Publicado em 13/08/2013
"A dona da Volvo". Este será o “slogan” do Grupo Gandini para iniciar a importação e comercialização dos modelos da marca chinesa Geely no Brasil. Os carros passam a ser produzidos neste mês em uma fábrica exclusiva no Uruguai. É uma conquista que a curiosa empresa nascida em 1997 na China atingiu em 2010, sem ajuda de qualquer multinacional.
De sua criação à aquisição da marca de luxo sueca, famosa pelo alto padrão de
segurança, passaram-se 13 anos e, agora, 3 anos depois, a Geely quer ganhar espaço no quarto maior mercado do
mundo, o brasileiro, já com pretensão de fábrica.
Em entrevista ao G1, o presidente da recém-criada
Geely Motors do Brasil, Ivan Fonseca da Silva — ex-presidente da Ford do Brasil —, fala sobre a estreia em novembro
do primeiro modelo, o sedã EC7, que concorrerá com preços ao redor de R$ 55 mil com os japoneses Honda
Civic e Toyota Corolla. E revela a estratégia deste grupo de ascensão rápida, que fechou 2012 com faturamento
de US$ 24,6 bilhões: pensar como sul-coreanos e japoneses. Leia abaixo a entrevista.
G1 — Há quanto tempo o Grupo Gandini (também importador oficial da Kia Motors) estuda trazer a Geely para o Brasil?
Ivan Fonseca da Silva — Em agosto de 2011, o grupo fechou o acordo de representação e importação exclusiva dos carros Geely vindos da China. Mas, em setembro de 2011, veio a barreira do IPI [quando o governo aumentou em 30 pontos percentuais a alíquota do Imposto Sobre Produtos Industrializados sobre os carros importados de fora do Mercosul]. Colocamos, então, os planos em “banho-maria” e fizemos uma nova avaliação do negócio.
G1 — Foi a partir daí que foi cogitada a fábrica no Uruguai?
Silva — Isso. A fábrica no Uruguai foi um pequeno investimento inicial e feito exclusivamente pelos chineses, nós não temos nem o valor do que foi investido. A produção começa agora, em novembro, e tem capacidade anual de 20 mil unidades, por enquanto, dos modelos EC7 (sedã) e CG2 (hatch compacto), para atender os mercados do Uruguai, Argentina, Chile e, o maior, o Brasil.
G1 — Vocês fugiram da estratégia mais comum de uma marca estreante de começar com um carro básico de entrada e partiram já para um sedã que concorre diretamente com Honda Civic e Toyota Corolla. O que levou a isso?
Silva — Nos baseamos no processo japonês e sul-coreano, e não no chinês. Por isso, decidimos trazer um sedã de maior valor agregado, com desenvolvimento tecnológico superior.
G1 — E qual será o preço do sedã no Brasil?
Silva — É difícil trabalhar
com preço de carro importado por causa da flutuação do dólar, mas o EC7 deve chegar em novembro
por preços abaixo de R$ 55 mil [motor 1.8 de 138 cv]. Já o GC2 é um hatch compacto para jovens e queremos
abaixo de R$ 30 mil [1.0 de 68cv]. O hatch vai ser lançado em meados do ano que vem.
G1 —Ainda existe um “pé atrás” dos consumidores brasileiros com os carros chineses. O senhor acredita que isso será um desafio para a Geely ao estrear com um sedã deste porte? O que aprenderam diante da experiência das montadoras chinesas que já estão no mercado nacional?
Silva — Sem arrogância, a Geely é a dona da Volvo. É uma empresa que hoje tem condição de vender na Europa, nos Estados Unidos, em qualquer mercado. Tem padrão para isso.A Geely troca tecnologia com a Volvo e isso faz toda a diferença. Ela acabou de abrir, inclusive, um centro de pesquisa e desenvolvimento na Suécia (em Gotemburgo) para desenvolver carros em conjunto com a Volvo. Daqui pra frente, toda a tecnologia será compartilhada entre as duas, inclusive a criação de novas plataformas comuns.Por isso, o Grupo Gandini não olha a Geely como "mais uma chinesa". Quando o José Luiz Gandini (dono do grupo) viajou à China em busca de uma parceria, não foi em busca de "uma marca chinesa", ele foi em busca da dona da Volvo, da dona da Manganese Bronze, fabricante dos táxis de Londres, da australiana DSI, uma das maiores fabricantes de transmissões do mundo.
G1 — Os carros receberam muitas adaptações para vir para o Brasil?
Silva — Pouca coisa. Devemos lançar motor flex em breve. O EC7 vem com transmissão manual, mas logo terá opção automática. De forma geral, tivemos que fazer uma nova calibragem da suspensão, o encurtamento da relação das marchas, porque os chineses têm um modo de conduzir bem diferente do nosso, e adaptar o interior para o nosso gosto. O brasileiro gosta de interior escuro, já o chinês gosta de acabamento claro, com mais de uma cor.
G1 — Ano que vem o programa de estímulo do governo à indústria automobilística, o Inovar-Auto, entra em vigor. A Geely já tem interesse em instalar fábrica no Brasil para, inclusive, beneficiar-se das regras para quem investir localmente?
Silva — O segundo passo seria a fábrica no Brasil para uma produção adicional, mas esta decisão não está tomada. Provavelmente, será algo decidido lá pelo terceiro trimestre de 2014.
G1 — Fora a questão da produção local, algo que preocupa o consumidor brasileiro em relação a marcas estreantes é a rede de concessionárias, especialmente, o pós-venda. Qual é a estratégia da Geely?
Silva — Vamos começar pequenos, com os pés no chão. Estamos selecionando concessionários com experiência e de alta qualidade. Por isso estamos aqui com um estande no Congresso Fenabrave (o evento organizado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores acontece até esta sexta, 9, em São Paulo). Começaremos com 15 concessionárias nas grandes capitais e a meta é chegar a 25 no fim do ano que vem, sentindo os mercados de maior importância.
G1 — O senhor fala em começar pequeno, qual é a meta de vendas para o mercado brasileiro?
Silva — Pretendemos em todo o ano de 2014 vender 10 mil unidades. Depois, em 2015, vender 20 mil. A tônica da estratégia é começar o negócio pequeno, para controlar efetivamente a relação produto, concessionário e cliente. Se começa errado, é muito difícil corrigir depois, lá na frente.
Fonte: Priscila Dal Poggetto - G1
Envie para um amigo