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SNA debate aplicação de insumos agrícolas na produção de alimentos orgânicos

Publicado em 10/01/2017

Produzir de forma sustentável, com a aplicação de insumos agrícolas permitidos legalmente, nas lavouras de alimentos orgânicos, é um dos principais desafios do setor e o caminho ainda é longo, no Brasil. Essa foi a principal temática do encontro “Produção Agrícola Sustentável – A inovação e tecnologia por meio do uso de insumos”, promovido pelo Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos), da Sociedade Nacional de Agricultura. O evento foi realizado no dia 15 de dezembro, na sede da SNA, Rio de Janeiro.

Durante as palestras e mesas redondas, foram traçados o panorama atual e as perspectivas futuras para o surgimento de novos insumos sustentáveis, para suas utilizações na agricultura orgânica; soluções tecnológicas para otimização do uso de resíduos e biomassa como insumo para fertilidade do solo; adubação biológica; oportunidades para empreendedores; entre outros temas.

Ao dar as boas vindas aos participantes do encontro, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, reafirmou a parceria da instituição com a sustentabilidade no campo, ao manter os projetos Organicsnet e o Centro de Inteligência em Orgânicos, além dos trabalhos de disseminação de conhecimentos e informações, principalmente, por meio das revistas A Lavoura (a mais antiga do segmento no país) e Animal Business (que completou cinco anos).

“Nós, da SNA, promovemos a educação para o campo, por meio dos cursos de extensão livres, oferecidos na Escola Wencesláo Bello (que completará 80 anos, em 2017) e pelo curso de graduação de Medicina Veterinária, ministrado em parceria com a Universidade Castelo Branco (UCB), em nosso campus educacional e ambiental (no bairro da Penha, RJ). Em 2017, iniciaremos novos cursos de graduação em tecnologia de Agronegócio e Comércio Exterior”, informou Alvarenga, acrescentando que “ainda disseminamos informações sobre o agro por intermédio do nosso site, redes sociais (Facebook e Twitter) e revistas”.

De acordo com o presidente da SNA, “o Brasil é campeão em produção agropecuária sustentável”. “Nossos produtores estão produzindo, cada vez mais, com consciência ambiental. Hoje, para exportar nossos produtos agrícolas, muitos países exigem certificações de produção sustentável.”

Ele destacou ainda a adesão, cada vez maior, dos produtores aos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e as pesquisas de novos produtos de controle biológico, em substituição aos defensivos convencionais. “Isso é produzir com sustentabilidade”, reforçou.

Já o vice-presidente da SNA Hélio Sirimarco comentou que “a sustentabilidade é muito importante para o setor agropecuário”. A coordenadora do CI Orgânicos, Sylvia Wachsner, por sua vez, salientou que “o debate é necessário, especialmente para repassar informações a quem está começando nesse tipo de atividade agrícola ou quem precisa sempre aprimorar novas técnicas no campo”.

SEBRAE-RJ

Parceiro do CI Orgânicos/SNA desde 2011, o Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ) ganhou destaque na abertura do evento, quando o gerente de Conhecimento e Competitividade da instituição no Rio, Cézar Kirszenblatt, destacou os trabalhos executados: “Nossa parceria com a SNA é bastante extensa e vem sendo reforçada, ano a ano, por meio da realização de workshops e oficinas. Participamos também do projeto Organicsnet e da divulgação de artigos dos nossos técnicos nas revistas A Lavoura e Animal Business”.

“Essa parceria do Sebrae em torno da produção de alimentos mais sustentáveis é muito importante. A sustentabilidade está crescendo no agronegócio, principalmente em torno de projetos integrados com a agricultura familiar. É necessário olhar as ações do mercado, sempre por meio dessas parcerias”, avaliou Mariângela Rossetto, coordenadora de Alimentos do Sebrae-RJ. “A alimentação mais saudável é um nicho para o mercado, mas para a saúde também”, completou Cézar Kirszenblatt.

AÇÕES DO MAPA

Outro parceiro dos produtores de alimentos orgânicos no Brasil tem sido o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, conforme destacou Alfredo Mager, fiscal da Superintendência Federal de Agricultura (SFA-Mapa), que trabalha na Divisão Política e Desenvolvimento Agrícola do órgão, no Rio.

“Seu sítio ou sua fazenda é um organismo vivo, é um sistema vivo, que deve ser preservado. Os insumos são muito importantes para a transição agroecológica, momento em que se inicia, muitas vezes, com ambientes em desequilíbrio e com o tempo se procura um ambiente menos dependente de insumos externos”, salientou.

