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Publicado em 02/12/2014
Resíduos de algodão podem ser transformados em nanocristais de celulose para fabricação de telas de celulares e de televisão. Os do sisal têm espaço na indústria de peças automotivas, em substituição ao plástico, ou na construção civil, para reforçar o concreto. Do coco, pode-se fabricar o painel lignocelulósico, um compensado ecológico para fabricação de móveis, divisórias e painéis de isolamento acústico. Tudo isso a partir do que não é aproveitado pelas cadeias produtivas.
A equipe da Embrapa trabalha com um sistema semelhante ao das refinarias de petróleo, chamado biorrefinaria. Os pesquisadores utilizam a biomassa, composta por materiais como celulose, colágeno, lignina, pectina, taninos, amido, ácidos graxos, quitosana, corantes naturais, para obter produtos como energia, materiais e produtos químicos.
"Alguns desses materiais podem ser utilizados para síntese de produtos concorrentes aos derivados de petróleo, como poliéster, polietileno etc., com a vantagem de serem biodegradáveis", explica o pesquisador da Embrapa Algodão (PB) João Paulo Saraiva, que também integra o grupo.
Para apoiar essas ações, foi criado o Laboratório de Tecnologia da Biomassa, em Fortaleza (CE), em um empenho para descobrir fins mais nobres para resíduos derivados de culturas como algodão, coco, sisal, dendê, cana-de-açúcar, além da agroindústria de frutas.
Reduzir o volume de resíduos agropecuários e aumentar o valor agregado de subprodutos da agricultura é o objetivo de diversas pesquisas da Embrapa. "O desenvolvimento e a implementação de processos sustentáveis capazes de converter biomassa em produtos com valor agregado é uma necessidade absoluta para aproveitar resíduos agroindustriais e gerar menor impacto ambiental", defende a pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical, Morsyleide de Freitas.
Uso da casca de coco verde pode diminuir desmatamento
O aproveitamento da fibra e do pó da casca de coco verde já é uma realidade no Brasil. Uma das apostas mais promissoras no que se refere à agregação de valor a esses materiais é o painel lignocelulósico, uma espécie de compensado ecológico. A obtenção desse material envolve uma série de etapas como: desfibramento da casca, obtenção da fibra e do pó, lavagem, secagem, moagem (fibra), formulação (fibra e pó), prensagem e resfriamento.
De acordo com os pesquisadores envolvidos no projeto, os testes de propriedades mecânicas realizados em escala de laboratório apresentaram resultados promissores. Móveis, divisórias e painéis de isolamento acústico podem ser obtidos potencialmente a partir do uso desse compensado, reduzindo assim o desmatamento e dando um novo destino ao que era visto somente como lixo. O passo seguinte é fazer com que esse material ecológico seja produzido em larga escala. Para tanto, é necessário que empresas e indústrias moveleiras tornem-se parceiras da Embrapa para realização de novos testes, dessa vez em escala industrial.
Por conter lignina (um ligante natural), a fibra e o pó da casca de coco verde têm potencial de servirem como matéria-prima na agricultura e na indústria, substituindo fibras sintéticas, podendo ser usados na fabricação de briquetes, substratos, peças artesanais, encostos e bancos de carros.
O beneficiamento do material é feito em uma máquina desenvolvida pelos pesquisadores Morsyleide de Freitas e Adriano Mattos, em conjunto com uma metalúrgica. Hoje, diversos estados possuem unidades de beneficiamento da casca de coco verde que se valem dessa tecnologia. Participam ainda dessa iniciativa como parceiras a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Anualmente, o Brasil produz 2,8 bilhões de cocos por ano. Estima-se que cada fruto gere em torno de 1,5kg de resíduo sólido. Além disso, a água de coco embalada começa a ser vendida no exterior sob um forte esquema de marketing, que reúne nomes de peso do mundo musical, como Madonna e Rihanna. Estimativas mais recentes revelam que, só no mercado nacional, são vendidos 65 milhões de litros de água de coco por ano.
Consumo sustentável
Promover a destinação correta dos resíduos sólidos tem sido um dos grandes desafios enfrentados pelo Brasil nos dias atuais. O País produz diariamente mais de 170 mil toneladas de resíduos sólidos, o que corresponde a 63 milhões de toneladas de resíduos por ano, entre entulho, plástico, papel, vidro e matéria orgânica, que representam mais da metade dos resíduos produzidos. Esses números colocam o Brasil na quinta posição mundial entre os maiores produtores de resíduos, atrás dos Estados Unidos, China, União Europeia e Japão.
Mas, além de aproveitar melhor os resíduos sólidos, é preciso aumentar a consciência dos cidadãos para o consumo sustentável. Nessa frente, entidades como o Instituto Cidade Sustentável (ICS) realizam diversas ações práticas para orientar o consumidor sobre a vida útil dos produtos, o descarte adequado e a coleta seletiva.
"A Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê a responsabilidade compartilhada na geração de resíduos e o consumidor é um dos responsáveis. Ele precisa levar em consideração a destinação dos resíduos, não somente o lixo doméstico, mas também os resíduos industriais e eletrônicos", afirma o presidente do ICS, Paulo Sérgio da Silva.
O instituto tem investido em ações de comunicação para estimular o consumo sustentável e a produção mais limpa, entre agentes dos setores público e privado. Os segmentos prioritários são: educação para o consumo; compras públicas sustentáveis; agenda ambiental para a administração pública; aumento de reciclagem de resíduos sólidos; varejo sustentável e construções sustentáveis. No próximo ano, o foco será a conscientização das novas gerações de consumidores, com ênfase nas escolas.
Veja as tecnologias utilizadas no para o Linter de Algodão e para o Sinal na matéria completa da Embrapa.
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