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Publicado em 18/04/2017
Entre 2005 e 2015, a produção do peixe mais cultivado no Brasil, a tilápia (Oreochromis niloticus), deu um salto de 80% com a modernização e a intensificação da produção tanto em tanques-rede em reservatórios como nos viveiros escavados. Esses dados foram observados durante a execução do projeto “Impactos socioeconômicos da tilapicultura no Brasil” executado pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) e parceiros, que visitou sete grandes polos de produção da espécie: Orós e Castanhão, no Ceará; Submédio e Baixo São Francisco, na divisa dos estados da Bahia, Pernambuco e Alagoas; Ilha Solteira, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, regiões Norte e Oeste do Paraná e Baixo Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
Clima favorável, a rusticidade da espécie aceitando diferentes sistemas de produção; alta demanda dos produtos; além do bom resultado em cultivos intensivos, todos esses fatores contribuíram para alavancar a produção da tilápia no País.
A regulamentação do uso das águas públicas para cultivos intensivos de peixes em tanques-rede impulsionou o cultivo da tilápia, sendo a espécie responsável por 90% das solicitações de áreas aquícolas no País. A médica-veterinária Renata Melon Barroso, da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), coordenadora do projeto, comenta: “A concessão do uso de águas de lagos e reservatórios de hidrelétricas permitiu que piscicultores iniciassem a produção sem precisar ter a posse dessas águas, acelerando o crescimento dessa indústria no País”.
O estudo detectou também o aumento da tecnificação da produção e do profissionalismo dos produtores em muitos Polos, o que contribuiu para um incremento substancial na produtividade. “O uso de equipamentos, associado a práticas de manejo com controle dos parâmetros de cultivo, permitiu o adensamento da produção também nos viveiros escavados, aumentando a produtividade que, em Polos que se baseiam no uso de viveiros de terra, como no Paraná e em Santa Catarina, saltou de 30 para 50 toneladas por hectare”, conta Renata Barroso.
De acordo com a especialista, a justificativa do aumento da produtividade seria o maior profissionalismo dos piscicultores que compreendem que, para serem competitivos e se manterem na atividade, é necessário ter controle do seu negócio, usar mecanismos de registros de custos, maior cuidado com o manejo e da qualidade das águas de cultivo. A rentabilidade da tilapicultura, que pode variar de 10 a 20% para o produtor, tem levado a um maior investimento com aquisição de equipamentos que melhoram a qualidade da água e automatizam o cultivo, assim como em rações premium. Nos polos mais tecnificados, os cientistas observaram o uso de aeradores, ventiladores que aumentam a quantidade de oxigênio na água, permitindo a criação de mais animais no mesmo espaço, alimentadores automáticos, classificadores e contadores, entre outros equipamentos.
Ótima aceitação em todas as regiões
Omar Sabbag, professor do campus
de Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), conta que a tilápia
é responsável por mais de 30% da aquicultura brasileira. Para ele, no atual cenário, é grande
a perspectiva de crescimento da espécie no mercado interno. “Há espaço para expansão especialmente
na produção de filés e cortes especiais de peixes de carne branca”, acredita. “O melhoramento
genético e a melhoria na sanidade do ambiente produtivo, como observado em algumas regiões (como o uso de vacinas),
sugerem potencialidade de expansão no setor”.
O segredo do sucesso da tilápia no Brasil está no crescente aumento da aceitação da espécie no mercado consumidor, segundo analisa Renata Barroso. O trabalho detectou que, diferentemente de outras espécies identificadas apenas regionalmente, a tilápia é conhecida e aceita em todo o País e suas vantagens têm provocado o aumento de sua participação no mercado. Além disso, a tilápia é um dos peixes cultivados mais comercializados em todo o mundo. Por esse motivo, a especialista acredita que o aumento do cultivo no Brasil pode levar o País a ser um grande exportador dessa espécie no futuro próximo.
“A produção em cativeiro permite uniformidade do tamanho, essa padronização é muito apreciada pelo varejo”, comenta a especialista. Outra vantagem que a espécie apresenta sobre os peixes oriundos da pesca é a continuidade no fornecimento. A atividade pesqueira possui entressafra ou períodos de defeso em que os peixes não são capturados. Enquanto isso, os peixes cultivados, como a tilápia, possibilitam o fornecimento constante de peixe fresco o ano inteiro.