Na visão de Mager, “muitos produtores ainda pensam que adotar o sistema agroflorestal (SAFs), por exemplo, é só ter alguns elementos florestais , mas isso vai muito além”. “Os SAFs não implicam somente na utilização de elementos florestais em sistemas de cultivos agrícolas. Envolvem também trabalhar com sistemas mais complexos e menos dependentes de insumos, além de mais eficientes no aproveitamento dos recursos existentes.”​

Durante sua apresentação sobre insumos agrícolas legalmente autorizados no Brasil, o fiscal destacou que o Mapa desenvolveu fichas agroecológicas com as informações necessárias para os produtores de alimentos orgânicos. Ainda ressaltou que a agricultura orgânica não deve se desenvolver por meio da monocultura: “Em novos cultivos, independentemente das culturas, quanto mais biodiversos, menos problemas o produtor terá com pragas e doenças”.

Mager ainda ressaltou que os produtos fitossanitários com uso aprovado para agricultura orgânica são legalmente estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, conforme decreto nº 6913, de 23 de julho de 2009, que alterou a regulamentação da “Lei de Agrotóxicos”. A partir daí, foi criado um registro simplificado para os produtos fitossanitários, que sejam produzidos de acordo com as especificações de referência, estabelecidas e regulamentadas com base em informações, testes e estudos agronômicos, toxicológicos e ambientais.

Ele citou que, atualmente, 169 especificações de referência estão sendo analisadas pelo Mapa; 27 foram publicadas; 64 produtos comerciais já foram registrados; e 27 pleiteiam esse registro, que ainda passa por avaliação. Para mais informações, acesse o site do órgão federal (www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel) ou pelo link (encurtado) ow.ly/7UlB307jIhM.

CERTIFICAÇÃO

Coordenador do Programa de Aprovação de Insumos do IBD Certificações, única empresa certificadora 100% brasileira, com atuação nacional e internacional nas áreas de inspeções e certificações agropecuárias e alimentícias, Álvaro Garcia relatou que o mercado de insumos químicos movimenta, anualmente, algo em torno de dez bilhões de dólares.

Baseando-se em sua experiência de 15 anos na área, ele acredita que substituir os agroquímicos pelo controle biológico ainda é um desafio muito grande para a agricultura orgânica do país, no entanto, há boas notícias para esse setor: “O IBD desenvolve o trabalho de certificação da agricultura orgânica, mas nosso trabalho acaba convergindo, se estendendo para a convencional também. Hoje, no Brasil, existe uma demanda muito grande por novas tecnologias e insumos agrícolas mais sustentáveis para o campo, tanto pela agricultura orgânica quanto pela convencional”, garantiu Garcia, durante a palestra “Panorama atual e perspectivas futuras para surgimento de novos insumos sustentáveis aprovados para uso na agricultura”.

De acordo com ele, atualmente, o Brasil conta com uma lista de insumos autorizados para a produção orgânica. “Ideal seria poder produzir o próprio insumo na própria propriedade, mas ainda não é possível”, ponderou.

Garcia contou que o trabalho de certificação é bem extenso: “Nosso trabalho vai além da avaliação. Ele passa pelo controle de qualidade dos produtos, pela gestão ambiental, agregando mais confiança ao produto final. Para tanto, conseguimos a acreditação da ISO 17065, pelo IOAS (Internacional Organic Accreditation Service)”.

Durante sua palestra, o coordenador do IBD também citou o panorama do Programa de Aprovação de Insumos da empresa certificadora, que vem apresentando um aumento da procura por grandes fabricantes de insumos, que querem aderir ao Programa, graças ao surgimento de novas bases biológicas e a um reforço maior na restrição do uso de defensivos agrícolas, além da tendência de proibição da utilização desses produtos na agricultura, especialmente na convencional.

Em sua opinião, a produção orgânica brasileira passa por um momento interessante: “Temos vivenciado o surgimento de novas tecnologias de bases biológicas para liberação de nutrientes no solo, por exemplo. Com o controle biológico, aumenta a sustentabilidade do agro, principalmente porque, hoje, temos mercados mais exigentes quanto a isso”.

Para Garcia, o atual cenário é de suma importância, porque o aparecimento de novas pragas no campo é maior que a criação de novas moléculas de foco de controle. “Somente com o controle químico, não teríamos alimentos no futuro, assim como temos hoje. Daí, a necessidade de se fazer o controle biológico.”

Para mais informações sobre o trabalho do IBD Certificações, acesse www.ibd.com.br.

RESÍDUOS E FERTILIDADE DOS SOLOS

No encontro do CI Orgânicos/SNA, ao ministrar a palestra “Soluções tecnológicas para otimização do uso de resíduos e biomassa como insumo para fertilidade do solo”, o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – Unidade Agrobiologia (Seropédica/RJ) Ednaldo da Silva Araújo lançou a principal pergunta: “É possível ofertar insumos orgânicos padronizados, com qualidade física, química, biológica e com preços viáveis para uso na agricultura no Brasil?”.

