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Publicado em 06/10/2017
Sistemas de produção instalados com a orientação de associações de produtores em Minas Gerais têm adotado o cultivo orgânico de hortaliças como boa opção para a região. Outros produtos também estão sendo introduzidos com bons resultados. É o caso do milho. A cultivar da Embrapa BRS Caimbé, uma variedade de ciclo precoce recomendada para a agricultura familiar, apresenta adaptabilidade às principais regiões do País.
Há duas safras, os horticultores da Serra do Rola Moça, em Ibirité (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte, conheceram esse material por intermédio do assessor técnico da Associação No Ato Ambiental, Luiz Carlos Quaresma Lemos. “Pensamos em oferecer para os agricultores um milho crioulo, um milho variedade, que pudesse garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade, mas que fosse ao mesmo tempo um material genético de qualidade. Em contato com a Embrapa, soubemos da existência dessa semente orgânica de milho”, diz Quaresma.
A partir daí, dois agricultores plantaram a semente em um terreno de pouco mais de mil metros quadrados, no alto da serra, em uma área que anteriormente era usada para o cultivo de hortaliças. Todo o cultivo foi feito de forma orgânica. “O milho sofreu um ataque de lagartas e depois, para nossa surpresa, teve um arranque e conseguimos uma produção muito boa. Os agricultores conseguiram fazer a colheita e fizeram a seleção das melhores espigas. Fizemos também a seleção dos grãos e replantamos. Agora, a safra dessa colheita está melhor que a primeira”, afirma o assessor técnico.
Com poucos recursos, os agricultores Geraldo Cezar e José Altair, da Associação dos Agricultores Agroecológicos da Serra do Rola Moça, mostram com orgulho sementes da última colheita do milho guardadas em embalagens do tipo pet. Vão replantar na próxima safra, assim que começar a chover. Para eles, que plantaram a roça sem fazer correção do solo, sem adubar e sem controle de pragas ou doenças, o desempenho da cultivar surpreendeu. “Não fizemos controle de pragas, não usamos agrotóxicos, não usamos nada. Foi plantado com enxada, na cova, e produziu muito bem”, diz o agricultor Geraldo Cezar.
Para José Altair, a resistência do milho ao ataque de pragas, como a lagarta-do-cartucho, e a produção alcançada foram os diferenciais. “Pra mim, o milho é muito bom, porque só jogamos a semente na terra, demos uma capina e ele deu um bom milho, uma boa produção. Só de ter dado um bom milho, já é sinal de que ele pode expandir para outras pessoas, já que temos a semente. Foi uma produção boa e pela área que plantamos, eu achava que não ia dar o tanto de milho que deu. Vocês estão vendo o resultado aí. Pra nós foi muito bom, graças a Deus”, diz.
Toda a produção orgânica da cultivar BRS Caimbé na Serra do Rola Moça é destinada para o consumo próprio dos agricultores. Do milho verde, passando por pamonha e curau para as famílias, e do milho em grão se transformando em fubá ou alimento para pequenos animais, como porcos e galinhas. “O que a gente quer é que os agricultores tenham esse material genético para continuar produzindo, garantindo a sustentabilidade, a segurança alimentar das suas famílias e que possam ter um alimento de qualidade”, diz Quaresma. Ele conta ainda que as associações pretendem fazer a difusão do milho da Embrapa para outros agricultores da região, tendo a garantia de uma semente de qualidade em mãos.
A cultivar da Embrapa BRS Caimbé é comercializada pela empresa Grãos Orgânicos desde o segundo semestre de 2015. Após testes e validações feitos pela Embrapa em sistemas orgânicos de produção, a licenciada comercializa sementes orgânicas da variedade. O mercado dos chamados “produtos limpos” é promissor: movimenta US$ 43,3 bilhões nos Estados Unidos e US$ 31,1 bilhões na Europa, com destaque para hortaliças, frutas, alimentos para bebês e substitutos da carne. As informações, de 2015, são de duas instituições europeias: Research Institute of Organic Agriculture (FiBL) e International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM).
No Brasil, segundo dados do Centro de Inteligência em Orgânicos, da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), a área plantada com orgânicos chega a 750 mil hectares, sendo que o País ocupa a 12ª posição entre os principais produtores e a quinta posição entre os países emergentes, atrás de Uruguai e Argentina. O mercado apresenta crescimento de 20% ao ano, sendo que as vendas totais alcançaram R$ 2,5 bilhões em 2016. Em se tratando de milho, Carlos Thomaz Lopes, sócio-gerente da Grãos Orgânicos, afirma que a área plantada estimada está em 3,3 mil hectares, o que representa apenas 0,018% das lavouras ocupadas pelo cereal no País.
Marcelo Dressler, analista da Embrapa Produtos e Mercado, que esteve à frente do processo de licenciamento da variedade BRS Caimbé, acredita que o crescimento do consumo de orgânicos é uma tendência irreversível. “Ainda está em volumes pequenos, mas crescentes. Acreditamos que exista um espaço para o desenvolvimento de novas cultivares, adaptadas para cada região e cada perfil de produtor. A Embrapa está disponível para conversar, visando fortalecer esse elo da cadeia com o fornecimento de sementes orgânicas”, afirma.
O empresário Carlos Thomaz Lopes compartilha da mesma opinião. Ele está na cadeia de orgânicos desde a década de 1990 – já cultivou limão taiti e agora está investindo pesado na produção de sementes orgânicas de milho e de feijão-de-porco e tem pretensões de oferecer também material orgânico de soja até o final deste ano. “Os produtos orgânicos, principalmente leite, frango e ovos, têm tido um sucesso extraordinário. Eles têm puxado uma necessidade de ração que não está sendo atendida suficientemente pelos produtores de grãos. Isso é ajustado no mercado em uma condição muito favorável de preço para o produtor de grãos”, diz.
Sobre as dificuldades de se produzir de forma orgânica, Carlos Thomaz acredita no sucesso a partir de mudanças de conceitos. “A agricultura orgânica trabalha a partir de um conceito único, de sustentabilidade, no sentido de que não só o produto deve ser limpo, mas também todo o processo de produção. É preciso respeitar as necessidades do próprio ambiente no qual você está produzindo. Então, você tem que ter preocupação com relação à água, com todo o entorno que você tem na fazenda. Tudo isso é amarrado dentro de um conjunto de regras bem definido que a legislação brasileira exige”, diz.
No caso da cultivar BRS Caimbé, o sistema orgânico de produção é bastante complexo. “Nosso objetivo é aliar eficiência técnica e econômica com equilíbrio e respeito à biodiversidade”, afirma o técnico agrícola Virgínio Gonçalves, da Embrapa Milho e Sorgo. Segundo Walter Matrangolo, pesquisador da mesma Empresa, os principais desafios da pesquisa são a busca de mais recursos financeiros para a geração de resultados; o fortalecimento dos processos de produção, intercâmbio e comercialização das sementes; a integração de saberes com a aproximação entre os conhecimentos tradicional e científico.
Fonte: SF Agro Uol
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