Publicado em 07/08/2013
Primeiro, foram as bicicletas de aluguel. Agora, chegou a vez dos automóveis serem compartilhados pelos curitibanos, em estações espalhadas na cidade. O sistema, batizado no exterior de car-sharing (compartilhamento de carros) e já bastante comum na Europa, pode soar um tanto quanto insólito aos motoristas da capital, devido a algumas peculiaridades: além de funcionarem com motor elétrico, os veículos terão apenas três rodas.
O projeto, que entra em fase de testes a partir de setembro, aproveita uma invenção 100% paranaense, o triciclo Pompeo, idealizado ainda em 2005 pelo engenheiro e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Renato César Pompeu. Nas ruas, o veículo se chamará Tree City Car, mas manterá o formato enxuto, com dois lugares e uma autonomia de até 250 quilômetros. Apesar de não ser a primeira iniciativa no Brasil de car-sharing, a intenção de se utilizar uma frota 100% elétrica é inédita no país.
Na prática, o motorista fará um cadastro pela internet e, de posse de um cartão, retirará o veículo na estação mais próxima de sua casa, sem a necessidade de um intermediador de carne e osso. Pagará pelo tempo e quantidade de quilômetros que rodar. Depois, devolverá o carro no mesmo local, sem se preocupar com os demais custos que rondam os motoristas, como IPVA, seguro e combustível.
Já que ainda não se sabe como será a aceitação pelos curitibanos, a Carmmon, empresa responsável pelo projeto, está sendo cuidadosa. Inicialmente, a partir de setembro, serão apenas uma ou duas estações, tendo de dois a cinco carros “normais” em cada – os elétricos entram em produção só no início do ano que vem. Os quatro meses servirão para coletar impressões dos usuários interessados e analisar o funcionamento do sistema. Hoje, os motoristas já podem se pré-cadastrar pelo site www.carmmon.com e inclusive sugerir os bairros que devem receber as estações de aluguel. Mesmo os primeiros pontos ainda não estão definidos.
Por trás da Carmmon, está o Optiness, instituto de desenvolvimento econômico criado na Itália
há cinco anos, e que está bancando os custos iniciais do projeto. Conforme o diretor-executivo da Optiness no
Brasil, Antonio De Nes, estão sendo buscadas parcerias entre o empresariado local e o poder público.
A escolha
de Curitiba, segundo o engenheiro, se deu por causa do triciclo elétrico que já estava em desenvolvimento na
cidade e devido ao transporte público considerado satisfatório, conforme pesquisas feitas pela empresa –
como o carro precisa ser devolvido na estação, a intenção é que a alternativa dialogue
com outros modais disponíveis, não deixando o motorista a pé.
Justamente pelo tamanho econômico, com apenas dois lugares, o triciclo elétrico que será compartilhado nas estações de Curitiba terá como foco os motoristas ocasionais, que precisam recorrer a um automóvel para fazer compras ou buscar algum parente na rodoviária, por exemplo. A promessa é de que a alternativa ajude a minimizar o número de congestionamento nas ruas e também a emissão de gás carbônico. Em Milão, uma das cidades europeias em que o sistema de car-sharing se consolidou com outras medidas complementares voltadas ao transporte público e infraestrutura urbana, ocorreu um aumento de 6% na velocidade dos ônibus e redução de 30% no número de motoristas com seus carros próprios no anel central.
Conforme a Carmmon, o triciclo elétrico que será adotado em Curitiba está em fase final de desenvolvimento e deve entrar em linha de produção a partir de dezembro deste ano. Para especialistas, a iniciativa tem potencial para emplacar na capital. “Curitiba já tem toda a estrutura e demanda para receber um serviço deste tipo. É interessante por ser uma possível solução de mobilidade urbana. Mesmo colocando carros na rua, pode reduzir o número total de veículos no trânsito”, afirma o coordenador do Curso de Engenharia de Produção da Universidade Positivo, Glavio Paura.
A primeira iniciativa de car sharing no Brasil surgiu em São Paulo há quatro anos. A empresa Zazcar oferece mais de 60 carros em 45 estações espalhadas pela capital paulista. Os valores do aluguel variam de acordo com o modelo do carro – há desde um veículo básico, como o Fiat Uno, até sedãs de luxo. O combustível é por conta da empresa e alguns estacionamentos oferecem descontos de até 30% para os carros alugados.
14 países da Europa possuem atualmente programas de compartilhamento de veículos, que atendem mais de 380 mil usuários cadastrados. Somente na Alemanha os carros de aluguel são usados por 137 mil motoristas – no país, um único veículo é utilizado por 35 pessoas em média. O número de usuários tem sido crescente e algumas projeções já falam em 5 milhões de pessoas adotando o car-sharing na Europa nos próximos três anos.
Fonte: Gazeta do Povo - Rafael Waltrick
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