Para o especialista, a resposta é sim, no entanto, ponderou dizendo que, “quando falamos em produção sustentável, precisamos pensar em três eixos: econômico, social e ambiental”.

Conforme Araújo, é importante saber que os “solos do Brasil não são naturalmente ricos em nutrientes”. Por isso, a adubação verde e a compostagem vêm ganhando cada vez mais espaço no meio rural. Ainda assim, ele comentou que alguns insumos destinados à produção orgânica podem sair bem caro para o produtor, a exemplo da torta de mamona, que “é padronizada, fácil de ser guardada e comercializada, mas acaba ficando dispendiosa, porque parte do nitrogênio se perde pela volatilização”.

Por causa disso, em breve, podem surgir novos fertilizantes orgânicos, no mercado, a exemplo do N-Verde, “que tem a mesma eficiência da torta de mamona, é mais barato, mas ainda está em fase de pesquisas”. Para mais informações sobre o trabalho da Embrapa, acesse www.embrapa.br (na busca do site, escreva “adubação biológica” e logo localizará diversos informativos sobre o tema). 

ADUBAÇÃO BIOLÓGICA

Na sequência de palestras ministradas durante o encontro do CI Orgânicos/SNA, o agrônomo Paulo D’Andrea, da empresa Microgeo, destacou a importância da adubação biológica. Apesar dos avanços, em sua opinião, “o grande agricultor ‘está insustentável’, porque a tecnologia não está garantindo sua lucratividade”.

Resumidamente, ele explicou que o meio ambiente é dividido em biogeografia e biodiversidade: “Existem unidades biológicas diferentes dentro de um meio ambiente e isso é biogeografia”.

Produto que leva o nome da empresa, “o Microgeo é um exclusivo componente balanceado que, ao alimentar os microrganismos do conteúdo ruminal em Compostagem Líquida Contínua (CLC®), produz o adubo niológico. Por se tratar de um produto inteligente e 100% natural, MICROGEO® está alinhado com a legislação em vigor e com a preocupação global com a saúde e o bem-estar”, explica a companhia, pelo próprio site www.microgeo.com.br.

MAIS NOVIDADES

Última do encontro do CI Orgânicos/SNA, a palestra “Controle natural de formigas cortadeiras” foi ministrada pelo engenheiro agrônomo Roberto Maegawa, da empresa Bioisca, que funciona em São Paulo (www.bioisca.com.br). Na ocasião, ele apresentou o Bioisca, um produto da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec), localizada na região de Franca (SP). A instituição conta, atualmente, com mais de 2.220 cooperados e 222 funcionários, espalhados por seis unidades na região da Alta Mogiana (SP).

De acordo com Maegawa, “o Bioisca é o primeiro produto natural, disponível no mercado nacional e internacional, com uso aprovado para o controle de formigas cortadeiras, na agricultura orgânica”.

Ele ainda informou que, ao buscar inovações tecnológicas diante de um problema comum para todo produtor rural – a formiga cortadeira –, a Cocapec iniciou estudos de pesquisa, em 2003, com o objetivo de validar um produto que fosse realmente eficaz e com um princípio ativo totalmente natural, que não contaminasse o meio ambiente e agisse de forma sustentável.

Depois de todo o processo de desenvolvimento e pesquisa, a Cooperativa criou o Bioisca, já devidamente registrado pelo Ministério da Agricultura, pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Maegawa ainda garantiu que o produto é fitossanitário, com aplicabilidade aprovada para a agricultura orgânica, por meio da Coordenação de Agroecologia (Coagre), da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC) do Mapa; e certificado pelo IBD Certificações para o combate de formigas cortadeiras.

Para finalizar o encontro, foi promovida uma mesa redonda para debater “As oportunidades para empreendedores em investimentos e inovação na agricultura orgânica e na convencional sustentável”, coordenada por Álvaro Garcia (IBD Certificações), com a participação, entre outras, da bióloga Maria do Carmo de Araujo Fernandes, do Programa Rio Rural, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio).

Em parceria com as engenheiras agrônomas Eliane Conde Barroso Leite e Viviane Ernandes Moreira, ela divulgou, em 2008, a publicação “Defensivos Alternativos”, que pode ser encontrada, gratuitamente, pelo link (encurtado): ow.ly/bJcC307jp6y. Acesse ainda ow.ly/Wtxq307jLjq (link específico do site da Pesagro).

Fonte: Equipe SNA/RJ

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