Publicado em 22/07/2013
A Renault é capaz de fabricar desde março no Brasil, depois da reforma no complexo de São José dos Pinhais (PR), 380 mil veículos por ano. 80% das peças que compõem esses carros são produzidas por 246 fornecedores instalados no País (concentrados no Paraná, São Paulo e Minas Gerais). Os 20% restantes são importados de vários locais do mundo. A parcela dos 20% é pequena se comparado ao índice de nacionalização da fabricante, mas o desafio do departamento de Supply Chain, responsável pelo abastecimento global, só tem crescido a cada novo projeto.
“Precisamos garantir que todos os componentes sejam importados com preços competitivos e cheguem com qualidade esperada e a tempo às nossas linhas de montagem. Tudo isso já é definido quando nasce um veículo, lembrando que qualidade, preço e prazo sempre têm de caminhar juntos. E eles só conseguem estar em equilíbrio com uma rede mundial de logística completa”, disse Luiz Fernando Pedrucci, diretor de Supply Chain da Renault para as Américas, durante reunião com jornalistas na quinta-feira, 18.
O Brasil tem sido uma rota estratégica do Supply Chain da Renault. Ganhou o seu International Logistics Network (ILN - um centro de consolidação e distribuição de peças) em 2000, construído em uma área de 5 mil metros quadrados a cerca de 2 quilômetros da fábrica de São José dos Pinhais. Pedrucci conta que inicialmente o ILN brasileiro tinha o papel de exportar peças apenas para a Argentina, mas foi ganhando mercados, como o colombiano.
“O País se tornou um player de exportação. São 138 fornecedores brasileiros abastecendo as fábricas da Renault-Nissan no mundo. A Argentina consome 46% das peças que passam pelo ILN brasileiro; Colômbia, 35%; México, 7%; França, 6%; Romênia, 3%; África do Sul, 2% e Índia, 1%.”
De acordo com o executivo, o País exporta principalmente painéis, como o fabricado por um fornecedor de Hortolândia, no interior de São Paulo, que equipa o Duster feito na Rússia, além de motores. “Cerca de 40% dos 400 mil motores produzidos em São José dos Pinhais são exportados para América e Europa.”
Em 2012, o ILN do Brasil, com seus 30 funcionários, enviou 2.270 containers para França, Romênia, África do Sul, Índia, Colômbia e México e destinou 894 caminhões para Argentina. Quase 1,5 mil peças diferentes foram produzidas nas regiões brasileiras e enviadas para os mais variados destinos. No mesmo intervalo, 8.984 containers foram importados pelo ILN com destino a São José.
“O Brasil tem sido um dos ILN mais competitivos do mundo, com gastos de € 5 por cada metro cúbico encaminhado. Na França, o custo chega a ser de € 15 por cada metro cúbico”, apontou Pedrucci. Segundo o executivo essa conta considera as despesas totais de cada ILN versus os volumes exportados.
“O ILN brasileiro está conseguindo atingir volumes cada vez maiores de exportação. Esperamos aumenta-los em 3% neste ano. Mas não devemos esquecer que a situação econômica do país que está comprando os nossos componentes tem forte influencia em nossas operações.”.
A Renault tem estruturado sua cadeia global de suprimentos desde 1975, quando começou a fabricar veículos fora da França. Inicialmente, a empresa criou o sistema Centre CKD (Complete Knock Down), que enviava as partes dos veículos para serem montadas em outros países.
Com o passar do tempo e o avanço da globalização, o sistema logístico mundial da Renault evoluiu. Hoje, chamado de International Logistics Network (ILN), ele conta com oito pontos de consolidação e distribuição de peças - no Brasil, França, Espanha, Turquia, Argentina, Romênia, Índia e Coreia do Sul -, que estão em permanente conexão, buscando, em todo o mundo, os fornecedores que oferecem as melhores condições de produção, considerando não apenas a qualidade do produto, mas também preço e tempo de entrega. Os oito ILN da Renault são responsáveis atualmente por atender as 38 fábricas da empresa em 29 países. E compartilham ainda peças com outros oito centros logísticos (hubs) da parceira Nissan.
Lotes do sistema multimídia Media NAV do Duster, por exemplo, são encomendados pela fábrica de São José dos Pinhais ao ILN da Coreia do Sul, que tem o papel de encaminhar o pedido aos fornecedores de autopeças alocados na China, onde o componente vai ser montado. O ILN da Coreia faz esse meio de campo por ser o mais próximo da China e também por fornecer o hardware do sistema. Feito isso, com todas as peças já em Xangai, o sistema multimídia é montado, passa pelo ILN da Coreia para ser embalado (o maior volume no menor pacote possível), e vem de navio até o Porto de Paranaguá (PR), de onde segue de caminhão até a fábrica brasileira da Renault.
Segundo Pedrucci, o trânsito das peças - da encomenda à fábrica de veículos - pode durar no máximo 14 semanas. O executivo frisa que o papel de cada ILN é calcular as necessidades das plantas, direcionar os pedidos, cobrar dos fornecedores o menor prazo de entrega, e distribuir as peças pelo transporte que seja ao mesmo tempo o mais barato e eficiente. “O ILN não é um armazém, ele não tem a missão de estoque, mas de encaminhamento das autopeças. Cada ILN pode ficar no máximo por dois dias com os componentes”, explicou o diretor.
Para algumas peças, a Renault trabalha com mais de um fornecedor para não correr o risco de ter uma de suas linhas de produção parada por falta de abastecimento. “Na época do tsunami do Japão, enquanto concorrentes foram seriamente prejudicadas, as operações da Renault e da Nissan conseguiram seguir ininterruptamente”, comentou o executivo.
Somente em 2012, os oito ILN da Renault, com os seus mais de 6 mil profissionais, transportaram 3,8 milhões de metros cúbicos em todo o mundo, trabalhando em sinergia com 1.350 fornecedores de autopeças da Aliança Renault-Nissan.
Fonte: Camila Franco, AB
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