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Publicado em 10/02/2017
Pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
e a Universidad de la República do Uruguai trabalham na validação de método de análise
sensorial para o desenvolvimento de novos produtos, levando em conta várias dimensões ligadas ao bem-estar gerado
pela alimentação. A metodologia deve contribuir para a produção de alimentos mais saudáveis
pela indústria, em sintonia com o desejo dos consumidores.
A definição da nova escala de análise
sensorial foi realizada com base em estudos qualitativos com consumidores de sete países: Brasil, China, França,
Portugal, Espanha, Uruguai e Estados Unidos. O objetivo é investigar as diferenças interculturais relativas
à percepção da alimentação, a partir de 31 sentenças/afirmações categorizadas
em seis dimensões principais: bem-estar geral, físico, emocional, intelectual, social e espiritual.
Para
a validação dessa escala global de alimentos associados ao bem-estar já participaram de 1.332 pessoas
dos referidos países. ”Estamos buscando estabelecer uma visão holística para o alimento, para conseguirmos
entender melhor o que leva o consumidor a preferir determinado alimento ou formulação em detrimento a outro.
Queremos estudar a percepção do consumidor em relação ao conceito de bem-estar relacionado à
alimentação em diversos países do mundo”, afirma Rosires Deliza, pesquisadora da Embrapa Agroindústria
de Alimentos, integrante da rede de pesquisa.
Diferenças entre as culturas
A pesquisa
já conseguiu apontar algumas diferenças na percepção do consumidor entre os países estudados.
Na França, por exemplo, os alimentos, de forma geral, estão associados ao prazer; não é à
toa que o país detém uma das culinárias mais apreciadas do mundo. Já na China, a alimentação
associa-se mais fortemente à necessidade fisiológica do que a uma questão ligada à felicidade.
“O consumo de carne bovina no Uruguai remete às questões sociais e culturais muito positivas, ligadas
à tradição do país. No Brasil, o café é bem mais apreciado do que em outros lugares,
por exemplo”, conta Gastón Ares, pesquisador da Universidad de la República, do Uruguai. O estudo contempla
a percepção dos consumidores para nove alimentos: maçã, carne, cerveja, brócolis, bolo
de chocolate, café, peixe, batatas fritas e leite.
A escolha dos alimentos pelo consumidor é um processo
complexo, afetado por numerosos fatores. Pode estar relacionado ao produto como características físicas, químicas
e sensoriais; ao próprio consumidor como idade, sexo, educação, fatores psicológicos e ao contexto
cultural, social e econômico. “Em geral, os fatores externos são mais importantes em situações
nas quais o consumidor não teve uma experiência prévia com o produto, uma vez que a própria experiência
anterior faz com que a avaliação acerca dos atributos internos se torne mais relevantes para a escolha do produto”,
afirma Denize Oliveira, doutora em Ciências de Alimentos pela UFRJ, que desenvolveu achocolatado com potencial funcional
a partir da percepção do consumidor, orientada pelos pesquisadores Rosires Deliza e Amauri Rosenthal, da Embrapa
Agroindústria de Alimentos. A formulação preferida pelos consumidores continha o nível mais elevado
de açúcar e de chocolate dentre os analisados. Esse fato levou a equipe de pesquisadores a propor novos estudos
para reduzir o teor de açúcar em alimentos, sem afetar a aceitação do consumidor.
Produtos
com menor teor de açúcar
Um dos principais desafios atuais da indústria de alimentos é
desenvolver produtos mais saudáveis com reduzidos teores de açúcar, gordura e sal, sem derrubar o consumo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem divulgado vários alertas sobre o risco de obesidade e
doenças crônicas em crianças e adultos, devido à ingestão elevada desses nutrientes. Alguns
países já têm discutido políticas públicas para redução do consumo com taxação
extra. No Brasil, desde 2007, existe um acordo firmado entre Ministério da Saúde e a Associação
Brasileira das Indústrias de Alimentos (ABIA), propondo um cronograma de redução gradativa de sódio
(sal), açúcares e gorduras em alimentos.
Uma das contribuições para essa questão vem da pesquisa desenvolvida por Juliana Peres, no Mestrado
em Ciências do Consumo e Nutrição da Universidade do Porto, Portugal, sob a orientação da
pesquisadora da Embrapa Rosires Deliza. Foram realizados testes de aceitação com consumidores para três
tipos de néctares: néctar de romã e laranja, néctar de maracujá e laranja e néctar
de maracujá.
“Os resultados comprovaram que é possível reduzir o teor de açúcar
nos diferentes tipos de néctares testados, sem que haja alteração na percepção do consumidor.
Comprovou-se também que é possível aplicar reduções ainda mais significativas no teor de
açúcar, mesmo perceptíveis ao consumidor, sem provocar avaliações negativas quanto à
aceitação dos néctares, abrindo caminho para reduções de açúcar significativas
nos produtos de mercado sem causar impactos comerciais expressivos”, afirma Juliana Peres. Sua pesquisa comprovou que
é possível reduzir até 18,4% no néctar de romã, 20% no néctar de maracujá
e laranja e 10,2% no néctar de maracujá sem alterar a preferência do consumidor. “Estudos
comprovam que a redução média de 20% na adição de açúcar de produtos industrializados
não altera a aceitação do consumidor. Nos países nórdicos e europeus, os produtos são
comercializados com conteúdo de açúcar muito mais baixos, comparados aos disponíveis no Brasil.
É um caminho a ser perseguido”, conclui Gastón Ares, da Universidad de la República, Uruguai, que
integrou a pesquisa.
Fonte: Embrapa
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