimento do mercado de luxo como um todo, o que inclui automóveis, joias e roupas de grife: o enriquecimento dos brasileiros nos últimos anos. “O boom de vendas dos carros sofisticados é resultado do aumento do número de milionários no País”, afirma Marcelo Bicudo, sócio-diretor da consultoria Epigram. Um estudo da consultoria Capgemini, em parceria com a RBC Wealth Management, aponta que o número de super-ricos no País é de 165 mil – o dobro de uma década atrás. Outro relatório, produzido pela consultoria britânica Knight Frank, mostra que, até 2022, a quantidade de pessoas com patrimônio acima de US$ 30 milhões (cerca de R$ 70 milhões) em São Paulo e no Rio de Janeiro crescerá, respectivamente, 143% e 146%. O que essas pessoas consomem? Porsches, Ferraris e BMWs certamente estão entre suas marcas preferidas.
A alta das vendas é tão expressiva que, em alguns casos, há até fila de espera. O empresário paranaense Alexandre Fernandes, 37 anos, encomendou em maio seu Audi R8, que não sai por menos de R$ 500 mil. A promessa era de que o carro seria entregue em outubro, mas há alguns dias ele recebeu a informação que sua encomenda só chegará no início do ano que tem. “Tudo bem, é uma demora que compensa”, diz. As empresas, claro, comemoram. “O que essas pessoas procuram é um carro realmente exclusivo”, diz Flávio Padovan, presidente da Jaguar Land Rover na América Latina e no Caribe. A marca inglesa apresentou, entre janeiro e julho, um crescimento nas vendas de 368%. O carro-chefe da Jaguar, o XF, saltou de 18 unidades comercializadas nos sete primeiros meses de 2012 para 121 carros vendidos no mesmo período deste ano.
“Nosso cliente avalia em primeiro lugar o desempenho da economia”, diz Marcel Visconde, presidente da Stuttgart Sportcar, importadora oficial da Porsche no Brasil. “Com a alta do PIB neste trimestre, a tendência é crescermos mais até o fim do ano.
A BMW, cujas vendas no Brasil aumentaram 68,2%, também admite que há fila de espera para alguns modelos. Segundo a empresa, o problema será resolvido no ano que vem, quando a montadora alemã inaugurará sua fábrica em Araquari (SC), ao custo de R$ 520 milhões e com capacidade para produzir 30 mil carros por ano. “O Brasil hoje faz parte de um seleto grupo de países com um grande potencial de crescimento para os próximos anos”, diz Herlander Zola, diretor de marketing da BMW Brasil. A decisão da BMW de investir no Brasil estimulou a concorrência. A Audi é uma das marcas que estudam produzir carros de alto luxo no Brasil. “Temos esse projeto, mas é uma decisão que ainda não foi tomada”, afirma Thiago Lemes, responsável pelo setor de vendas da marca no Brasil. A alemã Mercedes-Benz é outra gigante que acredita no potencial do mercado de luxo brasileiro. A empresa planeja trazer em breve o SLS Black Series, com valor previsto em torno de R$ 1,2 milhão. “Com um mercado em plena expansão, trabalhamos com uma parcela bem maior de possíveis clientes”, diz Dirlei Dias, gerente sênior de vendas e marketing da Mercedes-Benz do Brasil.
Fonte: Por Michel Alecrim, Isto é.
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