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Publicado em 07/05/2018
Foi o crescimento e o desenvolvimento econômico, atrelados à cultura ervateira, que deram sustentação à elevação da então comarca de Curitiba à condição de província, em 1853. Não é à toa que, além da araucária, o ramo da erva-mate estampa o brasão do estado.
Hoje, 165 anos depois e na esteira de grandes transformações sociais e agronômicas, o cultivo se reinventa para continuar vivo, com novos produtos e canais de comercialização.
O Paraná continua sendo o maior polo ervateiro do país, com 512,4 mil toneladas anuais ou 54% da produção nacional, de acordo com os dados mais recentes do IBGE.
No entanto, diferentemente do Rio Grande do Sul e da Argentina, onde se cultiva a erva-mate principalmente a céu aberto, por aqui o predomínio é da planta nativa, que cresce naturalmente sob a sombra das araucárias e recebe apenas o manejo dos produtores.
?A qualidade nesses sistemas é muito superior, porque a erva-mate cresce de forma natural, quando a floresta atingiu o clímax?, explica o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Francisco Paulo Chaimsohn. ?É uma planta importante pelos compostos secundários, que dão a ela qualidades energéticas, nutracêuticas, medicinais. E isso é muito sensível às condições microclimáticas e do solo. Por isso, [a nativa] é superior, o que é reconhecido pela indústria?, acrescenta.
Ainda de acordo com Chaimsohn, a erva-mate cultivada a pleno sol, apesar de ter produtividades maiores, é mais suscetível a pragas e doenças, o que leva à maior utilização de defensivos. ?O Paraná produz mais de 80% da erva-mate sombreada no Brasil. Grande parte do mercado do Uruguai é abastecida com erva do Paraná?, pontua.
Segundo um levantamento do Instituto de Florestas do Paraná, vinculado à secretaria estadual de agricultura, a erva-mate é o principal produto florestal fora do segmento madeireiro. O Valor Bruto da Produção (VPB), calculado com base na produção e no preço pago aos produtores, gira em torno de R$ 530 milhões.
Contudo, se no passado os ?Barões do Mate? fundaram bairros e deram seus nomes a ruas de Curitiba, a estimativa é de que, hoje, entre 70% e 80% da produção saiam de pequenas propriedades, sobretudo no Sul. ?Ela é colhida a cada dois, três anos. Se o produtor tiver uma área um pouco maior, pode conduzir a propriedade no sentido de colher o ano todo. A erva gera uma renda importante para o pagamento das contas, a reforma da casa, atividades familiares. É uma poupança muito importante para manter essas famílias?, diz o pesquisador.
Além da importância econômica, o mate sombreado, aponta Chaimsohn, desempenha um papel de preservação ambiental. Tal qual no brasão paranaense, araucárias e erva-mate também se complementam no campo. ?Se a gente pegar o mapa do Paraná, há três grandes áreas de conservação de floresta: no litoral, com a mata atlântica; em Foz do Iguaçu, em função do parque nacional; e no Centro-Sul e Sul do estado, em grande parte pela presença da erva-mate?, frisa.
Mesmo com o forte laço cultural, quando o assunto chega ao campo, a erva-mate, assim como qualquer produto agrícola, enfrenta a concorrência de outras culturas ? e nem sempre leva vantagem. Nos últimos anos, o valor pago ao produtor tem oscilado bastante: de R$ 6 por arroba em 2011, passou a R$ 18 em 2014, em função da defasagem entre oferta e demanda.
O cultivo ganhou fôlego, a produção aumentou, mas os preços voltaram a cair. Hoje, a arroba está na faixa de R$ 14. A estimativa do Instituto de Florestas do Paraná é de que o mercado esteja evoluindo para o equilíbrio. Contudo, para ser um cultivo histórico ? e não virar história ? a erva-mate tem o desafio de encontrar novos caminhos, sem romper com a tradição.
Fonte: Gazeta do Povo
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