O que achou do novo blog?
e receba nosso informativo
Publicado em 13/05/2016
A tolerância a alimentos não é uma propriedade nata. O corpo humano a “aprende” nos primeiros
anos de vida. A descoberta vem de um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos e da Coreia do Sul após experimentos
com ratos para compreender mais a fundo as reações alérgicas. O estudo, publicado recentemente na edição
on-line da revista Science, é o primeiro a demonstrar que uma dieta normal estimula as células do intestino
a suprimir a rejeição criada pelo sistema imune. A descoberta pode ajudar especialistas a compreender o fato
de crianças com uma experiência nutricional menos diversificada serem mais suscetíveis a alergias alimentares.
O trabalho concentrou-se numa população de células T que se desenvolvem ao longo do consumo
de novos alimentos, conhecidas como células T regulatórias (Treg). Se elas não existissem, o corpo trataria
as macromoléculas do alimento como estranhas, gerando uma série de reações imunes indesejadas,
o que desencadearia uma doença inflamatória generalizada. No intestino, essas estruturas são chamadas
células regulatórias periféricas, e se especializam em reconhecer alimentos e bactérias ligadas
à alimentação.
Quando nos acostumamos com um novo tipo de comida, o corpo estimula o desenvolvimento das estruturas imunossupressoras
no sistema digestório, bloqueando a resposta inadequada e “acostumando” o organismo àquele tipo
de alimento. “O consumo de sólidos é necessário para induzir as condições de tolerância
imune do intestino que previnem a alergia alimentar”, explica Charles Surh, pesquisador do Instituto de La Jolla de
Alergia e Imunologia, na Califórnia (Estados Unidos), e autor do trabalho.
Para mostrar como isso ocorre,
os pesquisadores usaram ratos livres de antígenos, modificados em laboratório para representar um tipo de sistema
imunológico “em branco”. Os bichos cresceram em um ambiente livre de germes e receberam dieta composta
somente por aminoácidos, os blocos que formam as proteínas presentes nos alimentos. Esses componentes são
muito pequenos para serem detectados pelo sistema imune — portanto, não eram reconhecidos como uma ameaça,
o que acontece com as macromoléculas. O sistema digestório desses animais foi comparado ao de cobaias criadas
com dieta e em ambiente normais.
Menos bactérias
O modelo também foi testado em outra população
de ratos modificados que receberam uma dieta normal, mas foram criados num ambiente livre de germes. As restrições
influenciaram o desenvolvimento do sistema imune dos animais, que contava com as Tregs induzidas pelos alimentos, mas não
com as geradas pelo contato com os micróbios. Os roedores sofreram reações alérgicas ao comer
a proteína do ovo, indicando que é necessário ter os dois tipos de populações de células
regulatórias para evitar alergias alimentares.
“Uma das razões do crescimento da incidência
de alergias alimentares é o aumento da higiene e o uso prevalente de antibióticos na sociedade moderna. Isso
pode ter levado à perda de algumas bactérias que ajudam na completa digestão dos alimentos”, afirma
Surh. Ana Paula Moschione Castro, médica assistente da unidade de alergia e imunologia do Instituto da Criança
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), analisa que os resultados
do novo estudo reforçam que as alergias alimentares têm origem complexa. “Esse estudo fala de uma combinação
de fatores. A microbiota é um fator regulador importantíssimo do sistema imunológico gastrointestinal,
e a variedade da alimentação também”, ressalta.
Para a especialista, os resultados
do estudo com ratos não podem ser considerados como uma referência do sistema imune de humanos, mas indicam o
que alguns especialistas defendem: a restrição alimentar não evita alergias. “Existem estudos mostrando
que não devemos evitar alimentos em crianças não alérgicas pensando que isso vai prevenir alergias.
A família deve proceder como com uma criança normal”, alerta Castro, que também integra a Associação
Brasileira de Alergia e Imunologia.
Veja a matéria completa no Correio Braziliense
Envie para um amigo