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Publicado em 27/03/2018
A proximidade de mais uma virada de década já coloca em alerta produtores e varejistas de alimentos em todo mundo: mudanças importantes de hábitos estão acontecendo e é hora de se rever procedimentos e estratégias para novos investimentos. Levantamento feito pelo Cepea/USP aponta que uma das principais tendências para os próximos anos está no perfil do consumidor, cada vez mais engajado e adepto da “alimentação consciente” ou, em inglês, “mindful eating”, expressão usada globalmente para marcar o conceito.
Para este grupo de pessoas, verificar cada etapa de produção de um alimento é fundamental para a decisão de compra. Não basta saber se é saudável, verificar se o agricultor, fabricante e distribuidor têm passivos ambientais ou trabalhistas, por exemplo, pesa na escolha.
“Hoje fica muito simples buscar estas informações na internet. Esse é um movimento que já acontece com força no exterior e que dá seus primeiros passos no Brasil. É importante ter em mente que a tendência é que ele não pare de crescer. Algumas redes de supermercados, inclusive aqui no Brasil, já têm selos de sustentabilidade e qualidade em suas frutas, legumes e hortaliças. Esse é o caso do Carrefour e do Pão de Açúcar. Para os exportadores, esta já é uma realidade frequente”, conta Letícia Julião, pesquisadora do Cepea.
O centro de estudos da USP levou em conta diversas pesquisas nacionais e internacionais de comportamento de consumo de alimentos, trouxe os pontos para a realidade brasileira e elencou as tendências que devem virar atos cotidianos em um futuro próximo.
“É muito importante que produtores e varejistas estejam atentos a estas mudanças de comportamento. Elas vão nortear investimentos futuros, decisões de negócio”, avalia ela.
Um aliado do consumidor neste processo tem sido as mídias sociais, tanto para se denunciar o que está fora dos padrões de “mindful eating”, quanto para divulgar boas práticas. “Produtores e varejistas vão precisar ser cada vez mais transparentes. Uma boa ação consciente, como o caso de fabricantes de tomates aqui no Brasil que já usam itens que seriam descartados para a venda em mercados para fazer ketchup, ganha destaque dentro deste público. Por outro lado, um problema pode ganhar proporções internacionais”, exemplifica a pesquisadora.
Um caso emblemático disso ocorreu em 2016, quando um único post no Facebook foi capaz de exaltar a importância de agricultores canadenses e abalar uma das gigantes do mercado de alimentos, a Heinz. Tudo porque um morador de uma cidade onde a marca desativou uma fábrica de ketchup convocou um boicote ao produto da empresa, uma vez que este vinha de fora e não era feito com tomates locais. Em contrapartida, o autor do post sugeria a compra do produto de outro fabricante, a French´s, este sim feito com frutos locais. Em poucos dias a venda de ketchup Heinz despencaram em diversas cidades canadenses, enquanto que as da concorrência, dispararam.
O peso das mídias sociais e dos padrões de consumo serão ditados pelos millennials, ou geração Y. Fazem parte deste grupo pessoas que nasceram entre 1980 e 1999 e que atualmente têm entre 18 e 38 anos de idade. Dados divulgados no Congresso Nacional das Relações Empresa-Cliente (Conarec) em 2017 mostram que, até 2025, os millennials serão o maior extrato populacional do Brasil – 76% dos consumidores serão compostos por esta geração e parte da geração Z (nascidos a partir de 2000).
Os millennials estão no auge da maturidade financeira. Além da preocupação com a sustentabilidade do meio ambiente, esta geração não quer perder tempo e valoriza a qualidade do alimento, a experiência de consumo e o relacionamento com o fabricante – no caso dos hortifrútis, com o varejo ou com o produtor. Além disso, para se relacionar com esse consumidor, os produtores e o varejo têm que estar dispostos a adotar uma postura que gere confiança e reciprocidade.
“Ganham espaços alimentos saudáveis, com procedência confiável e que estejam prontos para o consumo: lavados, cortados, pré-prontos… É isso que busca o consumidor da próxima década. Diante desta informação, é possível, por exemplo, decidir por investir em algum negócio nesta área. Um produtor pode não apenas cultivar, mas também já pensar em um alimento pré-pronto, embalado” , aponta Letícia.
Fonte: SNA
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