Publicado em 07/06/2013
A unidade de sistemas de chassi e segurança da Continental aumentou seu faturamento global de € 5 bilhões para € 7 bilhões nos últimos seis anos. Mais importante, o retorno sobre capital da empresa passou de 0,6% em 2010 para 20% em 2012. “A principal explicação para isso foi a integração de mais tecnologia nos equipamentos que fornecemos aos fabricantes de veículos”, afirma Ralf Cramer, chefe global da divisão, uma das cinco da companhia. A tendência, segundo o executivo, é agregar ainda mais valor tecnológico aos produtos nos próximos anos, razão pela qual a companhia aposta firmemente no desenvolvimento de dispositivos de assistência ao motorista inteligentes, que a partir de 2016 devem equipar os primeiros carros que poderão dirigir sozinhos em certas condições de trânsito.
De imediato, Cramer aponta que a adoção do sistema de controle eletrônico de estabilidade (ESC, na sigla em inglês) em países da União Europeia, Estados Unidos e Japão eleverá ainda mais o faturamento da divisão sob seu comando. “Já fornecemos mais de 20 milhões de sistemas ESC por ano. Com a legislação que torna obrigatória o uso do equipamento em alguns países, nossa estimativa é que nos próximos cinco anos vamos aumentar esse número para 30 milhões”, diz. Pensando nessa demanda crescente, a Continental desenvolveu o MK C1, que integra o ESC com o ABS (antitravamento das rodas) em um único módulo de comando dos freios, incluindo a assistência de frenagem com acionamento 100% elétrico – o que permite que seja usado também em carros elétricos e híbridos, pois elimina o uso da bomba de vácuo acionada pelo motor, trazendo ainda o benefício adicional de não roubar potência e economizar combustível.
“Europa, Estados Unidos e Japão estão mais avançados na adoção de sistemas de radares e assistência ao motorista, mas também há grandes disso tudo chegar mais rápido aos países emergentes, pois o custo está caindo”, informa Cramer. Ele avalia, por exemplo, que após a implantação do uso obrigatório do ABS em países como China e Brasil, erá mais fácil e rápida a introdução de legislação em favor do ESC. “Nos próximos anos, a tendência é de redução do uso do ABS e aumento do sistema completo de estabilidade”, aposta. “Não é só uma questão de custo, mas também de cultura, de aceitação do equipamento de segurança como algo essencial ao carro.”
O executivo avalia que esse será um caminho natural para o Brasil, onde só a partir de 2014 todos os carros vendidos terão obrigatoriamente de ter ABS, sistema que a Continental começou a fabricar este ano em Várzea Paulista (SP). No futuro, caso haja demanda, o ESC também poderá ser feito no País, já que a estratégia da companhia é produzir no próprio mercado a maioria dos seus sistemas – hoje isso acontece com cerca de 80% dos itens fornecidos.
A rota tecnológica da indústria, porém, já está traçada para horizonte que vai muito além de sistemas como ABS ou ESC. O futuro é o da direção automática, com duas motivações principais. Uma delas é tornar o tempo gasto no trânsito muito mais produtivo e confortável, pois o motorista poderá, por exemplo, ler seus e-mails ou assistir TV enquanto o carro se move de forma autônoma, freando e acelerando sozinho no anda-e-para das cidades ou até mesmo em autoestradas. A outra grande motivação é a significativa redução de acidentes, pois o veículo terá o poder de frear ou desviar de obstáculos automaticamente, com velocidade bastante superior ao que consegue fazer um ser humano comum.
Esse é o destino final para a rota dos carros à prova de acidentes que a Continental espera desenvolver. A empresa apoia sua visão/meta na trajetória para baixo dos acidentes inversamente proporcional à adoção de sistemas de segurança passiva e ativa. Usando o exemplo da Alemanha, em uma escala ascendente o país chegou ao pico de mais de 20 mil mortes no trânsito no fim dos anos 1960, quando o cinto de segurança se tornou obrigatório. Desde então as fatalidades vêm caindo de forma constante, com maior força a cada introdução de um novo equipamento, como ABS e airbags nos anos 1980, ESC a partir dos 1990, até chegar a menos de 5 mil mortes em 2013, quando começam a ser lançados os sistemas de assistência de frenagem e direção.
