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Publicado em 27/03/2018
Pesquisadores testaram com sucesso uma nova alternativa que pode facilitar o aproveitamento do bagaço de caju, e outros materiais semelhantes (lignocelulósicos) em biorrefinarias. Eles conseguiram separar os componentes do material utilizando um líquido iônico que apresentou vantagens em relação a outros tipos de reagentes. O estudo pode contribuir para o aproveitamento de resíduos agroindustriais ricos em celulose.
O material utilizado no estudo é formado por lignina, celulose e hemicelulose. Como todos os materiais lignocelulósicos, exigem um pré-tratamento para a separação da celulose dos demais componentes. Após essa liberação, a celulose pode ser quebrada em açúcares menores, então utilizados para a produção de diferentes moléculas dentro do conceito de biorrefinaria. O grande problema é que para pré-tratar o bagaço de caju, até agora, eram necessárias condições drásticas, como altas concentrações de reagentes, altas temperaturas e alta pressão.
Os pesquisadores resolveram, então, testar como solvente uma espécie de sal líquido, conhecido tecnicamente como líquido iônico prótico, sintetizado na Universidade Federal do Ceará (UFC). O Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais da Embrapa caracterizou esse reagente e comprovou os resultados.
As amostras que passaram pelo tratamento apresentaram rendimento de glicose muito superior ao apresentado pela maioria dos tratamentos aplicáveis ao bagaço de caju. Com a vantagem de esse líquido poder ser reaproveitado, pelo menos três vezes, diferentemente dos demais reagentes.
Os pesquisadores acreditam que o solvente pode apresentar consideráveis vantagens ambientais e econômicas pela possibilidade de reutilização - hipótese que ainda deve ser avaliada em estudos posteriores. Os responsáveis pelo estudo também desejam testar o método com outros materiais lignocelulósicos.
Segundo a professora Maria Valderez Ponte Rocha, do Departamento de Engenharia Química da UFC, é possível obter da celulose e da hemicelulose do bagaço de caju vários carboidratos de interesse. Um deles é a xilose, da qual se produz o xilitol, um edulcorante com poder calorífico menor que a sacarose, utilizado como adoçante em cremes dentais infantis e outros produtos.
Outra possibilidade é o aproveitamento da glicose para a produção do 2-feniletanol, aroma utilizado pela indústria de perfumaria e alimentícia. Ainda utilizando-se o conceito de biorrefinaria, outra possibilidade é o aproveitamento da lignina, abundante no bagaço de caju. O material, que fica precipitado no líquido iônico, pode ser usado na produção de intermediários químicos e adsorventes (sólidos que retêm moléculas) e para gerar energia a partir de sua queima.
O uso de um líquido iônico no pré-tratamento de material lignocelulósico para a produção
de bioprodutos era, até então, uma hipótese considerada improvável. Isso porque as versões
comerciais desses reagentes normalmente são caras, o que inviabiliza aplicações industriais.
O reagente
utilizado no estudo é um líquido iônico que, em escala laboratorial, estimou-se 50 vezes mais barato que
os similares disponíveis. O solvente foi produzido pela UFC e, de acordo com a professora Valderez Ponte Rocha, sua
síntese é simples e envolve reagentes precursores de baixo custo e condições brandas. “Ele
pode ser produzido no ambiente industrial facilmente”, explica. Os pesquisadores pretendem, no futuro, realizar estudos
de elevação de escala e de viabilidade econômica para o reagente.
Para provar a eficiência do líquido iônico, a Embrapa caracterizou o reagente, bem como os resultados dos processos. Os pesquisadores observaram que ele é quimicamente e termicamente estável. “A UFC estava produzindo esse líquido, mas precisava comprovar a formação do sal orgânico líquido”, destaca o pesquisador Kirley Canuto, da Embrapa Agroindústria Tropical.
Canuto acredita que a nova solução pode ser testada no aproveitamento de outros materiais lignocelulósicos. Para ele, uma das grandes vantagens do método é a possibilidade de reaproveitamento do líquido iônico, o que pode reduzir custos e impacto ao meio ambiente.
Cerca de 70% do pedúnculo de caju produzido no Brasil ainda é desperdiçado devido ao curto período de safra, à reduzida estabilidade pós-colheita e à pequena capacidade de absorção da indústria. Isso é muito, já que essa parte, conhecida como maçã do caju, corresponde a 90% do fruto.
O bagaço de caju, que sobra do processamento do suco, apresenta açúcares, vitaminas e sais minerais. É rico em fibras e outros compostos com propriedades funcionais, além de ser fonte de polifenóis e carotenoides. Inúmeras possibilidades de aproveitamento desse material estão em estudo na Embrapa Agroindústria Tropical.
Fonte: Embrapa
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