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Publicado em 19/03/2018
Ainda estamos um pouco distante de comprarmos carne desenvolvida em laboratório ou pedaços de lombo cultivado em tubos. Contudo, na medida em que investidores fazem aplicações nos chamados fundos de carne limpa, os produtores de carne assinam petições para que os novos produtos não contenham rótulos de carne ou bife.
Os pecuaristas dizem que tais rótulos escondem a origem desses novos produtos – carnes que crescem a partir do cultivo de células em laboratórios, e não em animais. Ainda que os produtores afirmem que não estão preocupados com a concorrência no futuro, os nomes que esses produtos levam podem determinar seu sucesso.
“Carne limpa” tem certo apelo, afinal. Já “carne produzida em laboratório” soa como algo parecido a restos moídos e transformados. Por essa razão, produtores rurais, indústria e advogados da carne limpa estão comprometidos a travarem uma longa batalha sobre o uso de termos que descrevem carne cultivada, e como essas definições serão empregadas.
“Estamos muito preocupados com rótulos verdadeiros” afirma Lia Biondo, porta-voz da Associação dos Pecuaristas dos Estados Unidos. “Nossos associados querem levar aos consumidores toda a informação necessária para decisões [de compra]”.
O grupo de Biondo não está sozinho nessa empreitada, ainda que tenha sido o primeiro disparar na “Guerra da Carne Limpa”. No último mês, a Associação dos Pecuaristas apresentou uma petição para que o Departamento da Agricultura dos Estados Unidos (USDA) impeça que companhias de cultivo de carne em laboratório utilizem termos como “carne”. Ainda que o USDA tenha recebido a petição, devem levar anos para que as agências apresentem uma resposta formal - isso se responderem.
Em separado, a Associação Nacional dos Produtores de Carne dos Estados Unidos (NCBA), um forte grupo da indústria, já começou a se reunir com o USDA e a Administração de Alimentos e Medicamentos para avaliar a regulação de rótulos sobre carne cultivada e outros produtos.
A organização está preocupada não apenas sobre o uso do termo “carne limpa”, mas também sobre o potencial uso de selos de qualidade do USDA e a divulgação de fatos de que produtos de carne cultivada não vêm de animais convencionais, alega Danielle Back, diretor de relações governamentais do NCBA. Os produtores de carne não querem que os consumidores tenham a impressão de que carne cultivada tem as mesmas inspeções qualidade e segurança que um bife convencional, complementa Back.
Ambas as organizações estão reagindo de forma rápida ao crescimento de um punhado de startups bem gerenciadas e capitalizadas que buscam clonar amostras de tecido animal. Enquanto o campo ainda é pequeno, investimentos recentes de gigantes do setor de carnes como Tyson e Cargill têm consolidado a impressão de que essa inovação possa ganhar força, impulsionada por preocupações crescentes com os custos ambientais da agropecuária.
Os produtores de carne dizem estar preocupados que consumidores não vão entender completamente a diferença entre seus produtos e dos novos concorrentes.
Líderes de alternativas à carne no mercado, como a Beyond’s Meat Beyond Burger e a Impossible Foods, tipicamente utilizam termos como “a base de plantas”. Esses produtos, que utilizam proteínas vegetais isoladas para imitar carne, são essencialmente a segunda geração de hambúrgueres veganos de soja e feijão que se tornaram populares nos anos 1980 e 1990.
A carne cultivada vai ainda mais longe, e não está claro como esses produtos irão se diferenciar. Os pecuaristas já começaram a se arrepiar com nomes como “carne limpa” ao invés de “cultivada” ou “desenvolvida em laboratório” - que seriam mais claras ao descrever esses produtos.
“Temos um grande problema com isso”, afirma Beck, da NCBA. “Isso implica em algo negativo sobre nosso produto, e não acreditamos que tenha base em fatos ou na ciência”.
Entretanto, as empresas não têm a intenção de desistir do nome “carne limpa”, afirma Jessica Almy, diretora de políticas do Instituto Good Food (Bom Alimento, em português), que defende alternativas à carne animal convencional. Almy argumenta que os reguladores não tem o poder de regular seletivamente o uso dos nomes de alimentos. Mesmo que eles fizessem isso, acrescenta, não há motivos suficientes para esse caso, já que não há evidencias que os consumidores sintam-se enganados pelo uso de palavras como “carne” ou “bife” para descrever proteínas desenvolvidas em laboratório.
O termo carne limpa, em particular, tem o objetivo de comunicar os benefícios ambientais de produtos feitos a partir de carne cultivada, segundo Almy. “Penso que a Associação de Pecuaristas deveria enfrentar essa concorrência”, afirma. “Se eles realmente acreditam no produto deles, então devem deixar os consumidores decidirem no mercado, por si próprios”.
Claro, o nome que for eventualmente definido para a “carne limpa” pode afetar fortemente a performance no varejo - um fato que é observado de perto pelos fazendeiros. As divulgações nos rótulos sempre carregam custos para as pessoas, afirma Glynn Tonsor, economista agrícola do Estado do Kansas.
Neste momento, afirma Tonsor, a carne limpa ainda é um nicho de mercado que não ameaça as vendas dos pecuaristas. Para que se torne uma ameaça, a carne limpa precisa conquistar consumidores da carne tradicional – e o rótulo com que for apresentado pode afetar isso.
“Já existem muitas proteínas à venda”, afirma Tonsor. “Mas essa é a primeira que utiliza o termo ‘carne’ em seu marketing e rótulos”.
Fonte: Gazeta do Povo
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