A Continental vem apostando na evolução dos ADAS (Advanced Driver Assistance Systems) desde 1999, com a introdução dos primeiros sistemas de radar e frenagem automática no Mercedes-Benz Classe S. De lá para cá a companhia já desenvolveu mais de 100 projetos nessa linha. Há seis anos os engenheiros integram circuitos de monitoramento e atuação para dar vida à direção automática. Em 2012, um protótipo rodou com bastante sucesso 15 mil milhas no Estado de Nevada, nos Estados Unidos. Em janeiro passado a Continental assinou um acordo de pesquisa conjunta com a também alemã BMW, para desenvolver várias funções de alta automatização.
Os engenheiros envolvidos no projeto do carro automático calculam que ainda serão necessários mais seis a sete anos de testes para fazer o ajuste fino de todas as funções automáticas, mas aquilo que parecia ficção científica já é realidade. No Contidrom, o bucólico campo de provas da Continental perto de Hannover, na Alemanha, um Volkswagen Passat adaptado faz curvas abertas a mais de 100 km/h sem que o piloto toque no volante. Ao deparar com outro veículo parado à frente, o carro freia automaticamente, assim como segue adiante assim que o trânsito se move. Também pode frear bruscamente e desviar de obstáculos em caso de situação de emergência, quando um pedestre cruza a pista, por exemplo. Tudo sem nenhuma intervenção do motorista.
Já em 2016 a Continental estima que serão lançados os primeiros carros com direção automática, mas inicialmente só para uso no trânsito das cidades, em velocidades abaixo de 30 km/h, depois disso o motorista retoma o controle. O salto para a condução mais automatizada, a até 130 km/h, deverá ocorrer após 2020, mas ainda com algumas intervenções manuais. A partir de 2025 a previsão é de que o motorista será um mero coadjuvante, pois o carro poderá tomar decisões completamente autônomas em modo automático, como por exemplo escolher o caminho mais adequado em função do tráfego, já que o veículo também será conectado à internet e receberá todas as informações de que precisa para se mover com maior rapidez e economia de combustível.
O funcionamento do sistema envolve a integração de diversos sensores e atuadores. O carro automático
é equipado com radares frontal, laterais e traseiros, capazes de monitorar o ambiente externo 360°. Também
usa no para-brisa um módulo com câmera dupla e sensor infravermelho, que funcionam como os olhos do veículo,
identificando objetos, pedestres, veículos e até mesmo placas e sinais de trânsito, para ajustar automaticamente
o limite de velocidade ou mesmo parar no semáforo vermelho. Todas as informações captadas vão
para uma central eletrônica que emite comandos à direção, acelerador, freios, câmbio e suspensão.
Existem
ainda muitos outros sistemas sendo desenvolvidos em paralelo, que podem complementar a direção automática
com avançado monitoramento externo e elevada conectividade. Um carro atual tem de 40 a 60 centrais eletrônicas
que podem “conversar” entre si e enviar e receber informações via internet – como, por exemplo,
monitorar a pressão dos pneus, o nível de óleo ou o ajuste do banco, ações que podem ser
feitas a partir de um smartphone.
Sensores colocados ao redor do carro podem acionar avisos sonoros e luminosos nas laterais e no painel, para alertar o motorista sobre veículos passando ao lado ou cruzando à frente. A Continental recentemente comprou uma pequena empresa que desenvolveu um sistema que, a partir de imagens captadas por quatro pequenas câmeras, cria numa tela central a realidade virtual de todo o entorno do automóvel. Pode-se ver de cima o carro e tudo que está ao seu redor, como se estivesse em um helicóptero, ou monitorar as laterais, frente e traseira. Essas informações podem ser transmitias a uma central de comandos para acionar freios ou a direção. Mas também podem ser transmitidas ao vivo na internet, caso o motorista queira.
Um novo sistema de telemática desenvolvido pela Continental conecta o carro à internet em alta velocidade, capaz de trafegar 100 megabits por segundo. O veículo também se transforma em um provedor de wifi, que pode conectar à rede smartphones e computadores dos seus ocupantes. Aliado à direção automática, o sistema torna a vida a bordo muito mais confortável e produtiva. Com isso, é provável que, num futuro não muito distante, o trânsito se transforme de tempo perdido em período para trabalhar ou se divertir.
Fonte: Pedro Kutney, AB
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