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Publicado em 28/08/2014
Há relatos de que os óleos essenciais e seus componentes têm sido usados como aromatizantes em alimentos
há séculos. Hoje, sabe-se que podem ser empregados também como antimicrobianos naturais na formulação
de alimentos industrializados, aumentando a segurança no consumo. É o que comprovou trabalho conduzido pela
pesquisadora Janine Passos Lima da Silva, microbiologista da Embrapa Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro
(RJ), em parceria com a Maionese D'Casa, empresa do município de Bom Jesus do Itabapoana (RJ). O trabalho resultou
numa maionese com óleo essencial de orégano que deverá chegar ao mercado nos próximos meses.
Janine testou o óleo essencial de orégano (Origanum vulgare), um antimicrobiano natural, na formulação
de maionese de tipo caseiro com o objetivo de assegurar sua inocuidade. O produto que tinha validade de 28 dias, sob refrigeração,
ganhou um aumento do tempo de prateleira de mais 14 dias. "Esse é o tipo de pesquisa aplicada que traz satisfação
por você poder proporcionar um benefício à sociedade, que consumirá um alimento mais seguro", declara
a pesquisadora.
A Salmonella spp. é o agente etiológico responsável por surtos
alimentares provocados pelo consumo de maionese caseira contaminada por ovos com o patógeno. A maionese não
industrializada tem baixa acidez e não é pasteurizada, constituindo-se em um ambiente propício para proliferação
de microrganismos.Salmonella Enteritidis pode ser destruída por meio de tratamento térmico,
porém a maionese caseira não é submetida ao calor. Isso gera necessidade do uso de outros métodos
para redução ou eliminação do patógeno, dentro do conceito de tecnologia de barreiras múltiplas
que pode ser definida como a aplicação de medidas combinadas de conservação para aumentar a estabilidade
microbiológica e a qualidade sensorial de um alimento, bem como suas propriedades nutricionais e econômicas.
Antimicrobiano natural
O óleo essencial de orégano desestabiliza a membrana
externa da célula bacteriana. Inicialmente, pretendia-se utilizar o óleo essencial em combinação
com nisina, um bioconservador aprovado para uso em alimentos, que posteriormente foi abandonada, pois se comprovou que a atividade
antimicrobiana do óleo essencial de orégano tinha mais efetividade sozinho.
Também foi constatado
que a ação antimicrobiana de óleos essenciais de orégano era maior ou menor dependendo da composição
do óleo, o que varia de acordo com as condições edafoclimáticas de cultivo e da época da
colheita.
A equipe envolvida no projeto "Validação do uso de antimicrobiano natural em maionese como estratégia
de prevenção de surtos de origem alimentar" avaliou cinco óleos essenciais de orégano para verificar
qual tinha maior atividade antimicrobiana e conhecer a composição de cada um.
Os compostos fenólicos
que conferem a atividade antimicrobiana são carvacrol ou timol. No entanto constatou-se que o óleo essencial
de orégano com maior eficiência não era aquele que tinha maior teor de carvacrol ou timol, mas o único
entre os cinco óleos avaliados que tinha para-cimeno e gama-terpineno como elementos traços. Os três compostos
agindo em conjunto, apresentaram maior efeito antimicrobiano contraSalmonella Enteritidis e apontaram qual o
óleo essencial de orégano apropriado para ser incluído na formulação da maionese.
Na sequência da pesquisa, o óleo mais eficaz selecionado foi adicionado à maionese em três
concentrações, as quais foram submetidas a testes sensoriais de preferência com consumidores habituais
do produto convencional. Os dados levaram à definição de aplicar, ainda em escala de laboratório,
a maior concentração que tinha efeito inibitório e era aceito sensorialmente.
Na região
Noroeste do Estado do Rio de Janeiro há um hábito alimentar consolidado na população de colocar
maionese em todos os alimentos. Geralmente, as maioneses eram produzidas em restaurantes, bares e lanchonetes e mantidas em
bisnagas ao alcance dos consumidores, em temperatura ambiente.
O hábito era tão arraigado que,
em 2011, quando a fiscalização sanitária baniu as embalagens do tipo bisnaga, houve uma reação
popular que incluiu a realização de uma inédita "Marcha da Maionese Caseira – Contra a ditadura
da maionese industrializada". Um empresário vislumbrou a oportunidade de negócio de produzir industrialmente
maionese com as características desejadas pelos consumidores locais, assegurando na fabricação, a segurança
estipulada pela legislação brasileira.
Segundo o analista André Dutra, da área de
Transferência de Tecnologia, a empresa se dispôs a colaborar com a pesquisa da Embrapa antevendo a possibilidade
de comercialização de seu produto em mercados mais distantes. "Para isso, era necessário aumentar o prazo
de validade da maionese," conta.
Óleos essenciais
"Os óleos essenciais
são misturas complexas, contendo várias dezenas ou mesmo algumas centenas de substâncias com composição
química variada, obtidos através das técnicas de hidrodestilação ou arraste a vapor ou
prensagem a frio, esta usada para citros", explica Humberto Ribeiro Bizzo, pesquisador do laboratório de Óleos
Essenciais da Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Esses produtos têm aplicações em
diversos setores industriais. No ramo alimentício, entram como aromatizantes naturais para conferir aroma e sabor aos
alimentos industrializados. No setor de perfumaria e cosmética, os óleos essenciais são empregados em
formulações de perfumes, xampus, creme dental, hidratantes e outros. Também servem como aromatizantes
para detergentes e desinfetantes, além de matéria-prima para a síntese de novas substâncias no
setor de química fina.
Ações como esta reforçam a visão de futuro Referência em Produtos Orgânicos proposta pelo Roadmapping da Indústria Agroalimentar, revalidando a ação “Incentivar pesquisas em conservantes naturais” do fator crítico Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico.
Fonte: Embrapa
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