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Publicado em 10/08/2015
Bebidas de cereais com bactérias pró-bióticas é o mais novo resultado da pesquisa em processamento de alimentos da Embrapa. Originalmente, o processo foi desenvolvido para a fabricação de bebidas de soja fermentadas, resultando em testes piloto que indicaram a adequação da tecnologia para bebidas de aveia, milho, quinoa, centeio, cevada e trigo.
O produto é fruto do trabalho de pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e
procura parceiros em todo o País para chegar às prateleiras dos supermercados. A Gestão Láctea,
empresa de consultoria e assistência técnica especializada na área de laticínios, vai assinar com
a Embrapa um contrato de cooperação técnica, durante a feira Minas Láctea 2015, que acontece entre
os dias 14 e 16 de julho, em Juiz de Fora (MG).
"A ideia é que a Gestão Láctea atue em conjunto
com a equipe de transferência de tecnologia da Embrapa, identificando empresas potenciais com interesse comercial na
fabricação das bebidas. A partir disso, serão conduzidos testes para validação da tecnologia
de fermentação por pró-bióticos, a fim de realizar adequações específicas
e obter o produto-teste para o mercado", relata André Dutra, analista da Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Equipamentos de laticínios adaptados
As bebidas fermentadas pró-bióticas
foram produzidas a partir de insumos e equipamentos tipicamente usados em laticínios. Utilizam como matéria-prima
extratos em pó dos cereais, em vez do processo tradicional que parte do grão, podendo ser adicionadas de preparados
de frutas como banana, maçã e mamão. O prazo de validade estimado do produto sob refrigeração
é de até dois meses.
"A principal contribuição da pesquisa foi enfatizar
a viabilidade de produção de diferentes bebidas com pró-bióticos utilizando a atual estrutura
dos variados laticínios distribuídos pelo País", ressalta o líder do projeto Eduardo
Walter, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, para quem a tecnologia é uma oportunidade de ampliar
a capacidade produtiva de empresas do setor de laticínos e de diversificar as bebidas ofertadas ao consumidor, utilizando
a logística existente. "Novos empreendedores também podem contratar os laticínios para produção
das bebidas, sem precisar construir uma fábrica ou investir em equipamentos," projeta o pesquisador.
Alimentos
pró-bióticos
O processo tecnológico desenvolvido pela Embrapa para a produção
de bebidas fermentadas pró-bióticas emprega diferentes cepas de bactérias, incluindo Bifidobacterium
animalis subespécie lactis e Lactobacillus acidophilus, culturas comerciais
disponíveis no mercado. O desenvolvimento das bebidas pró-bióticas foi realizado nas fábricas-piloto
de processamento da Embrapa Agroindústria de Alimentos, mas as bebidas também podem ser elaboradas de forma
artesanal, ou seja, em casa, com o uso de diferentes iogurteiras domésticas.
A Embrapa também vem
selecionando bactérias com potencial pró-biótico. Uma delas, da espécieLactobacillos rhamnosus,
proveniente de queijo coalho artesanal, apresentou diversas propriedades promissoras, como ação antimicrobiana
em animais. Essa bactéria já integra a Coleção de Microorganismos de Interesse da Embrapa Agroindústria
Tropical. "Estamos trabalhando em conjunto para buscar bactérias que se destaquem por propriedades relacionadas à
saúde e que sobrevivam a condições simuladas do trato gastrintestinal humano, sendo potencialmente interessante
para a redução do risco de doenças", conclui Karina Olbrich, pesquisadora da Embrapa Agroindústria
de Alimentos.
As bactérias pró-bióticas contribuem para o equilíbrio da flora intestinal,
e os cereais possuem compostos bioativos benéficos à saúde. A soja, por exemplo, é um alimento
consumido há milhares de anos e seu consumo vem sendo associado à redução do risco de câncer,
da osteoporose e dos sintomas da menopausa. "A bebida pró-biótica à base de soja, por exemplo, não
foi desenvolvida para nichos específicos de consumidores, mas é particularmente interessante aos indivíduos
que tenham restrição ao consumo de lácteos, pois pode ser consumida por pessoas que apresentam alergia
às proteínas do leite ou intolerância à lactose", relata a integrante da equipe Ilana Felberg,
pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos e especialista em produtos derivados de soja.
Bactérias
benéficas à saúde
Os pró-bióticos são definidos pela Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial
da Saúde (WHO) como microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios
à saúde do hospedeiro. No Brasil, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
os pró-bióticos aprovados para aplicação em alimentos podem inserir alegação de
propriedade funcional no rótulo do produto: "contribui para o equilíbrio da flora intestinal".
A importância da microbiota intestinal para a saúde humana tem sido demonstrada por várias evidências
científicas. Pesquisadores têm encontrado relação entre a atividade de bactérias intestinais
e marcadores metabólicos associados à obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. Trabalhos
científicos revisados pelo grupo de especialistas em pró-bióticos reunidos pela FAO/WHO relatam a atuação
dos pró-bióticos em funções imunológicas, digestivas e respiratórias, e indicam
efeito no alívio de doenças infecciosas em crianças e outros grupos de risco. Também é
reconhecida a importância desses microrganismos na modulação do sistema imunológico.
No Brasil, já foram iniciados testes in vitro e in vivo para avaliar os benefícios da ingestão regular
de alimentos pró-bióticos. Um recente estudo realizado em colaboração com a Universidade Federal
de Viçosa revelou que uma bebida pró-biótica fermentada à base de leite caprino é eficiente
no controle de diabetes tipo 2. "A ingestão regular da bebida pró-biótica como parte da dieta habitual
dos participantes resultou em uma significativa melhora do controle glicêmico em diabéticos. Contudo, ainda é
preciso a realização de mais testes para ampliar a validação desse resultado", afirma a pesquisadora
Karina Olbrich, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, coorientadora do ensaio clínico conduzido pela Dra. Lívia
Tonucci.
Os alimentos pró-bióticos, por seus potenciais benefícios à saúde,
apresentam uma previsão de crescimento no mercado mundial de 6,8% anualmente até 2018, devendo alcançar
US$ 44,9 bilhões em 2018, segundo o relatório Global Industry Analysis, do Transparency
Market Research (TMR). A publicação Brasil Food Trends 2020 evidencia que as transformações
no comportamento do consumidor em busca de uma alimentação voltada para a saúde e bem-estar devem se
refletir na indústria de alimentos, com a elaboração de novos ingredientes, processos e embalagens que
integrarão produtos com diferenciais competitivos.
Para a indústria de alimentos, os pró-bióticos
apresentam uma oportunidade real de agregação de valor a produtos já consumidos pela população.
Segundo o estudo Probiotics Market de 2013, mais de 500 produtos pró-bióticos foram
lançados na última década. Em consequência do crescimento global do mercado de alimentos pró-bióticos,
o mercado de culturas pró-bióticas também está em expansão. Um número reduzido de
empresas multinacionais de origem europeia divide o mercado global. Por outro lado é interessante observar, na Europa,
o surgimento de empresas de pequeno e médio porte com atuação regional nesse mercado, inclusive startups que
comercializam novas cepas bacterianas pró-bióticas.
Fonte: Embrapa
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