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Projeto desafia restaurantes a usarem sobras em pratos sofisticados

Publicado em 09/04/2015

Projeto desperdício Gourmet, iniciativa da ONG Banco de Alimentos, busca conquistar a adesão de chefs para evitar desperdício

Cascas de fruta, talos de salsinha ou folhas de cenoura costumam ter um destino certo: a lata de lixo. O comportamento não surpreende em um país onde, apesar de muita gente ainda passar fome, toneladas de alimentos são desperdiçados a cada dia.

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            para ampliarMarcelo Schambeck, do Del Barbiere Bistrô, diz que os clientes ficam surpresas ao saber quais ingredientes foram usados nas receitas (Foto: Omar Freitas / Agencia RBS)

Para mostrar que esses produtos desprezados podem viram ingredientes de primeira, o Banco de Alimentos, uma ONG de São Paulo, lançou uma iniciativa de conscientização que divulga receitas e dá caminhos para aproveitar ao máximo cada produto.

Com uma agência de publicidade, a organização criou a campanha Desperdício Gourmet. A ideia é aplicar a atual onda da "gourmetização" a alimentos que normalmente vão parar no cesto de lixo. 

Como parte da campanha, quatro restaurantes gaúchos — Del Barbieri, Chicafundó, Sushi Drive e Al Dente — foram desafiados a criar e servir pratos que usam partes "não convencionais" dos alimentos, como talos, cascas, sementes e folhas.

— Servimos pratos montados, para poucas pessoas, logo nosso desperdício já é praticamente zero. Mas espero que a campanha funcione como uma fagulha — diz Elisa Prenna, que comanda o Chicafundó.

Receita com restos vira a preferida do cardápio

Depois das refeições, os clientes dos restaurantes são provocados com uma pergunta: "Um dos pratos que você comeu hoje foi feito com ingredientes que sobraram do preparo de outros pratos. Você sabe qual foi?". No Del Barbieri, que já serviu receitas como sopa de caldo de arroz (a água em que o arroz integral é cozido) com cogumelos, talos de legumes e palha de casca de batata, os clientes aprovaram.

— As pessoas ficam surpresas. Um grupo disse que o prato com esses produtos que iriam para o lixo foi o melhor do menu — conta o cozinheiro Marcelo Schambeck.

Um terço de toda a comida mundial é jogada fora, segundo o último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). No Brasil, o mesmo acontece com 40 mil toneladas de comida ao dia e com 42% do total das hortaliças colhidas, segundo a Embrapa. Ao mesmo tempo, cerca de 805 milhões de pessoas passam fome no mundo, diz a FAO.

O relatório da entidade afirma que nos países ricos o desperdício ocorre, principalmente, pela imprudência dos compradores. Compram demais e não aproveitam inteiramente os produtos, além de desperdiçar alimentos "feios", mas comestíveis. Já nos países em desenvolvimento, a maior parte das perdas ocorre após a colheita, durante o transporte, devido ao armazenamento ruim, que deixa parte da produção pouco atrativa para os supermercados.

Segundo Alessandro Cochetti, gerente de Comunicação do Banco de Alimentos, o desafio do Desperdício Gourmet é conquistar a adesão de chefs e donos de restaurantes de outros Estados:

— Sempre contamos com parcerias de chefs renomados. Queremos que os protagonistas da gastronomia sejam agentes dessa transformação social.

Receitas com ingredientes alternativos elaboradas pelos chefs podem ser encontradas no Facebook do Banco de Alimentos de São Paulo, na aba de fotos.

Lei atrapalha doação de sobras

A lei brasileira não colabora para combater o desperdício de comida. Como supermercados, indústrias e restaurantes são responsabilizados por possíveis danos causados por seus produtos, eles preferem descartar o excedente a tentar fazer algum tipo de aproveitamento.

A ONG Banco de Alimentos de São Paulo, no entanto, consegue cerca de um terço de suas doações de indústrias, estabelecendo contratos em que se responsabiliza pelos produtos.

O projeto de Lei 4.747, de 1998, conhecido como a Lei do Bom Samaritano, que isentaria a indústria de alimentos de penalizações, continua parado na Câmara dos Deputados.

O Brasil poderia copiar iniciativas que funcionam bem no Exterior. Em Berlim, na Alemanha, existem cerca de cem geladeiras de compartilhamento de comida espalhadas pela cidade. São refrigeradores onde comerciantes colocam comida que iria para o lixo, uma iniciativa organizada pelo site foodsharing.de —, uma plataforma na internet que, há dois anos, dá a seus membros a chance de se conectar on-line com outras pessoas que compartilham comida.

Na Inglaterra, há o projeto The Real Junk Food Project, criado pelo inglês Adam Smith com a brasileira Johanna Hewitt. Eles comandam um café em que as pessoas pagam o valor que quiserem pelas refeições — todas preparadas com ingredientes que iriam para o lixo e que são doados por agricultores e indústrias locais.

Fonte: Zero Hora

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