Associado a esses fatores está o preço competitivo que faz da tilápia concorrente poderoso entre os pescados. Após liderar o mercado de filés de peixe, a espécie agora entra em nicho antes exclusivo de peixes nativos: o consumo de peixes inteiros. Renata explica que, especialmente em cidades litorâneas e ribeirinhas, o consumo de peixe inteiro era exclusivamente de espécies locais. Nos últimos anos, porém, esse hábito está mudando.
“No Rio de Janeiro, por exemplo, há dez anos, tilápia era espécie restrita a cardápios de merenda escolar, de creches ou asilos. Hoje já é encontrada no menu de restaurantes cariocas para consumo do peixe inteiro,” conta ressaltando que o preconceito contra o consumo de peixes de água doce na cidade tornava essa cena impensável no início dos anos 2000. Além dos restaurantes cariocas, os cientistas observaram o mesmo tipo de consumo no Ceará e Espírito Santo. “Encontramos até a tradicional moqueca capixaba feita com tilápia”, revela Renata.
Adequada a grandes e pequenos produtores
A pesquisadora acredita que essa grande aceitação
no mercado nacional faz da tilapicultura um excelente negócio para as regiões em que seu cultivo é permitido.
Somado ao mercado aquecido, a atividade possui outro ponto forte: pode ser lucrativa tanto para grandes como pequenos produtores.
“Encontramos grandes empresas altamente tecnificadas que produzem em larga escala e também pequenas propriedades
em que a tilápia garante renda aos produtores”, conta Renata. Sob esse aspecto, a tilápia é altamente
democrática. A médica-veterinária detalha que o uso de tecnologia aumenta a produtividade, mas a espécie
não necessita de grandes tecnologias e mesmo em sistemas muito simples pode se desenvolver até o tamanho comercial
(entre 600 gramas e um quilo) e garantir retorno aos pequenos piscicultores.
O estudo revelou que as características climáticas de cada região produtora associadas aos recursos empregados em cada lugar impõem diferenças no desempenho de cada polo. O frio do sul do Brasil, por exemplo, provoca um período de entressafra no inverno, época em que a produção é mais prolongada , o que não ocorre nos estados do Nordeste, por exemplo. Por sua vez, uma longa estiagem nos reservatórios cearenses tornou a água escassa naquele estado e provocou queda da produção, com consequente migração de alguns piscicultores ou abandono da atividade, por outros.
Bessa Júnior, criador de alevinos de tilápia no polo cearense de Castanhão, sentiu nos últimos anos os impactos da seca. Quando iniciou sua atividade há cerca de dez anos, comercializava em torno de um milhão de alevinos por mês somente para o Ceará. Atualmente, a produção caiu pela metade mesmo após ampliar sua distribuição para os estados do Piauí, Pernambuco e Bahia. A despeito das dificuldades, Bessa Júnior ainda aposta na tilapicultura e acredita que o negócio voltará a se expandir no Ceará. “Mesmo com a seca, a tilápia tem sido um bom negócio para o criador”, afirma o produtor. Os cientistas comprovaram que Bessa Júnior tem razão. A despeito da estiagem, o Ceará figura como terceiro maior produtor de tilápia do País.
O trabalho descobriu peculiaridades importantes de cada polo tilapiculor. O Polo de Ilha Solteira, na divisa entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, possui o maior grau de intensificação da cultura. Isso é devido ao maior poder de investimento em tecnologia que envolve contadores automáticos de peixes, plataformas para levantar tanques-rede, sistemas de despesca semiautomáticos, classificadores de biometria, sopradores e até alimentadores automáticos movidos a energia solar.
Já na região do Submédio e Baixo São Francisco, foram encontradas as maiores taxas zootécnicas, que englobam dados de desempenho como ganho de peso e conversão alimentar. Os cientistas atribuem esses resultados a uma conjunção de fatores como abundância de luz e temperatura ambiente mais elevada que deixa a água mais quente e propícia para a criação o ano todo.
Seminário
Boa parte dos dados colhidos pelo projeto serão disponibilizados ao setor.
Um dos canais para isso será o Seminário “Demandas e Tendências da Tilapicultura no Brasil”
que ocorrerá de 27 a 29 de junho na Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO). “Também disponibilizaremos
material publicado como devolutiva para o setor. Trata-se de informações que auxiliam tomadas de decisão,
subsidiam políticas públicas e apontam situações que o setor considera gargalos ao lado de uma
série de possibilidades de soluções que apresentamos”, informa Renata.
Fonte: Embrapa
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