Publicado em 02/04/2013
Está nas mãos do governo o estudo para preparar o programa de medição de conteúdo local, que servirá de base oficial para calcular o índice de nacionalização dos veículos fabricados no Brasil, conforme prevê o novo regime automotivo, o Inovar-Auto. Preparado pela consultoria IHS Automotive América do Sul, o estudo foi entregue em 18 de março, mas, segundo o diretor das operações da empresa para a indústria automobilística, Paulo Cardamone, as regulamentações que vão orientar a indústria não têm data prevista para sua publicação.
“O governo está trabalhando na edição final de todas as portarias no que tange o Inovar-Auto, mas nada no governo se trata em questão de semanas ou meses. Apesar disso, o governo tem pressa, porque isso está ligado a imposto. Tem de sair o mais rápido possível”, ponderou Cardamone durante o painel que abriu o IV Fórum da Indústria Automobilística de Automotive Business, realizado segunda-feira, 1º, no WTC, em São Paulo.
Em sua palestra Vencendo os Desafios do Inovar-Auto, Cardamone revela que o modelo de medição de conteúdo local entregue ao governo recomenda um sistema simples, eficiente e barato, e que sugere ao próprio governo primeiro entender em que grau e nível está a indústria atual com relação a conteúdo, incluindo autopeças, para assim aplicar o programa. No entanto, ele alertou que, por si só, aumentar o conteúdo local não garante elevação do nível de competitividade, um dos principais pontos do Inovar-Auto, e que merecem atenção outras vertentes da nova política industrial automotiva, como a eficiência energética, que segundo ele, é o maior avanço dentro da nova legislação. Para isso, o executivo aponta que o governo deve ser soberano e atacar pontos cruciais que fundamentam o aumento da competitividade.
“Tem que ajustar pontos críticos para a indústria, com medidas que afetem os custos, independentemente dos grupos envolvidos; precisa rever custos da matéria-prima, como aço e plástico, olhar para a questão da energia elétrica e os custos atrelados à mão de obra. O governo precisa também concordar em ser sócio minoritário. Hoje, 33% do custo de um carro é dele”, afirma.
Para Cardamone, o foco do Inovar-Auto deve ser o consumidor, o que deve gerar uma reversão no desenvolvimento de modelos para atender os compradores de baixa renda. Ainda assim, ele alerta que o Brasil não tem evoluído em veículos com mais conteúdo ou em modelos que contemplem outras categorias além da B, os veículos leves compactos, que são predominantes no mercado nacional.
“Quanto mais competição, melhor. Só precisamos torcer para que o Inovar-Auto não se torne só um ‘Importar-Auto’. É a competição que vai fazer com que os carros sejam melhores para os consumidores”, disse.
Os desafios que traz o Inovar-Auto ainda passam, segundo Cardamone, por tornar viável a capacitação para a inovação e estimular o debate sobre mobilidade.
“Não há investimento em infraestrutura que suporte o crescimento da mobilidade que temos hoje. É importante manter o crescimento da capacidade produtiva da indústria e ela deve ser sustentada com a criação de um programa de reciclagem: tirar das ruas um milhão de carros poluentes, no mínimo, e trazer ao consumidor soluções mais sustentáveis.”
Com um cenário composto de todos os desafios apresentados, a IHS Automotive América do Sul prevê um mercado brasileiro menos acelerado nos próximos anos, sendo a falta de investimentos em infraestrutura e mobilidade sustentável um fator que afetará o crescimento no futuro. O aumento da renda impactará positivamente, revelando uma demanda reprimida de compradores de seus primeiros veículos.
Segundo os dados da consultoria, a produção não deve ultrapassar os 3,31 milhões de unidades este ano, crescimento de 3,8% sobre o ano passado. Será puxada pelos ajustes de estoques. Já os licenciamentos devem chegar a 3,60 milhões de veículos em 2013, contra os 3,63 milhões de unidades registradaos em 2012.
No médio prazo, até 2019, a previsão de crescimento para o composto vendas mais produção é de 5% ao ano. Para Cardamone, as grandes marcas que lideram o mercado - Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen - continuarão a perder participação no mercado, enquanto as asiáticas Honda, Hyundai e Toyota ganham fatia cada vez maior. Os investimentos das newcomers ajudarão a aumentar a competitividade no varejo.
“Nem sempre produzir é o mais complicado: vender ainda é o mais difícil”, conclui.
Fonte: Sueli Reis, Automotive Business
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